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AJUSTE FISCAL | Quem paga o pato?

Você já parou para pensar, o que é o pato da FIESP afinal? E quando Paulo Skaf, representando um punhado de industriais, diz que não vai pagar o pato, quem vai pagar então?

Evandro NogueiraSão José dos Campos

sábado 9 de abril de 2016 | Edição do dia

O pato da FIESP, segundo eles mesmos, é um aumento de impostos proposto pelo governo Dilma. No manifesto da campanha “não vou pagar o pato” aparece a advertência “Aumentar ainda mais os impostos e trazer de volta a CPMF vai forçar as empresas a fechar um grande número de vagas de empregos.” Mas na primeira página do site da campanha a notícia tranquiliza um pouco o leitor desavisado, “A sociedade já teve uma vitória: o governo federal ainda não conseguiu colocar estes temas em votação.”

Ora, se o pato é um pacote de impostos que ainda não foi votado e que deve ser combatido pela sociedade porque vai gerar um grande número de demissões e desemprego, o que são aquelas 4.451 fábricas fechadas em um ano em São Paulo? E a queda de 10,67% nos empregos na indústria de transformação no Rio de Janeiro? E as 74.061 vagas a menos nesse ramo industrial em Minas Gerais? O que está por trás do discurso da FIESP então?

O pato na verdade já está sendo pago pelos trabalhadores

Em um material da própria FIESP vemos o seguinte gráfico. Nele o que se vê é que a produtividade do trabalho seguiu mais ou menos estável no período analisado, assim como o rendimento médio em reais, destacando-se uma forte queda no rendimento médio do trabalhador em dólares, ficando abaixo da produtividade pelo menos desde o início de 2015.

A queda do valor do real em relação ao dólar (desvalorização cambial) significa um rebaixamento do custo da força de trabalho em dólares, o que faz com que as empresas exportadoras, como as grandes montadoras do ABC, tenham um produto mais competitivo lá fora – a competitividade nas exportações é uma forte bandeira da FIESP. Essas mesmas empresas também são diretamente favorecidas outras com políticas do governo do PT, como o PPE (Plano de Proteção ao Emprego), como já dissemos em outro artigo, “Para se ter uma ideia, segundo o Ministério do Trabalho, cerca de 43,49% dos trabalhadores incluídos no PPE estão no grande ABC. Nessa mesma região, outros duros ataques estão anunciados para os próximos meses, com a possível demissão de 1200 que estão em lay-off até o meio do ano na Volks de São Bernardo, ou os 2300 da GM de São Caetano, que seria demitidos nesse começo de março, mas tiveram o lay-off adiado por mais um mês.”.

Outro efeito dessa desvalorização cambial é sobre os salários. Produtos importados, insumos, tem peso significativo no conjunto da economia brasileira. O real desvalorizado gera um alto custo na importação, que por sua vez gera um efeito em cadeia de aumento de preços em diversos produtos, alimentando a inflação. Com os salários sendo ajustados pouco acima ou mesmo abaixo da inflação, a diferença entre o aumento dos preços e o (não) aumento dos salários, não desaparece no ar, é diretamente embolsada pelos empresários – os trabalhadores estão gastando mais do seu salários com os produtos mais caros.

Nas palavras do próprio Skaf, “a desvalorização do real frente ao dólar foi o único fator positivo para o setor neste ano e, se o câmbio se mantiver na faixa de R$ 3,50, as fabricantes podem ser beneficiadas”. Em outro gráfico, no mesmo material, vemos como o custo unitário do trabalho em dólares, que é calculado como o diferencial entre a variação real média e a variação da produtividade, caiu significativamente nos últimos anos. Isso ajuda a ver a intensidade do que dissemos acima, pois enquanto o trabalhador está produzindo tanto quanto antes (ou mais, na verdade, tendo em vista as crescentes demissões), está custando mais barato e está gastando mais, seu salário está valendo menos. A busca da FIESP por competitividade implica numa dura deterioração das condições de vida dos trabalhadores. Isso é o pato e quem está pagando por ele.

Enquanto Skaf com seu pato representa um dos setores destacados na política do impeachment, a verdade é que a política da CUT, com ACE e PPE é para favorecer a FIESP e não os trabalhadores. A FIESP investe no impeachment para favorecer ainda mais os patrões, pois sabe que Dilma e o PT não estão interessados em se chocar com os interesses patronais. Tantos ataques passam nas fábricas porque centrais sindicais como CUT, CTB etc. atuam a serviço dos interesses patronais, pois organizando ações de luta nas fábricas contra as demissões, retiradas de direitos e em defesa de seus salários, essas centrais poderiam contribuir seriamente para uma alternativa independente, constituída pelos trabalhadores, que não aceitaria esse impeachment de quem quer atacar mais, enquanto tão pouco aceitaria passivamente tantos ataques e deterioração das condições de vida. Por isso nós do MRT defendemos que seja construído um plano de lutas com esse posicionamento a partir da CSP-Conlutas e que a CUT e demais centrais abandonem sua política de implementar ataques e imobilizar os trabalhadores.




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