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ELEIÇÕES UFABC | Em eleição histórica na UFABC, Faísca conquista 5 delegades e 584 votos por entidades independentes da reitoria e do governo

Nesses dias 21 e 22 de Junho, ocorreram as eleições para a próxima gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e para eleger 18 delegades para o 59º Congresso Nacional da UNE. Uma eleição histórica, com aumento do quórum votante (1.953), onde se enfrentaram trotskistas e stalinistas. A chapa comunista Desafiando a Miséria do Possível, impulsionada pela Faísca Revolucionária junto a apoiadores independentes com uma maioria de LGBTs e uma novidade de 9 pessoas trans na linha de frente da chapa, conquistou 30% dos votos, elegendo 5 delegades.

segunda-feira 26 de junho de 2023 | Edição do dia

As eleições da UFABC que acabaram nesta última quinta-feira (22), contou com a primeira participação da Faísca Revolucionária que apresentou a chapa Desafiando a Miséria do Possível buscando contribuir com ideias comunistas para forjar um movimento estudantil aliado aos trabalhadores e independente da Reitoria, dos governos, em especial o Governo Lula Alckmin e dos patrões. Na universidade de um dos principais polos industriais do país, conquistamos 584 votos para desafiar a miséria do possível daqueles e daquelas que tem um estreito horizonte marcado pelo o que os acordos a portas fechadas e as negociações podem oferecer.

Fizemos uma grande agitação em defesa da permanência sem precarização, apontando como esse projeto de universidade petista tem a terceirização e precarização da permanência como um dos seus pilares fundamentais. Não é possível avançar nas demandas estudantis sem enfrentar a terceirização, que reduz funcionários, dobra suas jornadas de trabalho, e demonstra como o lucro está acima dos nossos interesses. Denunciamos nos dois campus que as terceirizadas que recebem os piores salários são as que tem que pagar 14,88 para se alimentar na universidade, e defendemos a redução radical do valor do RU, com um preço único para toda a comunidade universitária, ampliação do horário até as 21h, abertura nos fins de semana e feriados, junto da redução da jornada de trabalho e mais contratações de funcionários. Assim como vamos seguir a batalha pela efetivação de todes sem necessidade de concurso público.

As eleições ocorrem também em um momento particular do nosso país. Após anos de profundo reacionarismo com o fortalecimento de setores bolsonaristas e do autoritarismo do regime, tivemos a saída do governo de extrema direita da presidência e a chegada de uma frente ampla cheia de golpistas e reformadores da educação que, por sua vez, já vem demonstrando o preço da conciliação de classes. As reformas de Temer e Bolsonaro seguem intactas e não serão revogadas, como a da Previdência, trabalhista e o Novo Ensino Médio, mas vai além. A votação da base do governo no Marco Temporal e a elaboração pelo próprio PT de um ataque neoliberal como o Arcabouço Fiscal, que foi aprovado no Senado no último dia de urnas abertas na UFABC, colocam a magnitude das tarefas do movimento estudantil nacionalmente, e o papel que o DCE da UFABC pode cumprir no próximo período. Semanas antes, Lula havia pisado na UFABC junto com Camilo Santana, Haddad e Orlando Morando para inauguração do Bloco Zeta no campus de SBC, mas não falaram nada dos ataques em curso.

As eleições na UFABC ocorreram apenas entre duas chapas: Chapa 1 Desafiando a Miséria do Possível (Faísca Revolucionaria + Independentes) e a Chapa 2 Estudantes na Luta - Oposição (Correnteza (UP), UJC (PCB), MES e Travessia (PSOL). A gestão sainte do DCE composta pela UJS, PT, PV, REDE, PDT e PSTU não apresentou chapa, uma demonstração da falta de coesão dessa gestão que se elegeu em base ao desgaste do Correnteza e seus métodos burocráticos, mas que não apresentava uma alternativa, como debatemos aqui, uma vez que na cabeça da chapa estava a UJS e o PT que ironicamente se intitulavam “Oposição” em 2022, sendo que nacionalmente eles são a direção majoritária da UNE que diretamente encabeça as concepções burocráticas e institucionais que privilegiam acordos com gente como Rodrigo Maia, Simone Tebet e mesmo o ladrão de merendas Geraldo Alckmin, ou o monopólio da meia entrada, ao invés de organizar a nossa luta pela base para que o movimento estudantil seja uma força social para defender os nossos direitos ao lado dos trabalhadores.

As batalhas prévias na UFABC até apresentar uma chapa Comunista que luta por um movimento estudantil aliado aos trabalhadores, não subordinado à reitoria e ao governo Lula Alckmin

Apesar de ser a primeira eleição da Faísca Revolucionária, viemos de importantes combates na universidade, como pudemos apresentar no debate de chapas. Estamos junto ao coletivo LGBT Prisma desde a luta pelo direito ao uso do banheiro de acordo com o gênero auto reconhecido que teve início na brutal denúncia da demissão de uma trabalhadora trans terceirizada que era proibida de limpar o banheiro feminino e ter seu nome social reconhecido, até a aprovação das cotas trans.

Nas Assembleias em meio as eleições de 2018, batalhamos para que o DCE buscasse se dirigir as imensas concentrações operárias da região do ABC para construir um caminho da luta de classes contra as medidas autoritárias do STF que, após seu protagonismo no golpe institucional, manipulava as eleições para favorecer o Bolsonaro com a prisão arbitrária do Lula e sequestro dos votos no nordeste. Em 2021, batalhamos para que o DCE junto ao Sintufabc e a Adufabc organizasse uma Assembleia dos três setores para organizar o retorno presencial após o controle da pandemia do Coronavírus, com uma carta pública impulsionada pela Faísca com mais 14 entidades, o que foi ignorado pela gestão do DCE, na época composta majoritariamente pelo Correnteza, que preferiu fazer campanha para o Reitor, mostrando a sua subordinação a essa estrutura de poder autoritária. Essa foi a mesma reitoria que assim que retornaram as aulas deixou alunes passando fome sem o RU aberto e não liberou es terceirizados durante a pandemia.

Em setembro, aprovamos em Assembleia virtual um chamado à UFABC compor um bloco Classista nas manifestações pelo Fora Bolsonaro, sem se diluir com o PSDB e outros setores burgueses que se somavam aos atos, uma batalha fundamental pela independência política, que apesar de aprovado, não foi cumprido pelo DCE. E em meio a essas manifestações, o Correnteza votou junto à UJS contra a exigência que as assembleias por todo país garantissem o direito de voz e voto aos estudantes.

Denunciamos os métodos burocráticos do Correnteza no calendário eleitoral para o DCE de 2022, em meio a um feriadão com um abaixo assinado com mais de 170 assinaturas, exigindo adiamento do calendário eleitoral. Também impulsionamos um Comitê em Apoio a Greve da GM que apesar dos recorrentes chamados, a gestão do DCE em 2021 com o Correnteza a frente não participou, além da campanha de fotos em apoio a Mercedes. Além de termos realizado iniciativas de grupo de estudos, como o Marx Voltou, e palestras sobre a luta LGBT anticapitalista e publicamos o livro Mulheres negras e Marxismo e Nós mulheres o proletariado como parte dos aportes do Pão e Rosas para pensar a relação entre gênero, sexualidade e marxismo. Participamos dos atos nacionais contra os cortes na educação e nas recentes eleições nacionais, chamamos os estudantes a não seguir o caminho do PT de conciliação de classe e confiarmos nas nossas próprias forças para enfrentar a extrema direita com greves, piquetes e ocupações.

Chegamos nesse processo eleitoral, questionando a lógica burocrática que permitia que os ingressantes tivessem apenas uma semana para montar suas chapas, e travamos um combate especialmente sobre a cota de gênero que não poderia ser restrita à cisgeneridade, mas que teria de abarcar todas as identidades transfemininas, sem necessariamente o enquadramento binário da identidade “mulher.

Essa trajetória só foi possível pela decisão correta de não nos diluir numa chapa conjunta com a UJS que está na direção da UNE e diversos partidos burgueses como fez o Rebeldia (PSTU), que passou a gestão toda subordinada à política de conciliação e dentro de uma entidade estudantil que defendeu abertamente a frente ampla, o que era no mínimo contraditório já que ao mesmo tempo impulsionavam o Polo Socialista e Revolucionário que tinha como objetivo a reorganização da vanguarda em defesa da independência política da classe trabalhadora.

Trotskistas x Stalinistas: Tradições e práticas no movimento estudantil

Apesar de recorrentemente as organizações do movimento estudantil buscarem despolitizar os debates escondendo a relação entre as tradições teóricas e históricas dos movimentos e a sua relação com a sua prática política, nós da Faísca que impulsionamos a Chapa 1 buscamos demonstrar em cada um dos debates de chapa (que estão públicos aqui, aqui, aqui e aqui) a profunda relação entre o Correnteza e a UJC com a sua tradição reacionária stalinista de conciliação de classes, e de como isso pode ser visto de maneira categórica nas eleições da UFABC.

Em primeiro lugar, na sua relação com as entidades estudantis, que são ferramentas de organização do conjunto dos estudantes, e como parte das gestões de 2017 até 2022, o Correnteza tratava como sua “colateral”, organizando apenas seus próprios militantes e realizando assembleias e atividades para eles mesmos. A UJC esteve a frente da última gestão do CA BCH e simplesmente abandonou a entidade sem sequer convocar novas eleições, o que só está ocorrendo agora devido a refundação do centro acadêmico.

Nós, por outro lado, batalhamos por entidades que sejam proporcionais, onde cada chapa possa ser representada proporcionalmente ao número de votos recebidos na gestão, permitindo que todes es estudantes sejam representados e que a experiência se acelere com as distintas concepções e programas pro movimento estudantil permitindo ver qual efetivamente contribui para defender os nossos direitos. Assim como por entidades que impulsionem a auto-organização, incentivando as assembleias por curso onde cada estudante consiga se expressar, votar suas propostas e encontrar nas Assembleias Gerais um espaço de troca de reflexões já aprofundadas e em conexão direta com a base dos cursos.

Além do conservadorismo que é presente até hoje, seja na posição reacionária da Unidade Popular de ser contra a legalização das drogas que nos debates de chapa precisou chamar o Juntos/MES pra defender uma posição menos parecida com o PROERD, ou no escândalo da posição transfóbica que tiveram no dia da visibilidade trans que é uma herança direta do papel reacionário da burocracia stalinista na descriminalização do aborto e da homossexualidade na URSS. E nós, que especialmente na UFABC, a única universidade do sudeste onde aprovamos as cotas trans, fizemos questão de colocar como centro da nossa campanha, tendo anteriormente organizado uma atividade de prontidão a debater o papel do movimento estudantil no combate a transfobia, sequer deram o trabalho de ir realizar uma autocritica.

Ao longo da campanha, foi ficando evidente que a Chapa 2 Estudantes na luta Oposição não se tratava de nenhuma oposição, mas sim a chapa da reitoria. Além de terem feito uma campanha ativa para a chapa Dácio-Monica com vídeo de Isis Mustafa (Correnteza) e Sara Lorena (ex-presidente do DCE pelo Correnteza) que também recebeu apoio de ninguém menos do que o prefeito de Santo André, Paulo Serra. Em seus materiais faziam coro com a ideia de “melhor das federais” e seu nível de “excelência”. Tratavam como invisíveis os trabalhadores terceirizados, ao ponto de em meio as denuncias de trabalhadoras do RU fazerem jornadas de 12 horas, eles colocarem como eixo da campanha “cafés da manhã” como denunciamos, e depois, fruto da nossa denuncia, passaram a defender ‘gestão pública do RU’ o que na prática significaria a demissão das trabalhadoras terceirizadas submetendo-as a um concurso público, mesmo que há anos estas comprovem todos os dias a sua capacidade de realizar o seu trabalho.

Apesar do Correnteza estar à frente do DCE de 2017 até 2022, foram os comunistas da Faísca que pela primeira vez fizeram ecoar a denúncia do projeto de universidade petista que tem como um dos seus pilares a terceirização, que não atoa, é parte fundamental do legado dos governos petistas onde a terceirização saltou de 4 milhões para 12 milhões.

Outra relação direta com a sua prática política e a sua tradição stalinista de conciliação de classes está na sua compreensão de “frente popular” com setores da burguesia para “combater o fascismo” que ficou materializado na participação deles junto a Joice Hasselmann e MBL no pedido de impeachment ou na Marcha Evangélica onde o Péricles esteve junto a Tebet, Marina Silva e Lula contra Bolsonaro.

A composição da chapa com setores do PSOL como MES e Travessia ficou evidente somente durante a campanha, o que escancarou a falta de independência sobre o governo Lula Alckmin, uma vez que o PSOL ocupa diretamente um dos ministérios do governo e tem um parlamentar como vice líder da Câmara dos Deputados. Mas a Unidade Popular também está atrelada ao governo, tendo um dos seus principais dirigentes, Alexandre Nogueira Feitosa, no gabinete de Natalia Bonavides, uma deputada federal do PT que votou pela aprovação do Arcabouço Fiscal. Como é possível lutar contra os ataques deste governo de frente ampla dando as mãos para quem nos ataca?

A batalha des trotskistas da Faísca é parte de forjar um movimento estudantil independente da Reitoria, governos e patrões, pois como explicou nossa camarada Virginia, esse caminho de conciliação de classes foi o que fortaleceu a extrema direita no nosso país. Por isso, publicamos no ínicio de 2022 uma carta de contribuição ao debate de projeto de universidade contrapondo esse projeto petista à uma defesa de uma UFABC à serviço da classe trabalhadora e do povo pobre. E com muito orgulho defendemos a política de voto nulo para Reitor buscando debater com os estudantes sobre como era um absurdo que em pleno 2023, a grande maioria da universidade não se expresse como tal, e exista um REI(tor) que governe por cima da universidade, administrando esse projeto elitista marcado pelo vestibular, e de super exploração com a terceirização, onde a reitoria faz uma “homenagem” aos terceirizados, enquanto os mantem sem igualdade salarial e direitos. Ao contrário da chapa da Correnteza, nós da Faísca Revolucionária defendemos que a reitoria sequer deveria existir: essa estrutura de poder arcaica e antidemocrática precisa ser combatida, por isso lutamos pra que a universidade seja controlada proporcionalmente por todos os setores que realmente compõem a universidade, pelos estudantes e trabalhadores.

É urgente refundar a Oposição de Esquerda na UNE independente dos governos e reitorias

Essas batalhas que travamos apresentando um projeto de universidade à serviço da classe trabalhadora e do povo pobre, buscando questionar a terceirização como pilar da precarização da permanência estudantil e de divisão entre estudantes e trabalhadores foi parte fundamental da contribuição que queremos levar ao 59º Congresso da UNE. Os panfletaços no RU e no Fretado, explicando que nossa raiva pelas filas demoradas, o alto preço do RU e a falta de permanência precisam ser dirigidos contra a Reitoria e os governos, que temos que lutar por mais dinheiro pra educação e não pros banqueiros e que precisamos de entidades verdadeiramente combativas, proporcionais e aliada aos trabalhadores para organizar as nossas. São lutas são batalhas que travamos não apenas na UFABC, mas nacionalmente, em cada universidade onde a Faísca Revolucionaria atua.

Agora frente ao 59º Congresso da UNE e os desafios que tem o movimento estudantil nacionalmente, queremos unir esforços com outras organizações e todes aqueles que acreditam que é preciso refundar a Oposição de Esquerda para que ela realmente possa cumprir um papel de superação das burocracias que são um entrave para a nossa organização.

As eleições na UFABC são uma demonstração clara de que é fundamental refundar a Oposição de esquerda da UNE independente dos governos e reitorias, uma vez que o Movimento Correnteza e os setores do PSOL e PCB que compõem a Chapa 2 “Estudantes na Luta Oposição” e agora são a atual gestão do nosso DCE se apresentam como “Oposição”, mas demonstraram em toda sua campanha de como não podem cumprir esse papel. Primeiro, porque na campanha buscaram não politizar o debate, nem apresentar os debates nacionais e as tarefas da Oposição de Esquerda. Não tinham um único exemplo do papel de uma Oposição para mostrar em mais de 5 anos que estiveram a frente do DCE, o que pelo contrário, toda a sua atuação na UFABC só gerou um desgaste que acabou por fortalecer a majoritária da UNE.

E quando não tem a majoritária da UJS e PT concorrendo às eleições, essas correntes assumem para si a posição de buscar institucionalizar o movimento estudantil a este horizonte estreito de alianças com a reitoria e prestando apoio político ao governo Lula-Alckmin que nos ataca ou trabalhando em gabinetes de deputadas que votaram pelo arcabouço fiscal.

Chamamos todos os estudantes que concordam com essa perspectiva, todos aqueles que votaram e concordam com essas ideias a seguir junto a Faísca essa batalha em defesa de um ME aliado aos trabalhadores, impulsionando o Manifesto Contra a Terceirização. Por isso, estamos organizando reuniões em Santo André e São Bernardo de preparação ao 59º Congresso da UNE.




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