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FAÍSCA FEUSP | Quais são as tarefas do movimento estudantil da FEUSP?

Nos dias 3, 4 e 5 acontecerão as eleições do Centro Acadêmico da Faculdade de Educação e nós, estudantes da FEUSP que constroem a Faísca, queremos debater sobre esse processo e as tarefas do movimento estudantil por meio deste artigo. Entendemos que a necessidade por uma educação emancipadora, permanência estudantil e uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre só serão conquistas por meio uma luta independente dos governos e das reitorias, que se conecte à batalha pela revogação do novo ensino médio e das reformas econômicas. Posicionamento esse que o Afronte, atual responsável pela gestão do Centro Acadêmico da Faculdade de Educação da USP, que está concorrendo às eleições pela chapa Sonhar exige luta neste ano, não defendem e nem defenderam durante o período da sua última gestão, o que contribuiu para o nível de afastamento dos estudantes com o movimento estudantil, que é imprescindível na luta contra os ataques e por nossas demandas.

quarta-feira 3 de maio de 2023 | Edição do dia

Imagem: acervo de imagens do Esquerda Diário. Ano: 2017.

Ao longo dos últimos anos, os estudantes do curso de pedagogia da Faculdade de Educação da USP fizeram parte de uma série de processos de luta dentro e fora da universidade. Fomos os primeiros a paralisar na USP pela implementação da política de cotas na universidade, estivemos presentes nas mobilizações contra Temer e Bolsonaro, como a da reforma da previdência e o tsunami da educação. Nosso curso foi um dos únicos a paralisar frente ao assassinato de Marielle Franco, que segue ainda hoje uma ferida aberta no país. No entanto, atualmente, vemos um curso que teve seus espaços de debate e de auto-organização desmantelados e esvaziados. O que mudou?

Cada uma das lutas citadas acima, entre tantas outras, foram organizadas a partir de assembleias, reuniões abertas e plenárias dos três setores, que tiveram como centro a luta contra os governos e contra os ataques que Temer e Bolsonaro buscaram aprovar. Hoje, vivemos um novo momento no país: com Tarcísio à frente do governo do estado, apontando uma política de privatização para a educação, e a Frente Ampla de Lula-Alckmin no governo federal, indicando diariamente a não-revogação das reformas que mais atacam a juventude e os trabalhadores para seguir privilegiando o lucro do agronegócio, dos banqueiros e dos empresários, que lucram com a manutenção de medidas como a reforma do ensino médio.

Nesse marco, é preciso refletir quais são as tarefas do movimento estudantil e das suas entidades, como o Centro Acadêmico da Faculdade de Educação da USP, o CAPPF, atualmente dirigido pelo coletivo Afronte (PSOL), que concorre às eleições pela chapa Sonhar exige luta neste ano, junto com estudantes independentes. Para nós, a principal tarefa neste momento, é batalhar pela revogação completa e integral do novo ensino médio, o que só pode ocorrer com uma luta independente do governo.

A nível nacional, junto às reformas trabalhista e da previdência, está colocado um enorme ataque à educação pública com o novo ensino médio. São medidas que o governo afirma a todo momento que não revogará, mostrando que hierarquiza os empresários e grandes tubarões do ensino, mesmo quando é o destino de vários jovens, filhos da classe trabalhadora, que está em risco ao serem relegados aos piores postos de trabalho e à ideologia neoliberal que busca convencê-los de que são seus próprios patrões. Além de se tratar de um brutal ataque à juventude, a manutenção do NEM representa um enorme ataque à categoria de professores.

Como se não bastassem anos de sucateamento do ensino e da nossa futura profissão, uma série de professores não estão dando aulas ou estão lecionando disciplinas para as quais não são formados, por conta da reforma do ensino médio. No estado de São Paulo, o quadro de implementação dessa medida é o mais avançado do país, o que se combina ao fechamento massivo de salas e a falta de contratações de funcionários, o que afeta ainda mais a vida dos professores, deixando claro como os interesses dos governos são diferentes dos nossos.

