×

28N | Em São Paulo, a luta contra a privatização é um combate de consequências nacionais

Um que está em curso nesse momento em São Paulo, é mais do que o destino dos serviços públicos do estado, é um embate preparatório entre frações de classe que disputarão os destinos do país e do regime político nos próximos anos

Thiago FlaméSão Paulo

sexta-feira 24 de novembro de 2023 | Edição do dia

A política paulista está particularmente agitada nestes dias, mais no ritmo dos bruscos eventos climáticos do que das tendências que primam na situação nacional de conjunto. São disputas que antecipam em grande medida e tensões da política nacional. Na luta contra a privatização, especialmente na ação de resistência dos metroviários, a classe trabalhadora surge embrionariamente como um potencial sujeito político no enfrentamento a extrema direita com a qual o governo Lula pactua e integra.

No pano de fundo estão as eleições municipais do ano que vem que terá em São Paulo seu palco mais nacional. Pela frente ampla, Tabata Amaral apoiada por Alckmin, compete pelo protagonismo da aliança com Boulos e o PT. No campo da extrema direita, o atual prefeito tenta, cada vez mais debilitado representar as tendências mais institucionais e Ricardo Sales corre por fora, buscando ressuscitar o radicalismo bolsonarista.

Essas cinco tendências políticas vão determinar o rumo político do país e o embate em São Paulo é preparatório neste sentido. Se a massificação da luta impusesse uma derrota ao planos de Tarcisio isso daria um impulso as lutas e greves em todo o país, fortalecendo cada setor que trava lutas isoladas como os povos indígenas. Seria um serio obstaculo aos pactos com a direita e ao programa neoliberal levado adiante pelo governo Lula, debilitada até mesmo a autoridade do judiciário que decreta sistematicamente as greves dos transportes como ilegais, posicionando com outra força a classe trabalhadora nacional para os embates que virão.

Também depende desse processo vivo da luta de classes o futuro dos outros sujeitos. Um Nunes hoje muito debilitado depois do apagão da Enel poderia se fortalecer com o triunfo do projeto privatista, enquanto outros resultados mais contraditórios podem ser aproveitados de diferentes maneiras por Boulos ou Tabata. Seja qual for o desenlace desta batalha, uma coisa é certa: a luta contra as privatizações está no centro do debate político paulista na arena paulista se cruzam muitas tendências que cruzam todo o regime político nacional. De forma nenhuma é conveniente para o governo da frente ampla, e mesmo para Boulos, que o protagonismo da classe trabalhadora na luta de classes derrote Tarcisio, pois isso implicaria num questionamento direto de seus pactos.

A ofensiva privatista de Tarcisio busca pressionar a direita toda a situação, ao mesmo tempo que é um ataque histórico a uma nas colunas vertebrais da organização da classe trabalhadora nos últimos anos. Basta lembrar o peso que o setor dos transportes ocupa na política e na luta de classes desde de 2013 e que o metro e os transportes de São Paulo foram a ponta de lança das mobilizações que poderiam ter derrubado Temer em 2017. Em um mar de sindicatos que retornam a ter protagonismo politico depois dos anos de ofensiva golpista ainda mais estatizados do que antes , o sindicato dos metroviários é um dos pouco que conta com uma democracia operária elementar, onde a assembleia e as reuniões setoriais continuam desempenhando um papel crucial. Mesmo com a maioria da diretoria atuando para desviar a mobilização e impor uma estratégia institucional de pactos e negociações por cima, essas posições permitem que a base tenha mais ferramentas para de luta para impor sua vontade. Se compramos esse sindicato, com a situação de sindicatos cutistas tradicionais como de Bancários de SP ou Metalúrgicos de São Bernardo e a ofensiva burocrática que o PT desencadeou na Apeoesp com a ajuda do PSOL, fica mais evidente ainda o caráter político da ofensiva privatista de Tarcísio. A resposta unitária que surgiu encabeçada pelos metroviários mostrou que o caminho para enfrentar a direita não é a conciliação, que tentam impor as direções sindicais.

