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GREVE ESTADO ESPANHOL | Colau, a greve da Movistar e o contrato do Mobile World Congress

Nos últimos dias a futura prefeita de Barcelona, Ada Colau, realizou alguns gestos a favor da greve da Movistar, os quais estão sendo recebidos com muito entusiasmo pelos trabalhadores. O compromisso firmado e sua visita à sede ocupada do Mobile World Congress (MWC), têm sido vistos como formas de reconhecer a luta. No entanto, seu apoio à assinatura do convênio do MWC anunciada para amanhã vai em direção oposta ao apoio à “revolução das escadas”.

quarta-feira 3 de junho de 2015 | 00:17

Nos últimos dias a futura prefeita de Barcelona, Ada Colau, realizou alguns gestos a favor da greve da Movistar, os quais estão sendo recebidos com muito entusiasmo pelos trabalhadores. O compromisso firmado e sua visita à sede ocupada do Mobile World Congress (MWC), tâm sido vistos como formas de reconhecer a luta. No entanto, seu apoio à assinatura do convênio do MWC anunciada para amanhã vai em direção oposta ao apoio à “revolução das escadas”.

Nas horas seguintes à visita de Colau à sede do MWC sucederam-se uma série de contatos entre a Telefônica e o Comitê de Greve, por intermediação da mesma Colau, onde foi acordado o abandono do prédio em troca de uma reunião entre os trabalhadores e a Telefônica, e a retirada das acusações contra o presidente do comitê, Aitzol Ruiz.

Trata-se de um acordo aceito em condições de máxima pressão a partir de diferentes frentes e no qual muitos trabalhadores viram vários problemas graves. Entre os mais importantes, que a Telefônica se nega a ir à reunião como parte do conflito, quer se apresentar como mediadora entre os trabalhadores e a patronal das contratadas. Uma posição que pode ser utilizada para lavar suas mãos e deixar a reunião em papel molhado, como já passou com o último encontro depois da primeira ocupação do mesmo prédio. Esta sensação de desconfiança para com a empresa era ainda maior enquanto a reunião se postergava a uma data entre 2 e 5 de junho. Além da greve, esta ocupação era até o momento a principal arma de pressão. Trata-se do edifício sede do MWC e nestes dias será decidido se Barcelona continuará sendo a sede deste mega-evento empresarial da qual a Telefônica é uma das mais beneficiadas.

A greve dos técnicos da Movistar está agora em um ponto crucial. Nas últimas semanas a ocupação da sede do MWC e o apoio dado pelas candidaturas municipais de esquerda têm permitido romper o cerco midiático. Além disso, o apoio social tem crescido e hoje esta luta é tomada como a luta de amplos setores populares e de trabalhadores, que se identificam com as penosas condições de trabalho sofridas pelos trabalhadores de contratadas, subcontratadas e autônomos.

A Telefônica também sofre os efeitos do conflito. Nestes quase dois meses, perdeu 21.000 clientes e vê o perigo em que se encontram os contratos de serviço com algumas novas prefeituras, como a de Barcelona.

O fato de o conflito ter sua frente mais firme em Barcelona e ter tomado em duas ocasiões a sede do MWC, tem sido e é o que mais preocupa a multinacional e um amplo quadro de interesses dos grandes capitalistas e da casta política da segunda cidade do país. As pressões para permitir que o convênio que garante sua celebração na cidade se firme amanhã, 2 de junho, têm sido e são enormes. Em primeiro lugar sobre a futura prefeita. Em sua reunião com Trias, atual prefeito de Barcelona, o único ponto de conteúdo foi esse. Colau se comprometeu a apoiar a renovação do convênio do MWC, e inclusive hoje declarou em sua entrevista ao periódico El País que estará presente na assinatura do mesmo pelo prefeito de saída.

Mas além de garantir o apoio formal da futura prefeita, Trias e toda a “máfia” que se enriquece com o MWC a cada ano, precisavam quebrar o conflito da Movistar, sobretudo na questão da ocupação. O acordo ter sido realizado enquanto a sede do MWC estava ocupada pode por em perigo a candidatura de Barcelona/Telefônica, e beneficiar outros competidores internacionais como Paris/France Telecom. Isto é o que está por trás da ameaça de despejo, a imputação de Aitzol e o fato de que a mesma mediação de “Barcelona em Comum” insistiu que não havia outra saída além de desocupar o prédio e aceitar a proposta da empresa, embora má e incerta.

