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JUVENTUDE | Uma juventude que se levanta frente à crise nacional que divide o país

O Esquerda Diário entrevistou Jéssica Antunes, diretora do Centro Acadêmico de Letras da USP e militante da Juventude Às Ruas e do MRT, sobre como a juventude deve se colocar frente à crise nacional que divide o país.

sábado 12 de março de 2016 | 02:33

Esquerda Diário: A Operação Lava Jato, o pedido de prisão preventiva a Lula e a campanha pelo impeachment de Dilma instalaram no país um clima de avanço da direita. Espera-se ver nas marchas de rua do dia 13 esses setores da direita. Por outro lado, os petistas unem fileiras para defender-se da direita e de toda a lama de corrupção em que o PT se meteu para administrar o capitalismo. Como a juventude fica diante dessa situação nacional?

Jéssica: A gente fica na pior né. O Kim Kataguri, do MBL, assim como o Vem pra Rua, querem arrastar a juventude para ser bucha de canhão da direita. Mentem tentando vender a ilusão de que na manifestação do dia 13 pode ter alguma coisa semelhante à que tomou as ruas do país em junho de 2013. Mas o dia 13 de março é o contrário de junho de 2013. Junho foi uma explosão espontânea da juventude lutando por mais direitos e contra todos os partidos políticos que dominam o país. O dia 13 será a direita instrumentalizando a Lava Jato e a base eleitoral do PSDB para impor um projeto de país ainda mais à direita do que os cortes na educação, a entrega do Pré-Sal e a reforma da previdência do governo Dilma.

Kim Kataguri, principal referente de juventude das marchas da direita pelo impeachment, representante do Movimento Brasil Livre (MBL)

Jéssica: Por outro lado, na sexta-feira passada na entrevista que o Lula deu logo depois de ter sido levado preso para depor, do lado dele tinham duas meninas com blusas da União Nacional dos Estudantes e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Essa imagem escancara como a juventude do PT quer que nós ajudemos a blindar o Lula e a Dilma dos ataques da direita, como se o PT não fosse responsável pelo fortalecimento da direita ao fazer acordos parlamentares, e sendo umas burocracias que impedem que os sindicatos, organizações estudantis e movimentos sociais lutem contra os cortes que vem afetando a todos e a impunidade do “seu” governo. Tanto a UNE como a UBES falam que defendem os estudantes do Rio, aparecem com suas bandeiras mas não organizam uma luta nacional em apoio ao Rio como não fizeram antes com os secundaristas paulistas, que inclusive só venceram porque passaram por cima dessas entidades governistas. Os caras só se mobilizam pra defender o governo do PT, em nome da “democracia”.

Dirigentes da UNE e da UBES ao lado de Lula na comitiva de imprensa após depoimento coercitivo

Jéssica: Não. A juventude não pode ser bucha de canhão da direita nem soldados da defesa do governo do PT.

Os secundaristas de São Paulo e de Goiás e os estudantes em luta no Rio de Janeiro e na Paraíba mostram um outro caminho. Esse sim devemos seguir, transformando essas lutas em um grande movimento nacional, que coloque toda a energia da juventude nas ruas como foi em junho de 2013.

Estão ocorrendo uma série de lutas em defesa da educação pelo pais, é possível construir uma greve nacional levantada de cada escola e universidade, que barre os cortes e coloque a juventude como ponta de lança de uma nova força pela esquerda para resolver a crise que atravessa o país. A solução com a crise do PT não pode ser a direita. A gente pode com rebeldia e audácia sair em luta pelo que é nosso, os estudantes já mostraram sua força no mundo todo várias vezes. É preciso dar o exemplo, e convocar que os sindicatos rompam sua política de colaboração com o governo do Partido dos Traidores e com os patrões e empresários, e impulsionem uma mobilização massiva que possa dar uma resposta ao real problema do nosso país, que é como funciona todo esse sistema político corrupto.

Esquerda Diário: E que resposta seria essa?

Jéssica: O problema real na política não são os jogadores, mas as regras do jogo, não adianta chamar eleições de novo, ou derrubar a Dilma. Pra entrar o quê? A direita? É preciso mudar como as coisas funcionam pela raiz, e não ficar observando essa briga sem fim entre gente da mesma laia. É a gente mudar as leis que permitem essa farra com o dinheiro público, privilégios a torto e a direito pros políticos que não governam para nós, privatizações. Isso tudo, como funciona hoje, é garantido pela Constituição de 1988, feita em acordo com os militares e toda a direita que dominou durante a ditadura, de onde só funciona o que não serve em nada pra população. Uma das únicas coisas que ela garante bem são as medidas repressivas. A juventude e os trabalhadores precisam impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana. Aí a gente pára todos os cortes e ajustes contra nós, e faz onde eles devem ser de verdade: ajustando o salário dos deputados pra o de um professor, corta e pune todos os corruptos, põe fim as privatizações. A Petrobras, por exemplo, tem que ser completamente estatal, e controlada pelos trabalhadores e pela população, tudo transparente, pra gente colocar toda essa riqueza pra garantir nossos direitos e não o caixa-dois da corrupção. Nenhuma gota do Pré-Sal pode ir para os monopólios imperialistas por trás da Lava Jato e da Dilma. Está em nossas mãos garantir que os recursos do petróleo estejam a serviço da educação. E nessa Constituinte, todos os deputados precisam ser revogáveis, se alguém tem que tirar um deputado ou representante eleito é o povo que elegeu, e não um opositor reacionário, como está acontecendo agora com o impeachment da direita. A revogabilidade é fundamental, porque o cara já sabe, se fizer cagada tá fora, vai ter que respeitar seu mandato, coisa que, no caso, a Dilma também não está fazendo.

Esquerda Diário: Como colocar de pé esse movimento nacional?

Jéssica: É um movimento nacional pautado na luta. Precisamos realizar assembleias em todas as faculdades e colégios do país para lançar esse grande chamado por todos os lados. Começar a se mobilizar, com paralisações, atos. Temos que sair da rotina e romper os scrips, temos criatividade pra abalar as estruturas de onde estamos.

Todos os centros acadêmicos, grêmios e diretórios estudantis precisam colocar tudo, seus recursos humanos e materiais, para fazer com que essa proposta de luta unificada apareça e ganhe uma grande visibilidade nacional.

Que parta dos estudantes que conseguirem desenvolver uma maior mobilização uma proposta de um grande dia de greve nacional, de toda a educação. É neste dia que vamos nos jogar com tudo pra surgir um novo junho de 2013, que entre com tudo pra responder pela esquerda toda essa lama política e a crise. Todo jovem que se levantou em junho, que derrotou Alckmin, que se enfrenta com Pezão no Rio, com Perillo em Goiás, e nas várias lutas no Brasil inteiro, e que no dia a dia se indigna com a situação que vive o país, que não aguenta mais a opressão que sofrem as mulheres, os LGBT, o racismo, que vê que nosso futuro está em risco, precisa se organizar, assim podemos construir um novo futuro, novos junhos, podemos revolucionar o país. Temos que fazer como os estudantes franceses que neste dia 9 de março protagonizaram uma grande manifestação com 80 mil pessoas em Paris, organizando-se desde as faculdades e escolas, imagina isso no Brasil? Com 130 escolas com barricadas por toda a França, e se aliando aos trabalhadores, pra enfrentar o plano de ajustes e a reforma trabalhista que o governo Hollande quer impor. Essa aliança é a mais poderosa que tem, porque se os estudantes são uma mega força social, os trabalhadores então nem se compara. Por isso a gente se alia a eles, por exemplo, na MABE a gente está com eles desde o início e vamos até o fim.

Esquerda Diário: Como está a esquerda para dar essa batalha?

Jéssica: Aí que a coisa complica de novo. O PSOL e o PSTU estão se mostrando incapazes de colocar o peso sindical e parlamentar de seus partidos para fortalecer as lutas de resistência contra os ajustes e transformá-las em um grande movimento nacional. Ou mesmo um movimento local, está difícil. As entidades estudantis que eles dirigem são rotineiras e tratam de cada problema da forma mais corporativa possivel. Estudo na USP e sinceramente, eles desiludem os estudantes de que o DCE pode servir pra nossa luta. O PSTU, ao defender a queda do governo sem que exista nenhum movimento de massas para derrubá-lo de forma independente, quem fala em derrubada do governo hoje é a direita, assim terminam dando uma cobertura de esquerda para o impeachment da direita, enquanto chamam eleições gerais, mesmo programa levantado por Aécio, e que de nada muda esse regime onde de quatro em quatro anos elegemos alguém para ter privilégios em cima dos trabalhadores. O PSOL faz o mesmo papel na “Frente Povo Sem Medo”, estão lá junto com a UNE, com as direções sindicais e populares do PT, mas não fazem uma luta política para que essas direções rompam sua colaboração com Lula e Dilma. Terminam ajudando o PT a bloquear a possibilidade de uma mobilização independente dos sindicatos e entidades populares. Ontem mesmo a Luciana Genro deu mais uma mostra de que, na esperança de conseguir base pra ganhar a prefeitura em Porto Alegre, lançou um discurso que cita o Moro como uma fonte legítima, como se a gente tivesse que ajudar ele a seguir firme. Esse tipo de coisa é assustadora, uma "esquerda" que está disposta a fechar os olhos pra quanto esse cara é reaça, só pra tentar ganhar a rebarba da crise do PT? Mesmo que isso signifique fortalecer uma justiça que hoje pune o PT, e se puder amanhã vai punir ainda mais a juventude e os trabalhadores? Ambos partidos agora embelezam a Lava Jato, como se esse Poder Judiciário pudesse punir alguém, não só o PT mas inclusive a direita, ou seja, iludem a galera de que eles vão punir eles mesmos. Tem outros grupos que estão fazendo feio, colando com a direita do mesmo jeito., ou até mais direto.

Esquerda Diário: Então, qual a alternativa?

Jéssica: Essa é a pergunta mais importante. Aquilo que eu tava falando, que é lamentável das principais organizações da esquerda, deixa a juventude sem uma resposta pra onde realmente canalizar sua energia revolucionária. É por isso que vamos lançar uma nova juventude. Porque a enorme quantidade de jovens que se decepcionam com o PT e também não engolem a direita precisam de uma alternativa para se organizar. Porque já sabemos que mesmo se todos sairmos às ruas como em junho de 2013 e vencemos, se não conseguimos manter uma organização com muita força para seguir o combate, e buscar aquelas transformações mais profundas, estruturais, que falei antes, depois eles voltam a retirar tudo que conquistamos. Não foi isso que aconteceu com as passagens de ônibus? Que voltaram a aumentar? É o que discutimos agora com os secundaristas em São Paulo, eles venceram mas o Alckmin já busca implementar os ataques que foram derrotados por outras vias.

Precisamos construir uma juventude que não deixe as pessoas que se decepcionam com o PT se desmoralizarem, ou se iludirem com uma alternativa na direita. Esses caras odeiam as mulheres, os negros, os LGBT’s e os trabalhadores. Precisamos combater esse fortalecimento da direita, coisa que o PT já há muito tempo deixou de ser capaz.

No dia 2 de abril nós da Juventude Às Ruas junto com vários estudantes universitários e secundaristas independentes de várias regiões do país vamos realizar uma grande conferencia nacional onde queremos dar o ponta pé do lançamento dessa juventude que para nós é um grande e apaixonante desafio que queremos compartilhar com todos jovens que não aguentam mais o capitalismo e querem revolucionar a vida. Já aviso que vai ser bem pinky (rs)... E chamo todo mundo que não quer se resignar a ser um espectador da história que acontece na frente dos nossos olhos, vamos com a gente tomar o futuro em nossas mãos.




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