É nesse sentido que uma das principais tarefas do movimento estudantil da FEUSP é a revogação integral do novo ensino médio, justamente por essa ser uma política que afeta diretamente nossa área de formação, ao passo que precariza ainda mais o ensino da juventude, reforçando uma lógica bancária de educação.

Na USP, vemos um cenário de crescente ataque às condições de permanência e de estudo, que se combinam ao avanço do trabalho precário e semi-escravo na universidade pela via da terceirização. Na FEUSP, em específico, os estudantes são afetados pela falta de pagamento das bolsas, de contratação de professores e com as moradias precárias do CRUSP. Vemos também a redução de oferta de disciplinas, professores em contratos temporários, sendo o instituto com a maior concentração de docentes nessa condição de trabalho, trazendo desdobramentos diretos sobre a pesquisa e a extensão em um curso de educação.

Acreditamos que é preciso um movimento estudantil fortalecido e independente dos governos e das reitorias para encarar essas medidas, algo completamente diferente da linha seguida pelas entidades dirigidas pelo Afronte. Com uma estratégia parlamentar a institucional, essa organização cumpre o papel de fomentar uma visão de que o governo federal está em disputa, valorizando as pequenas movimentações, em detrimento da construção de uma luta independente dos estudantes, aliada à classe trabalhadora. Com efeito, a sua visão é de que o principal papel dos estudantes é aguardar medidas do governo ou pressioná-lo à esquerda. No entanto, a realidade é outra: a escolha por setores como Alckmin, Tebet, e mesmo de representantes do Todos pela Educação no MEC já nos mostram que a conciliação do governo tem um lado, e que este não é o da juventude e dos trabalhadores. É preciso impor a revogação das reformas e das medidas reacionárias dos últimos anos pela via da nossa mobilização, o que exige a construção de uma política independente dos governos cotidianamente em cada local de estudo e trabalho, sem perder a ambição de construir uma sociedade que se livre das amarras do capitalismo.

Nesse sentido, a política adaptada aos governos e à institucionalidade tem expressões concretas na FEUSP. Nos últimos dois anos, em que a gestão do Afronte se manteve sem garantir eleições, algo mínimo e necessário para a manutenção da democracia, e sem ao menos discutir a decisão de adiar as eleições com os estudantes, em espaços como assembleias eleitorais, vimos uma entidade que não organizou nossas lutas ou debates políticos. Muitos se viram afastados da sua entidade de representação, não por despolitização dos alunos, como afirma o Afronte nas poucas assembleias que fez, mas por não contarem com uma ferramenta para impulsionar sua auto-organização de modo que fossem sujeitos dos rumos do movimento estudantil.

A ausência desses espaços impossibilitou que pudéssemos discutir entre nós não só como nos mobilizarmos frente aos ataques à educação, mas também sobre as questões mais sentidas pelos estudantes no curso. No dia a dia, sentimos dificuldade para articular os estágios obrigatórios com nossa dupla ou tripla jornada de trabalho, assim como nossos salários estão cada vez menores, em condições de trabalho marcadas pela sobrecarga e assédio das direções e coordenações das escolas. Ao mesmo tempo, nosso currículo precisa ser discutido, afinal, como educadores, não deveríamos ter mais disciplinas obrigatórias sobre as opressões no curso? Não deveríamos refletir como acessibilizar cada vez mais o ensino aos estudantes PCDs?

Contudo, após dois anos com baixos debates no curso e sem qualquer autocrítica, a gestão impulsionada pelo Afronte impôs eleições às pressas, por fora de qualquer amplo debate do curso sobre o papel histórico e as políticas das entidades estudantis. Parte do curso é pego de surpresa pelas eleições, sem que haja debate sobre as tarefas do movimento estudantil e de como retomar o protagonismo dos estudantes na luta.

A decisão, inclusive, de seguir na entidade sem qualquer assembleia eleitoral para ratificar a continuidade ou não da gestão é uma das expressões desse descrédito sobre nosso papel político para decidir os rumos da nossa entidade. Isso traz enormes reflexos sobre a relação que os estudantes têm com o centro acadêmico. A ausência de chapas de oposição para disputar o projeto político de centro acadêmico é uma prova disso.

Outro aspecto importante é que a política de subordinação e confiança nas instituições imposta pelo Afronte em suas entidades, estende-se também às reitorias. Sua última gestão foi marcada pela falta de organização dos estudantes contra uma série de ataques da reitoria aos estudantes e aos trabalhadores, isso é exemplificado com a sua não participação em conflitos como os das trabalhadoras terceirizadas da FMUSP, que estavam sem salário, ou mesmo nas lutas por mais contratações de trabalhadores no bandejão, que sofrem com lesões físicas devido à sobrecarga do trabalho repetitivo. Seria extremamente forte um curso composto majoritariamente por mulheres, várias delas negras, em apoio a essas lutas. Basta imaginar o quão potente seria a junção entre estudantes e trabalhadores, efetivos e terceirizados, para paralisar essa universidade por permanência para toda demanda e por melhores condições de trabalho.

A unificação desses setores pode cumprir o papel de influenciar setores de fora da universidade, ao nos apoiarmos na vitrine política que é a USP. A questão é que, mesmo no atual programa da chapa impulsionada pelo Afronte, sequer há menção sobre o papel da PRIP ou da reitoria, ao passo em que não se aponta uma perspectiva de luta contra essas instituições que tanto atacam as condições de permanência estudantil, como vemos no CRUSP. Para nós, da Faísca, é preciso exigir a abertura imediata do livro de contas da universidade, bem como a garantia imediata de mais contratações, que devem se combinar à batalha pelo fim da terceirização.

O ponto é que, para impor a revogação integral do novo ensino médio e batalhar contra a terceirização e os ataques à USP, é preciso de uma política independente dos governos e das reitorias desde as entidades estudantis. É necessário retomar o histórico de enfrentamento da FEUSP para sermos parte da construção das fortes mobilizações contra os retrocessos que representam a herança do bolsonarismo, e que não serão revogados pelo atual governo. Também precisamos lutar contra outras medidas privatistas que virão. Tudo isso como parte de um movimento que batalha para que as próximas gerações vivam em outra sociedade, com pleno direito à educação, sem o massacre das reformas econômicas e demais amarras do capitalismo.

Fazemos parte daqueles que lutam pela revolução socialista e pela construção de uma sociedade comunista, em que não haja exploração e opressão. Desde o início do ano viemos organizando atividades como Tour Comunista e o Grupo de Estudos Comunista, para levantarmos os debates marxistas na universidade, que há mais de um século já diziam que não poderemos conquistar nada se aliando à burguesia. Seguimos batalhando por um movimento estudantil que seja independente dos governos, que se organize desde as bases, aliado aos professores e em conjunto da classe trabalhadora pela revogação integral da reforma do ensino médio, da reforma da previdência e trabalhista, contra o novo arcabouço fiscal e pelo não pagamento da dívida pública, para que não sejam os trabalhadores e os setores mais oprimidos que paguem pela crise.

Vemos que, para isso, é fundamental a aliança entre trabalhadores, estudantes e professores contra a precarização do trabalho, bem como pela garantia de permanência para toda a demanda, além de cotas étnico raciais e cotas trans proporcionais ao números destes em cada estado, em rumo ao fim do vestibular. Também se faz necessário, em um momento em que atacam pela direita o currículo das escolas e universidades, que os estudantes sejam sujeitos de refletir qual currículo, quais temas e debates são fundamentais nas salas de aula, diante das nossas necessidades e da importância de se fomentar o pensamento crítico.

Justamente por isso chamamos todos os estudantes a se integrarem a nossa campanha nacional contra a terceirização e pelo direito ao BUSP às trabalhadoras. Chamamos a todes que levantem conosco um forte manifesto, que conta com assinatura de mais de mil juristas, intelectuais e figuras públicas, rechaçando o trabalho precário, a terceirização e as reformas. Como já dito anteriormente, a USP conta com diversas trabalhadoras terceirizadas, que não têm acesso a direitos mínimos, como o direito ao transporte, e por isso levantamos a necessidade do BUSP às trabalhadoras terceirizadas. Por uma universidade à serviço da classe trabalhadora e do povo pobre.




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