Hoje é uma questão de primeira importância que a causa dos metroviários que foram demitidos por lutar contra as privatizações se transforme numa causa nacional. São eles que expressam a defesa dos interesses populares contra os políticos da extrema direita e da frente ampla, que atacam nossas condições de vida, que querem vender a nossa agua e precarizar ainda mais nosso transporte.

Fagulhas de uma nova subjetividade?

Nesse momento apesar da importância que teve a paralisação do dia 3 e a exemplar organização e resistência dos metroviários e de greves econômicas e de resistência importantes, o que prima da classe trabalhadora paulista, como em todo o país, é a passividade. Mas é preciso olhar com lupa alguns fenômenos, que hoje são pontuais, mas que podem indicar tendências futuras.

No primeiro semestre, a ação combinada da Apeoesp e do governo federal ao suspender por alguns meses a reforma do novo ensino médio e a o momento reacionário que vivemos com os ataques nas escolas, desarmou uma dinamica que estava apontando para uma retomada da luta docente e apontando para a possibilidade de uma maior unidade com o movimento secundarista. O enorme peso da burocracia sindical de professores e o papel lamentável dos setores do PSOL que abandonaram a oposição e se integraram a maioria do sindicato sufocam e impedem que se expressem as tendencias mais explosivas deste setor, mas esse é um processo que permanece latente.

No marco de um pequena onda de greves dos setores mais precarizados pudemos ver tendencia muito interessantes nesse que é o setor mais explosivo da classe trabalhadora, como a greve dos terceirizados do Aeroporto de Guarulhos, dos operários das obras dos aeroportos e dos operários das obras da linha Laranja do metro. Nas três os operários, em sua maioria negros, tomaram a grente por fora das direções sindicais burocraticadas, não a toa compostas por uma maioria de brancos, nas quais não se sentem em nada representados. No caso do aeroporto ambos os setores sofreram demissões massivas e na linha do metro o sindicato conseguir através de uma série de manobras impor um acordo muito abaixo do que queriam os trabalhadores.

Talvez, o mais sintomático deste processo, tenha sido a greve rebelde de dois dias que seguiu entre um setor bem especifico da obra. Depois do acordo coletivo ser firmado contra a vontade da maioria, os operados do tatuzão entraram em greve por fora do sindicato e ao contrario do que aconteceu no aeroporto, não foram demitidos. É que se trata de um dos setores mais qualificados e estratégicos da obra, que trabalham numa maquina que existem poucas em operação no mundo todo. Trata-se de um setor de ocupa uma posição estratégica, no entanto, sendo parte de uma categoria majoritariamente negra, e que não encontra nenhuma representação nas direções sindicais tradicionais.

Esse setor da classe operária negra, que nunca teve uma representação nos sindicatos tradicionais, depois da profunda desilusão com o PT e os partidos tradicionais foi impactado pelo bolsonarismo, pode se colocar em movimento no próximo período. A luta negra contra o racismo pode impulsionar setores centrais na produção, que com o avanço da precarização e da terceirização também passaram a ser ocupados pela classe trabalhadora negra.

Nossa aposta estratégica é a unidade deste setor com a classe trabalhadora mais organizada, com os trabalhadores do Metro, que para a paraisação do dia três propuseram uma assembleia unificada para decidir a continuidade da greve, mesmo com a maioria da diretoria do sindicato defendendo contra. A democracia operaria é o caminho para que a classe trabalhadora possa se levantar co o um sujeito político alternativo ao bolsonarismo e a frente ampla. A crise de representação que vimos de forma embrionaria nestes processos da construção civil pode encontrar sua solução na confluencia com os setores mais organizados da classe, na medida em que estes avancem sua experienciam com as direções petistas e sua política corporativista, e imponham atraves da democracia direta a defesa dos interesses populares através da mobilização e das greves unificadas. O próximo dia 28 será um passo nesse caminho, numa luta que ainda está longe do fim.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias