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JUVENTUDE NEGRA | Bolsonaro e os golpistas atacam as universidades e assassinam a juventude negra

Na última semana, a chacina de Jacarezinho, a maior chacina da história da cidade do Rio de Janeiro, onde 28 pessoas foram mortas pela polícia, majoritariamente jovens negros, chocou o país. Dias antes tornou-se público os impactos dos cortes bilionários nas universidades aprovados pelo Congresso e o Senado, ao lado de Bolsonaro, que chegam ao valor de 1,1 bilhão, colocando em risco o seu funcionamento. Estes dois fatos são separados por poucos dias mas unificados por uma mesma política deste regime para o conjunto da juventude negra e da classe trabalhadora: descarregar a crise em nossas costas enquanto nos empurram ao desemprego e nos matam pela fome, pela COVID19 e pelas balas da polícia.

Luno P.Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

quinta-feira 20 de maio de 2021 | Edição do dia

A notícia dos cortes na educação e o possível fechamento da UFRJ, assim como outras federais pelo país, causou comoção nas redes sociais na última semana. Estes cortes bilionários irão fazer com que o orçamento para as 69 instituições federais de ensino superior do país retornem ao mesmo orçamento de 2004, porém com mais que o dobro de estudantes se comparado ao mesmo período. A redução de 18% do orçamento afeta diretamente o funcionamento global das universidades, reduzindo verbas que dizem respeito aos gastos discricionários, sendo eles as contas de água, energia, pagamento dos serviços de limpezas, manutenção e segurança, além das bolsas acadêmicas e de permanência estudantil. A UFRJ, UFBA e UFF, assim como outras universidades, já anunciaram a possibilidade do fechamento das universidades já nos próximos meses, o que afetaria os hospitais universitários, museus e pesquisas científicas que deveriam estar voltadas para o combate da pandemia. É preciso ter claro que essa política é parte do projeto de país de Bolsonaro e do golpismo: uma massa de trabalhadores precários sem direito à educação.

Hoje, boa parte dos estudantes das federais tiveram acesso à universidade pela política de cotas. Em sua composição, 53,5% dos que são graduandos vivem em famílias com renda per capita de no máximo 1 salário mínimo e 54,2% são negros, indígenas e amarelos. Assim, nós, estudantes negros e trabalhadores, seremos aqueles que irão sofrer mais com estes cortes, sem nenhuma garantia de receber os auxílios de permanência estudantil. Os setores terceirizados, que são majoritariamente compostos por mulheres negras, serão seriamente afetados, colocando em risco os empregos de uma população que já sofre diariamente com a violência policial e agora, durante a pandemia, vive sob a ameaça da fome.

Leia mais em: Crise, golpe e pandemia: os efeitos sobre a permanência estudantil nas universidades federais

Bolsonaro, Mourão e os governadores, estão unificados em aplicar a sua política de minar a vida da juventude negra, que agora se vê em frente ao perigo de ser expulsa das universidades com os cortes, ao mesmo tempo que amarga altíssimos números de desemprego e se enfrenta com a violência policial como em Jacarezinho, uma forte demonstração da função das policias: a repressão aos trabalhadores a o assassinato sistemático da população negra e periférica.

É necessário dizer com todas as letras que não são dois mundos diferentes. O regime do golpe que aplica o corte na educação e a polícia assassina autorizada e legitimada por Bolsonaro e pelo governo de Cláudio Castro, que estiveram juntos em reunião um dia antes da chacina, acontecem no mesmo Brasil e representam o mesmo projeto. O que desejam para as universidades é a imposição do projeto de educação do golpismo: universidades reservadas para uma elite intelectual e mais restritas aos filhos da classe trabalhadora. E para a juventude negra, querem impor um futuro carregando os lucros capitalistas em bags de empresas milionárias nas costas e com os tiros da polícia ao chegar em casa.

Os gastos "enxugados" na educação passarão para o pagamento da dívida pública e para aumento no orçamento para as forças repressivas do Estado. A lei de Teto de Gastos mina o investimento nos setores de educação e saúde, enquanto, durante o governo Bolsonaro, o orçamento direcionado para o Ministério da Defesa chega ao valor de 8,3 bilhões, o que representa um quinto do orçamento total para o governo federal neste ano. Ou seja, está sendo reduzido o gasto na educação, enquanto se mantêm as regalias para setores dos militares, políticos e juízes.

Leia mais em: Um debate de estratégia com a esquerda a partir da chacina do Jacarezinho

A luta contra os cortes é a mesma luta contra este regime que naturaliza o assassinato da população negra por parte das forças de repressão do Estado. Por isso, em nossa luta é preciso que ecoem as vozes que se revoltam contra a violência policial, contra a precarização do trabalho e contra o projeto do governo Bolsonaro, Mourão e o conjunto desse regime golpista para com a juventude negra. Nesse sentido, as mobilizações do dia 29 devem ser um chamado para o movimento estudantil e o conjunto da juventude voltar às ruas. É necessário construir com força essa data, e a UNE, dirigida pelo PT e pelo PCdoB, precisa depositar todas as suas forças na construção de assembleias onde os estudantes tenham direito a voz e voto para organizar a sua luta. As organizações que compõem a Oposição de Esquerda da UNE, como PSOL, Correnteza e UJC/MUP podem dar um importante exemplo convocando e construindo massivamente espaços assim nas diversas federais onde dirigem DCEs e CAs, como na UFRGS onde são atualmente gestão do DCE, batalhando para unificar as universidades nacionalmente nessa luta e se somando à essa exigência à majoritária da UNE.

As centrais sindicais precisam romper sua paralisia e fazer com que o dia 29 expresse também a unidade de trabalhadores e estudantes e seja o início da construção de um plano de lutas. É só com a nossa força organizada, em aliança com os trabalhadores de dentro e de fora da universidade que hoje já demonstram a sua força, como foi o exemplo da greve dos Metroviários de São Paulo, que pode impor a reversão dos cortes no orçamento e a derrubada do conjunto dos ataques de Bolsonaro e do regime. Combinado a isso, nossa luta não pode almejar colocar o reacionário e racista General Mourão, defensor da ditadura militar, na presidência com um impeachment, mas sim lutarmos para que como produto da nossa mobilização se imponha uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que bote abaixo todo o regime do golpe institucional e coloque em debate as necessidades do país, onde a maioria da população decida. Num processo assim poderíamos batalhar pela revogação das reformas e do conjunto dos ataques, assim como o fim da Lei do Teto de Gastos e o não pagamento da dívida pública, que asfixia a saúde e a educação. Também lutar pelo fim das operações e impunidade policiais e por uma investigação independente do Estado e da policia sobre a chacina de Jacarezinho, levada à frente pelo movimento negro, movimentos sociais e de direitos humanos e sindicatos. Contra Bolsonaro, militares e o conjunto dos golpistas e capitalistas, batalhamos para avançar em uma saída de superação deste sistema de miséria.

É nessa perspectiva que fazemos um convite a debater conosco a todes que se revoltam com esse sistema de miséria e que anseiam uma vida liberta de todo o tipo de exploração e opressão à participarem da plenária nacional aberta da Faísca e do Pão & Rosas: Abaixo os cortes! Fora Bolsonaro, Mourão e os golpistas! Que os capitalistas paguem pela crise!”, neste próximo domingo, 23/05, às 16h. Se inscreva neste link!




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