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Declaração | Val: "Se colocar contra a greve dos entregadores é o que também pode fortalecer a extrema direita"

Val Muller, dirigente do MRT no Rio Grande do Sul, deu seu depoimento ao Esquerda Diário frente aos últimos acontecimentos e a paralisação dos entregadores do dia 25.

quarta-feira 11 de janeiro de 2023 | Edição do dia

"Primeiro de tudo, é preciso dizer frente aos atos repugnantes de domingo, que é fundamental repudiar e combater frontalmente essas ações ultra reacionárias da extrema direita, que mesmo após perder as eleições presidenciais segue fortalecida institucionalmente a partir da eleição de diversas asquerosas figuras para o legislativo, como Damares Alves, Mourão, Nicolas Ferreira, Moro, entre outros nefastos inimigos de nossa classe. Além disso, está claro que sua "base dura" segue mobilizada e com disposição de enfrentamento nas ruas como visto nos últimos dias. Nós do MRT, estamos juntos de todes, todas e todos que querem realmente enfrentar a extrema direita golpista que mostrou seus dentes no domingo, e que buscaram expressar essa indignação nos atos de segunda. Ainda assim, é importante ver que as instituições repressivas do Estado alimentaram diretamente o crescimento da extrema direita. Não apoiamos a intervenção federal do governo Lula-Alckmin no Distrito Federal e não confiamos que podemos combater as ações golpistas bolsonaristas e muito menos reverter as reformas e ataques à classe trabalhadora através do judiciário.

Pelo contrário, esse mesmo judiciário é quem ataca a classe trabalhadora todos os dias e vem perseguindo lutadores como Galo, que foi condenado por colocar fogo em uma estátua do bandeirante Borba Gato, notório assassino de indígenas. Hoje Galo é uma das lideranças dos entregadores de app que preparam uma forte paralisação para o próximo dia 25/01 contra a precarização da categoria. Essa greve dos entregadores deve ser cercada de todo apoio e solidariedade, diferente do que vem fazendo setores do petismo, como, por exemplo a Revista Fórum, que na última sexta-feira (06), dois dias antes do ataque a Brasília, publicou uma nota atacando a mobilização da categoria. A nota, assinada por uma jornalista da Fórum, coloca que a greve dos trabalhadores estaria potencialmente fortalecendo a extrema direita. Algo absurdo de se dizer. O que fortalece a extrema direita é se colocar contra os trabalhadores, seus direitos, e no momento, contra a greve dos entregadores. Ainda há setores representados por Breno Altman que colocam uma demagógica defesa dos entregadores sob o novo governo, o que na realidade não pode acontecer, dado que o governo da frente ampla capitaneado por Lula-Alckmin é composto por boa parte da corja que aprovou os ataques aos trabalhadores como a reforma trabalhista e da previdência. Esses seriam os aliados dos entregadores segundo Breno. Nas duas linhas, a política do petismo leva mais uma vez ao desarme de nossa classe frente a mobilização da extrema direita na medida que impede e ataca os reais processos de mobilização e auto-organização que surgem desde as bases de nossa classe.

Os entregadores vem construindo uma tradição de luta desde os combates pelos seus direitos durante a pandemia. É um contingente de trabalhadores que reflete uma juventude precária, majoritariamente negra, que se mobilizou desde 2020. quando arriscavam suas vidas e de suas famílias em meio à pandemia, sendo essencial para os que puderam ficar em casa.

Diferente dos que depositam suas energias numa política de desmobilização de nossa classe e que leva à confiança nas instituições reacionárias do regime, acreditamos somente na organização da nossa classe, com independência política e com seus próprios métodos, como a paralisação e planos de luta, para derrotar a extrema direita e dar uma saída de fundo para a crise, com a revogação das reformas reacionárias e demais ataques. Não será com alianças com a direita que enfrentaremos o golpismo bolsonarista, como faz Lula com uma ministra miliciana e seu ministro José Múcio, que havia declarado que os atos nos quartéis eram “manifestações democráticas”. Na verdade, essas alianças só mostraram que fortalecem e abrem espaço para nossos inimigos.

A unidade que necessitamos é a dos trabalhadores, formais e informais, junto a todos os setores mais oprimidos da sociedade, de forma independente do novo governo eleito e das instituições do regime. E isso começa com as principais centrais sindicais rompendo com a passividade construída em prol da frente ampla, cercando de solidariedade e fortalecendo a luta dos entregadores de aplicativo. As direções majoritárias das maiores centrais sindicais da América Latina, como CUT e CTB (dirigidas por PT e PCdoB) chamaram unificadamente e nacionalmente os atos de ontem pela “democracia e contra o terrorismo”, submetendo nossa classe a política da frente ampla com patrões, fazendeiros, banqueiros e imperialistas. A chamada unidade nacional, tão aclamada neste momento por setores da direita à esquerda institucional, impede de avançar na mobilização e unidade necessária, que é da classe trabalhadora, negros, mulheres, LGBT e indígenas, pois para isso é preciso um programa que comece pela revogação de todas as reformas reacionárias e em apoio às lutas como essa dos entregadores que estamos defendendo. Só convocando assembleias em cada local de trabalho, unificando a luta da classe trabalhadora pela revogação das reformas que atacam a nossa classe desde os governos Temer e Bolsonaro poderemos colocar nossa classe na linha de frente do combate pelos interesses do conjunto dos explorados e oprimidos."




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