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CRISE NO GOVERNO | Por trás da troca de farpas entre Dilma e Cunha... os ajustes

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ironicamente nesta segunda-feira que lamenta "que seja com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo", referindo-se aos casos de corrupção na Petrobras investigados pela Operação Lava Jato - do qual ele mesmo, também ironicamente, esta envolvido.

Fernanda PeluciDiretora do Sindicato dos Metroviários de SP e militante do Mov. Nossa Classe

segunda-feira 19 de outubro de 2015 | 23:57

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ironicamente nesta segunda-feira que lamenta "que seja com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo", referindo-se aos casos de corrupção na Petrobras investigados pela Operação Lava Jato - do qual ele mesmo, também ironicamente, esta envolvido. A declaração foi uma resposta à presidente Dilma Rousseff que, durante entrevista neste domingo, 18, na Suécia, lamentou que "seja com um brasileiro" a denúncia de contas não declaradas na Suíça contra o presidente da Câmara.

Cunha é um dos políticos denunciados pela Procuradoria-Geral da República a partir de uma denúncia por delação premiada (benefício legal concedido a um réu que aceite colaborar na investigação ou entregar seus companheiros), da qual o Júlio Camargo, delator da Lava Jato, afirmou ter entregado R$ 5 milhões ao presidente da Câmara oriundos de desvios de contratos da estatal Petrobras. Camargo, que trabalhou para fornecedores da Petrobrás e diz ter pago R$ 137 milhões em propina para o PMDB, o PT e funcionários da estatal, é faz denúncias nas investigações da Lava Jato desde outubro do ano passado, quando assinou um acordo de delação premiada e confessou vários dos seus crimes.

Nos últimos dias, especula-se que o Palácio do Planalto e Lula promoveram "negociações de bastidores" e conchavos políticos para tentar salvar o mandato de Cunha no Conselho de Ética da Câmara. Em troca, estaria sendo negociado que o presidente da Câmara barrasse a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Diante do agravamento das denúncias que pesam sobre Cunha, porém, a situação do deputado está sendo considerada "insustentável" pelo Planalto e por petistas.

Na noite de quinta-feira, dia 15, o ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito para iniciar a investigação de Cunha devido às suas contas secretas mantidas por ele e seus familiares na Suíça, hoje um dos mais importantes escândalos de corrupção do país.

Na avaliação do ex-presidente do Brasil, em declaração dada na semana passada, Lula afirmou que "não adianta o PT brigar para derrubar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se o governo não arrumar sua base parlamentar de apoio no Congresso e promover mudanças na economia", fazendo referência à saída de Levy do Ministério da Fazenda, pois segundo Lula, Levy pediu mudanças na política econômica para sair da crise e defendeu o afrouxamento do ajuste fiscal, voltando a dizer que o ministro da Joaquim Levy, tem "prazo de validade".

Levy vem sendo alvo constante do jogo ambivalente do ex-presidente. O póprio Diretório Nacional do PT irá se reunir no próximo dia 29 e já anunciaram que cobrarão mais uma vez a substituição do ministro da Fazenda, além de um "novo eixo" para a política econômica, como se estivessem se importando com as mazelas sofridas pelos trabalhadores frente o andamento dos ajustes implementados por eles mesmo, quando são eles próprios os protagonistas dos milhões desviados indevidamente pelo PT, denunciados nos escândalos de corrupção que correm a anos no Brasil.

No final das contas acaba sendo um jogo de empurra-empurra para manter a estabilidade do regime e, por hora, sem nenhuma renúncia. Eduardo Cunha, em entrevista à imprensa nesta segunda-feira, 19, declarou repetidas vezes que não pretende renunciar ao cargo. "É importante deixar claro o seguinte: fui eleito pela Casa. Aqui só cabe uma maneira de eu sair, é renunciar. E não vou renunciar. Então, aqueles que acham que podem contar com minha renúncia, esqueçam, eu não vou renunciar".

Ou seja, por hora, ainda que pareça incrível com tamanhas denúncias não haver a queda de Cunha, o jogo de pressão do PT apenas serve para melhorar as negociações e evitar maiores oposições do presidente da câmera em torno da “agenda econômica do país”: descarregar a crise nas costas dos trabalhadores.

Divisões no governo, unidade nos ataques

Para quem ainda acredita que as divisões e rachas entre os "partidos da ordem" poderia enfraquecer o governo, Dilma faz questão de cotidianamente colocar a imprensa que estão unidos para implementar os ajustes fiscais, como declarou recentemente que "o que nós conversamos na sexta-feira foi sobre quais são os próximos passos e qual é a nossa estratégia no sentido de que se aprovem as principais medidas sobre o equilíbrio fiscal".

Defensora de Levy em toda linha, a presidenta reforçou novamente ontem que não haverá "ruptura institucional" no Brasil, nem "crise política mais acentuada". Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Dilma afirmou que "Nós ainda temos de alcançar uma estabilidade política baseada em um acordo no sentido de que os interesses partidários, pessoais, de cada corrente, têm de ser colocados abaixo dos interesses do País". Questionada sobre a qual "acordo" se referia, a presidente respondeu: "Com toda a sociedade".

Enquanto o PT, Cunha e tantos empresários do alto escalão das empreiteiras encontram-se envolvidos nos tantos casos de lavagem de dinheiro público se digladiam em Brasília, a população segue pagando caro pelo preço da crise e desmandos dos governos federais e estaduais.

No jogo político em que ora fortalece a oposição em busca do impeachment de Dilma, ora enfraquece a oposição com novos escândalos, neste barco ninguém se salvaria se fosse instaurada uma comissão independente de trabalhadores e da juventude para avaliar a grande roubalheira que dia a dia mancha a história de nosso país em troca de mais miséria para a população, aumento da inflação, privatizações e demissões. Enquanto seguem os conchavos no governo para lavar a cara dos políticos corruptos, a unidade entre eles para aplicar os ajustes se mantém praticamente intacta.




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