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A preferida do Partido Democrata não consegue captar os votos das jovens feministas que veem nela a candidata do establishment norte americano e a continuidade da velha casta política que não as representa.

quinta-feira 31 de março de 2016 | Edição do dia

Apesar dos esforços de Hillary Clinton em fazer um chamado feminista e conquistar o voto das mulheres para se afirmar como a candidata do Partido Democrata nas primárias que se definirão em junho desse ano, um amplo setor de jovens mulheres decidiu lhe dar as costas, o que gerou um debate portas adentro do feminismo nos EUA (84% dos jovens menores de 30 anos votou em Bernie Sanders).

A geração do milênio, como são chamadas as jovens nascidas depois de 1980, são parte de uma geração extremamente qualificada, com grandes problemas econômicos e de emprego, desencantadas dos partidos tradicionais e sua incapacidade de resolver os problemas diários. Autodenominam-se feministas, e lutadoras, e por mais que lhes agradasse uma mulher representando a elas e a seus direitos na Casa Branca, pensam que há outras prioridades que não são definidas pelo gênero da pessoa que governa.

Para elas, são os eixos da campanha de Bernie Sanders que representam suas demandas. Para essas jovens feministas, combater o racismo, mudar as leis migratórias atuais, ingressar em uma universidade pública, conseguir o aumento dos salários mínimos e obter a reforma da justiça criminal são questões que significariam mudanças reais na vida de milhares de mulheres, e isso é o que as aproxima de Sanders e não de Hillary, a quem veem como uma continuidade da velha casta política que nada tem a ver com suas aspirações.

A geração do milênio, nascidas e criadas durante os dois mandatos da administração de Bill Clinton veem Hillary Clinton como uma republicana disfarçada, que defende as corporações em detrimento das classes médias e trabalhadoras. Simplesmente não confiam na candidata do establishment. "Não importa que Hillary seja uma mulher. Importa que não é o nosso tipo de mulher", escreveu Molly Roberts, colunista da revista estudantil de Harvard, para explicar por que as jovens não seguiam a primeira dama. A estudante sustenta que o feminismo mudou, sobretudo nos campi das universidades. "Pode ser que Clinton seja uma mulher, mas também é branca, rica, privilegiada e heterossexual", completa. Por essa razão, Roberts disse que muitas votantes consideram que, ainda que Hillary possa entender algumas das preocupações das mulheres, não entende os problemas daquelas que sofrem opressões, como as pobres, as que não são brancas e as que não são gays.

Essas jovens não esquecem o longo histórico político de Hillary, muito longe de seu discurso progressita. Ainda que agora ela se mostre como uma defensora dos direitos da comunidade LGTB, foi ela quem fez um acalorado discurso em defesa dos valores tradicionais da família como resultado da união entre um homem e uma mulher, posição que rapidamente mudou quando a demanda de casamento igualitário recebeu apoio de amplos setores dos EUA, especialmente da juventude.

Tampouco se esquecem que foi durante o governo de Bill Clinton que houve o apoio de leis como DOMA, que declarava que nenhum estado estava obrigado a reconhecer uma relação entre pessoas do mesmo sexo como válida, ou a reforma da lei do sistema criminal de 1994 que gerou milhares de prisões e abusos policiais, massivos entre os jovens estudantes e trabalhadores negros e latinos.

Hillary Clinton foi CEO do Walt Mart e defensora da lei patriota. Essas posições e as decisões que apoiou, fizeram com que a definissem como a candidata do establishment estado-unidense. Enquanto ocupou o cargo de primeira dama e logo diretamente como senadora, Hillary apoiou o endurecimento do bloqueio econômico a Cuba, as sanções no Iraque que significaram a morte de meio milhão de crianças, os bombardeios e a guerra nos Bálcãs, e todas e cada uma das intervenções militares no Iraque e Afeganistão. Já como Secretária de Estado de Obama, esteve a frente da resposta dos EUA à primavera árabe com a intervenção militar na Líbia, que desencadeou a atual crise migratória e tem como setor mais vulnerável centenas de mulheres e crianças que tentam entrar na Europa com a esperança de fugir da guerra.

Tradução: Pammella Teixeira.




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