Un tweet de exigência e indignação contra o primeiro gesto de “responsabilidade de governo” da prefeita do “bem comum”. Neste mesmo sentido, a assembleia de trabalhadores realizada nesta manhã votou manifestar-se amanhã na prefeitura de Barcelona, quando pretende-se levar adiante a assinatura do convênio sob o lema “SemSoluçãoSemMWC”. Exigem que não se assine nenhuma renovação do MWC até que a Telefônica atenda suas reivindicações.

E para dobrar o braço da Telefônica, uma multinacional com cerca de 2 bilhões de euros de lucro no ano passado, faltam medidas que estejam dispostas a questionar os grande negócios e lucros dos capitalistas. Perder a concessão do serviço telefônico do município de Barcelona - como tem ameaçado Colau -, avaliada em 3,5 milhões, é um golpe importante. Mas pondo em uma balança esses 3,5 milhões de faturamento e o custo de acabar com a super exploração, segue pesando mais o segundo. Mas também rescindir esse contrato, para seguir deixando que use a cidade e seus recursos para ser a anfitriã do evento mundial mais importante de telecomunicações – o que implica manter sua expansão imperialista como multinacional - é como retirar um jardim da casa de Alba.

A futura prefeitura e a futura prefeita têm uma arma que não estão dispostas a utilizar: o MWC. Sujeitar sua celebração a aceitar as demandas dos trabalhadores, tal como foi levantado hoje em assembleia, seria uma medida de apoio à altura desta histórica greve contra a precarização, que poderia permitir dobrar o braço da Telefônica e abrir caminho para que outros muitos trabalhadores precários sigam o exemplo da revolução das escadas.

No entanto, a lógica de “gestão humana” do capitalismo, neste caso municipal, que mantém BeC e que se acentua com a busca de alianças com o PSC e ERC, não permite levar adiante uma política que enfrente decididamente os interesses da “máfia”, a única capaz de servir de apoio até o final para que as lutas dos trabalhadores triunfem.

É paradoxal que falem do MWC com argumentos similares aos que levanta Trias ou mesmo a Telefônica, dizendo que é “um evento muito importante para a cidade”, para “a economia”... Para qual cidade? Para qual economia? Como bem denunciava está mesma manhã o deputado da CUP David Fernandez em Els Matins da TV3, o MWC gera um gasto público de 100 milhões de euros e 500 milhões de lucro nas mãos da máfia hoteleira e outras. “Aos de baixo” somente nos dão migalhas de um trabalho precário de uma ou duas semanas. Até agora, acabar com o MWC - símbolo por excelência do modelo de cidade excludente e elitista - tem sido uma reivindicação histórica dos movimentos sociais da cidade, incluindo muitos dos que têm integrado em BeC. Mas esta reivindicação foi deixada de lado antes inclusive de assumir o governo municipal. Uma política anticapitalista que chegasse a colocar em questão a celebração deste congresso de multinacionais escravistas em Barcelona não está na agenda de Colau e BeC.

O questionamento mais sério e contundente desta renúncia vem dos trabalhadores de Movistar. Por ele os setores populares que vêm dando apoio a esta greve e os grupos políticos que não comungam com as “bondades” para a cidade do MWC, como a CUP e seus seguidores, devemos apoiar com tudo a mobilização e exigência dos grevistas da Movistar, de que não se assine nem apoie nenhum convênio de renovação do MWC até que a Telefônica atenda às reivindicações dos grevistas e acabe o trabalho escravo reinante em suas contratadas, subcontratadas e autônomas. A mobilização de amanhã dos trabalhadores da Movistar será a única que questionará o modelo de cidade que herdamos de Trias e frente ao que a nova prefeita levanta uma política de continuidade responsável. Sem dúvida, para acabar com a cidade dos MWC, os Montmeló e outros grandes eventos que somente beneficiam os capitalistas será necessário seguir lutando desde a mobilização social.

Perante o fato de que a “agenda de bem comum” resulte demasiado condescendente com os interesses da máfia, como vemos com o MWC, é necessário impor a “agenda das lutas” por meio da mobilização social e a exigência de que as reivindicações dos trabalhadores e setores populares sejam atendidas.




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