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CONGRESSO DOS ESTUDANTES DA USP | XII Congresso de Estudantes da USP discute rumos da esquerda frente à crise

Ocorreu quinta, 1º de outubro, a mesa de abertura do XII Congresso dos Estudantes da USP chamada “A crise no Brasil: desafios e iniciativas do movimento estudantil”, que deu início às atividades congressuais. A discussão sobre a crise econômica, os ajustes e a necessidade de construir uma alternativa política independente dos trabalhadores e da juventude que possa dar uma saída para a crise permeou todo o debate.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

sábado 3 de outubro de 2015 | 02:13

Na mesa de abertura estavam presentes Atenágoras Lopes da CSP-Coluntas, um representante da direção do MTST e Thiago Aguiar do Movimento Esquerda Socialista (MES), corrente interna do PSOL. Num cenário econômico marcado por demissões, desemprego, ajustes e cortes que atingem diretamente os trabalhadores e a juventude, especialmente os setores mais oprimidos como as mulheres, LGBT e negros, o centro do debate foi qual a alternativa política que o movimento estudantil deve seguir.

Antes de começar o debate Brandão e Neli, dois membros históricos do Sindicato de Trabalhadores da USP, saudaram o congresso, junto a uma delegação de trabalhadores, chamando os estudantes a se solidarizarem com a paralisação dos trabalhadores da prefeitura do campus. Brandão enfatizou a dura batalha que estes trabalhadores estão travando, desde terça-feira paralisados contra o desmonte da prefeitura e os ataques que a reitoria vem tentando implementar também ao bandeijão e à creche. Neli por sua vez fez um chamado aos estudantes para que se somem à luta com os trabalhadores e construam uma forte mobilização unificada em defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade, chamado que também está expresso na carta aos estudantes que os trabalhadores distribuíram no congresso.

MTST e MES fecham com governo contra a direita, CSP-Conlutas chama a romper

O debate se iniciou com a fala do representante do MTST defendendo fazer uma luta contra os ajustes e contra a direita, chamando juntamente a construção da Frente Povo sem Medo, composta também pelas centrais sindicais governistas, CUT e CTB, assim como pela UNE. Ainda que mantenham no discurso a crítica ao governo, compuseram o dia 20 de agosto junto aos setores governistas defendendo a "democracia", que na prática é defender a institucionalidade da democracia burguesa plasmada atualmente na defesa do governo Dilma, política essa que se aprofundou ao chamarem a política de construir uma frente com as centrais sindicais governistas, que hoje são a voz do governo no movimento operário, defendendo o PPE, por exemplo.

Uma frente prolongada com essas centrais por fora dos processos reais de luta é, na verdade, contribuir para a construção de uma frente que mantém o movimento operário e de juventude sob influência do governo. Não contribuindo dessa forma para que as bases de setores governistas da CUT e da UNE, por exemplo, rompam suas direções burocráticas e se coloquem em luta para construir uma alternativa política que seja realmente dos trabalhadores e da juventude, que prime pela independência de classes.

Atenágoras Lopes da CSP-Conlutas, contrapondo-se a essa frente, fez um chamado para que os companheiros do MTST rompessem com esses setores e construíssem um terceiro campo da esquerda anti-governista, deixando claro que o ato do dia 18 foi uma demonstração inicial da força dessa política independente e da necessidade de que os companheiros do MTST e do PSOL rompam com os setores governistas da Frente Povo sem Medo e se coloquem com tudo para fortalecer a alternativa classista que começou a se expressar no dia 18 de setembro.

Contudo não tocou em como essa força do dia 18 poderia se tornar material para fazer as greves operárias triunfarem, tal como foi a greve da GM ou dos Correios, que acabaram ficando isoladas. Mantém abstrata essa política de terceiro campos da esquerda, pois passa por fora das lutas em curso que, unificadas, poderiam se transformar em verdadeiras batalhas de classe e, a partir dessas, mudar a correlação de força das próximas lutas.

