×

GUERRA IRAQUE | O Reino Unido invadiu o Iraque sem provas “justificadas”

Um informe oficial revelou que o Reino Unido invadiu o Iraque no ano de 2003 sem haver “esgotado todas as opções pacíficas” e sem provas justificadas. A responsabilidade de Tony Blair.

quinta-feira 7 de julho de 2016 | Edição do dia

Tony Blair impulsionou a invasão do Iraque em 2003 “antes de esgotar todas as opções pacíficas”, e baseado na “inteligência falha” que “se apresentou com uma certeza que não estava justificada”. Essas são algumas das conclusões, devastadoras para o ex-primeiro-ministro trabalhista, do informe Chilcot, apresentado ontem em Londres, que sintetiza sete anos de investigação sobre a participação do Reino Unido na guerra do Iraque.

O chamado “informe Chilcot” foi elaborado por John Chilcot, antigo funcionário do ministério britânico pela Irlanda do Norte, que revisou, com a ajuda de vários colaboradores, uns 150 mil documentos, muitos deles confidenciais.

A investigação foi aceita pelo primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown - no poder entre 2007 e 2010 - após intensas pressões de políticos e das famílias dos 179 militares britânicos que perderam a vida no conflito armado.

Entre outros documentos, o informe publicou as 29 cartas e notas que foram trocadas entre 2001 e 2007 por George W. Bush e Tony Blair, que acabaram formando uma coalizão militar, junto com o Estado Espanhol, para atacar o Iraque e derrocar seu presidente de então, Sadam Hussein.

Blair prometeu a Bush apoio incondicional em 2002 para invadir o Iraque
No informe, está indicado que seu propósito foi “considerar o período que abarca do verão de 2001 ao final de julho de 2009, que implica a gestão do conflito no Iraque, a ação militar e suas sequelas”.

Em seu documento, de 12 volumes, Chilcot colocou o peso da responsabilidade em Blair e revelou o alcance de sua aliança com o então presidente dos EUA, George W. Bush, que em 2002 lhe prometeu apoio incondicional para invadir o Iraque.
“Estarei contigo aconteça o que acontecer”, escreveu Blair a Bush em 28 de julho de 2002, oito meses antes de seus países entrarem em um conflito com consequências para o Iraque, Oriente Médio e para a sociedade britânica, que organizaram numerosas manifestações por entenderem que a intervenção não tinha uma clara justificação legal.

No memorando em que lhe oferece apoio incondicional, Blair recomenda ao ex-presidente republicano conseguir uma resolução das Nações Unidas autorizando a ação armada, o que acabou não conseguindo.

Nesse documento, Blair admite que não está seguro de poder conseguir respaldo no Reino Unido para o plano de Bush de atacar Hussein por qualquer meio, nem sequer em seu próprio Governo. “Se ganhamos rápido, todo o mundo será nosso inimigo. Se não ganhamos e não tiverem implicado antes, começarão as recriminações.”, alerta o dirigente britânico a seu colega estadunidense.

Ao apresentar nesta quarta-feira seu documento no centro de conferências em Queen Elizabeth II, no bairro londrino de Westminster, Chilcot afirmou que a alternativa militar “não foi a última opção” disponível do Governo trabalhista de então e que a informação da inteligência para justificar a guerra foi “falha”.

As consequências da invasão foram subestimadas, apesar das “advertências explícitas” a respeito e da planificação da situação de pós-guerra no país árabe, foi “totalmente inadequada”, acrescentou Chilcot.

“Está claro agora que a política sobre o Iraque se fez sobre a base de uma (informação de inteligência) falha (...). Esta não se questionou e deveria tê-lo feito.”, afirmou Chilcot, cujo informe foi muito mais devastador contra Blair do que se esperava.

Resposta da coalizão contra a guerra

A coalizão antiguerra Stop the War, que organizou desde 2003 mobilizações multitudinárias contra a guerra do Iraque, emitiu um comunicado público após tomar conhecimento do conteúdo do informe.

Nele afirmam que “o informe Chilcot é uma dura crítica a Tony Blair e aos que o rodeiam, que nos levou à guerra no Iraque”, e continuam “é claro que Blair utilizou mentiras e enganações para se sair bem e que a guerra era desnecessária e ilegal”.
Após celebrar que o informe tenha sido tão contundente contra a administração Blair, a coalizão Stop the War chamou a realizar marchas e atos em todas as cidades e pediu sanções legais contra Tony Blair e sua inabilitação para ocupar qualquer tipo de cargo público.

Durante a leitura do informe, foram realizadas algumas manifestações, enquanto a mobilização em Londres é chamada para a manhã de hoje.

Tradução: Vitória Camargo




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias