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Em comunicado à imprensa, reitoria da USP anuncia que levará ao Conselho Universitário nova proposta de corte de R$370 milhões no orçamento da universidade. Valor supera estimativa de todos os gastos extra-pessoal até o fim do ano. USP ainda mantém reserva de R$1,4 bilhões.

domingo 5 de junho de 2016 | Edição do dia

Em comunicado sobre deliberação do Conselho Universitário de reajuste salarial de 3% (contra uma inflação de 10,04%, e congelamento de benefícios pelo quarto ano), o reitor da USP, Marco Antonio Zago, afirma que o orçamento votado no fim de 2015 será revisto, para compensar o custo do reajuste, de R$ 80 milhões, e a queda na previsão de arrecadação de repasse do Estado, equivalente a R$290 milhões. "Assim, na próxima reunião do Conselho Universitário, vamos readequá-lo considerando corte adicional de R$ 370 milhões", afirma no comunicado.

Zago afirma ainda que "Considerando que todos os nossos gastos saem da mesma fonte – salários, contratações de novos professores e de novos servidores, despesas com creches, com o Hospital Universitário, com o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, com subsídios aos restaurantes, com permanência estudantil, com pagamento de contas de luz, telefone, água, etc. e com obras – é inevitável que a ampliação das despesas em um item represente corte de gasto em outro."

Para Bruno Gilga, representante dos trabalhadores no Conselho Universitário (CO), "O que Zago está fazendo é uma chantagem, uma tentativa de fazer escolher entre coisas fundamentais - salário ou hospital, creche e restaurante ou reposição de professores e funcionários -, ou ainda colocar a responsabilidade do desmonte da universidade no reajuste salarial. É uma farsa ridícula, já que por um lado o reajuste proposto pelo CRUESP e aprovado pelo CO é rídiculo - termo usado por um dos reitores no CRUESP pra se referir a sua própria proposta -, e por outro já está em curso o desmonte das unidades que o reitor cita: Zago já fechou todas as vagas nas creches nos últimos dois anos, aprovou a desvinculação do HRAC da universidade, fechou grande parte dos leitos, do pronto socorro e dos serviços do HU e volta a propor sua desvinculação, terceirizou a maior parte dos restaurantes, congelou todas as contratações há mais de dois anos, o mesmo com a verba de permanência estudantil".

"Nem fechando a universidade até o fim do ano"

Para que se tenha ideia do que representa o valor de R$370 milhões que Zago propõe cortar, no orçamento aprovado a soma de todos os gastos com custeio e capital, das creches, dos dois grandes hospitais, de todos os restaurantes, e com toda permanência estudantil (moradia estudantil, alimentação, auxílio livros e transporte, e incluindo ainda todas as bolsas de estudo) chega a R$137,6 milhões, menos da metade da proposta de corte. Para chegar a tanto, seria preciso incluir na conta todo o orçamento - de verbas de ensino, pesquisa e extensão, a gastos com materiais, equipamentos, reformas, treinamentos, passando por uma série de outros itens - de todas as mais de quarenta unidades de ensino de toda a USP, capital e campi do interior, cuja soma chega a outros R$242,5 milhões. A isso equivale o corte de R$370 milhões proposto por Zago, a verba de todas as unidades de ensino e pesquisa, hospitais, restaurantes, creches e permanência estudantil, durante todo o ano de 2016. Mas como o corte se aplicaria somente sobre os gastos da segunda metade do ano, cortar tudo isso ainda chegaria somenta à metade da proposta de Zago. De fato, o total dos gastos da USP, para além da folha de pagamento, no orçamento do ano, é de R$670 milhões. O corte proposto supera a metade do valor, e portanto a estimativa do total de gastos da USP com custeio e capital até o fim do ano.

"O que Zago propoe não se alcança nem fechando a universidade até o fim do ano", diz Bruno Gilga. E continua, "o que Zago quer com essa proposta é fazer terrorismo, pois a universidade tem dinheiro na reserva, para convencer de que não pode repor a perda da inflação nos salários, e que o desmonte é necessário, e justificar a demissão em massa que quer continuar, depois de ter cortado cerca de 2 mil postos de trabalho, a maioria através de um PDV". Segundo a USP, sua reserva era de de R$1,4 bilhões no mês passado, e seu plano é fechar o ano com cerca de R$900 milhões na poupança.

"Alckmin não repassa as verbas das universidades"

Bruno Gilga rebate os argumentos da reitoria: "Por um lado se gasta rios com privilégios para os dirigentes, e negociatas com fundações e empresas terceirizadas. Por exemplo, o ex-chefe de gabinete do reitor, Osvaldo Nakao, que declarou que as creches seriam fechadas para economizar dinheiro, aderiu ao PDV que ele mesmo ajudou a realizar, embolsou de indenização o equivalente a metade do orçamento anual de todas as creches da USP juntas, capital e interior, e manteve o mesmo salário! Por outro lado, há uma crise de financiamento. Há muitos anos o Fórum das Seis, que reúne as entidades de trabalhadores, professores e estudantes das três universidades estaduais, alerta para esse problema, e para a necessidade de reestabelecer o financiamento recebido pelas universidade na época em que conquistaram autonomia, equivalente a 11,6% do ICMS, sendo que hoje o repasse está um quinto abaixo disso. Os reitores sequer apoiam essa reivindicação. Além disso, nem mesmo denunciam que o governo Alckmin, que estabeleceu compromissos de financiamentos complementares com as universidades, pela incorporação ou criação de novos campi, como Lorena e USP-Leste, no caso da USP, simplesmente não cumpre esses acordos. Nem sequer a lei o governo cumpre, há anos tem repassado menos do que os 9,57% do ICMS que manda a lei. O governo do ladrão de merenda tem roubado também da universidade. Pelos cálculos do Fórum das Seis, o desfalque foi de cerca de R$573 milhões só nos últimos dois anos, e mais da metade viria para a USP. Valor próximo ao que Zago, que não diz nada sobre isso, quer cortar através de mais desmonte e arrocho".




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