Thiago Aguiar traçou um panorama dos cortes e de como isso afeta a vida da juventude e que, diante desse cenário, era necessário fortalecer uma alternativa do povo. Apesar de traçar a conjuntura atual, sua fala não colocava claramente que hoje o setor mais dinâmico são os trabalhadores, expressando-se por meio de greves operárias contra os patrões, as demissões e os ataques do governo. Apoiou a iniciativa da Frente Povo sem Medo dizendo que para construir uma alternativa política real é necessário fundir-se com milhões superando o suposto sectarismo da esquerda. Discurso que tenta esconder a falta da estratégia de independência de classe para emergir realmente uma alternativa no país, nem com a direita nem com o governo, o suposto sectarismo serve nesse caso para frente com a UNE, CTB e CUT, mas não para ter fortalecido com todas suas forças o ato do dia 18. Se o PSOL tivesse convocado amplamente o ato e construído desde suas bases, com certeza estaríamos mais fortes para construir esse pólo da esquerda antigovernista. Essa organização que contraditoriamente fala contra o sectarismo, se mantém contrária ao chamado de entrada do MRT no PSOL para fortalecer as lutas dos trabalhadores, das mulheres, LGBT, dos negros e da juventude.

Qual a saída para os trabalhadores e a juventude contra os ataques?

Em um cenário de muita politização nacional, em que o PT aprofunda sua crise passando diversos ajustes e ataques aos trabalhadores e juventude, tendo que ceder cada vez mais espaço ao PMDB e também com a direita fazendo política, a falta de um polo diretamente ligado às lutas em curso que as ajudasse a vencer faz com que se fortaleça o governo e a direita. O dia 18 foi um importante passo para avançar nessa construção, mas é necessário para fortalecer esse que a CSP-Conlutas coloque todo seu peso sindical à serviço das lutas, assim como que o PSOL rompa com a frente governista e coloque seus parlamentares também nessa perspectiva.

Para nós do MRT, estamos diante de um processo de fim de ciclo lulista, com diversos níveis de uma expressão de crise entre os partidos da ordem burguesa, mas que tanto PT, como PSDB, PMDB e outros estão aliados em uma coisa: descontar os custos da crise nas costas dos trabalhadores e preservar os lucros dos grandes empresários e banqueiros. Diante desse cenário queremos apresentar e debater com toda a esquerda brasileira o exemplo que temos na Argentina, da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, particularmente a partir da vitória de Nicolás Del Caño do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS, organização irmã do MRT na Argentina), nas primárias para a presidência da república do país.

O resultado eleitoral na Argentina comprova que uma esquerda profundamente enraizada na classe trabalhadora, a partir de uma militância orgânica em cada local de estudo e trabalho e de um programa claro de independência de classe frente aos partidos burgueses é capaz de se apresentar como uma alternativa política para milhões de trabalhadores, jovens, mulheres, LGBT, negros. É esse exemplo que queremos debater e construir aqui no Brasil, uma frente de esquerda capaz de ser uma resposta política nem com o governo nem com a direita, para os milhares de trabalhadores e jovens do país.

Um congresso da USP que arme os estudantes contra os ataques e em defesa de seu futuro!

Por isso acreditamos que o Congresso dos estudantes da USP deve servir para armar os estudantes e estar a serviço da construção de uma alternativa política, classista, independente da reitoria e dos governos. O movimento estudantil tem um imenso poder como caixa de ressonância das contradições sociais e o congresso deve nos preparar para lutar contra todos os ataques em defesa do nosso futuro.

E para isso é fundamental que nos coloquemos ao lado dos trabalhadores da prefeitura do campus, que estão travando uma dura batalha contra as políticas de desmonte da reitoria. Nosso congresso deve estar à serviço de fortalecer essa luta, à serviço de fazer com que os estudantes se unifiquem com os trabalhadores para que possamos construir uma forte mobilização contra os ataques da reitoria.

No marco da atual conjuntura nacional, se uma batalha como essa na USP for vitoriosa serve como ponto de apoio para novas batalhas que surgirão pelo país. Transformar cada batalha na luta de classes em grandes exemplos de luta que se choquem diretamente com todas as burocracias, os governos e esse sistema de exploração e opressão, essa deve ser a orientação principal dos estudantes para esse congresso. Para concretizá-la devemos construir uma forte mobilização estudantil aliando-se aos trabalhadores para que no dia 15 de outubro, que foi aprovado uma paralisação dos funcionários da USP, possamos efetivamente parar a universidade, estudantes e trabalhadores, deixando claro para Zago, Alckmin e Dilma que não aceitaremos que descontem os custos da crise em nossas costas.




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