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Ricardo Antunes | Lançamento do livro “Ricardo Antunes: para além do mundo do trabalho” na Unicamp

No dia 19 de Abril, última quarta-feira, na Unicamp, aconteceu o lançamento do livro “Ricardo Antunes: para além do mundo do trabalho”. Uma obra em homenagem a esse grande sociólogo marxista do trabalho, que tanto contribui para as lutas e a emancipação da classe trabalhadora mundial. O livro, organizado por Cláudia Nogueira e Caio Antunes, conta com o depoimento de diversos intelectuais e colegas de Ricardo, que escrevem sobre a sua importância para a sociologia e para o estudo da vida social de conjunto.

Juliana Begiatoestudante de Ciências Sociais da UNICAMP

sexta-feira 21 de abril de 2023 | Edição do dia

Cláudia Nogueira, professora da Unifesp , abriu a mesa de lançamento explicando que o objetivo do livro, é, em suas palavras, "Não só homenagear o intelectual Ricardo Antunes (...), ou seja, homenagear o Ricardo, o Ricardo para além do mundo do trabalho". Esse livro, que foi organizado em segredo, expressa, portanto, a contribuição de um Ricardo Antunes intelectual e humano, de sua generosidade e humanidade ímpar, como diversos colegas remarcaram ao decorrer da mesa. Cláudia ainda cita um trecho de um poema de Mario Benedetti que se chama “Não te rendas”, do qual transcrevemos aqui um trecho representativo da força do credo na luta por um novo modo de vida, que está expresso em cada obra de Antunes:

Não te rendas, por favor, não cedas,
ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda,
ainda que o sol se esconda,
e se cale o vento:
ainda há fogo em tua alma
ainda há vida nos teus sonhos.

Murillo van der Laan, orientando de Ricardo Antunes, deu seguimento ao lançamento do ponto de vista da importância da obra de Ricardo Antunes para o debate de trabalho no Brasil e no mundo. Segundo Murilo, “Se muita gente valorosa segurou e veio segurando o debate do trabalho no Brasil, o Ricardo Antunes é uma figura ímpar. (...) O Ricardo reitera incessantemente a necessidade de, aqui mesmo, nesse lugar, manter viva uma perspectiva revolucionária. Manter vivo um horizonte, nas palavras dele, de reinvenção de um novo modo de vida.”

Para além de uma obra de valor intelectual inquestionável, o objetivo de Ricardo Antunes na utilização dessa obra enquanto arma para luta e emancipação do proletariado é realmente de um valor inestimável. Como aponta Murillo, Ricardo mantém viva uma perspectiva revolucionária, carrega em cada linha de sua obra o objetivo marxista da criação de um novo mundo e a crença de um futuro livre da exploração do trabalho humano.

E é justamente isso que Jesus Ranieri, professor de sociologia da Unicamp, reitera ao falar que “A sua contribuição está para além da sociologia do trabalho, é realmente uma teoria social. (...) Você tem dois objetos e objetivos que se confundem. O primeiro é a emancipação da classe trabalhadora, enquanto uma particularidade, enquanto universalidade é isso estendido para a humanidade como um todo”

E não pode-se deixar de colocar, quando se fala sobre Ricardo Antunes, a importância ímpar da prática alinhada à teoria. Defender a classe trabalhadora e ser sensível a cada trabalhador precarizado, leva Antunes, por exemplo, a escrever, junto com Souto Maior, um manifesto contra a precarização do trabalho. Sobre essa coerência explícita entre a pesquisa e a produção excelentes de Antunes sobre o mundo do trabalho, e sua atuação na luta pelo fim do sistema capitalista, Roberto Heloani, professor da Faculdade de Educação da Unicamp, afirmou no lançamento: “O Ricardo Antunes une um episteme universal, a um humanismo a toda prova. (...) É raro se ter um brilhantismo intelectual acadêmico e ao mesmo tempo um humanismo pujante. (...) Coerência entre o que se fala, o que se escreve e o que se faz.”

Enfim, o evento que se deu na Unicamp foi de todo emocionante e sensível, como não poderia ser diferente ao tratar de uma homenagem a um intelectual que aos 70 anos segue firme na defesa da classe trabalhadora mundial, que luta incessantemente contra as mazelas do capital e a miséria da vida humana, visando a emancipação de todos os trabalhadores rumo ao comunismo.

Para finalizar o lançamento, Ricardo Antunes interveio agradecendo uma série de pessoas que contribuíram e contribuem para sua jornada acadêmica, relembrando sua trajetória na FGV, seu descobrimento enquanto um inimigo do capital, e não um gestor deste. Retoma também sua contribuição de décadas para a Unicamp, e finaliza o lançamento do livro com duas notas que escreveu, uma de pessimismo e uma de otimismo. Transcrevo aqui a nota de otimismo, que fecha sua mesa, e que carrega em si a esperança que mantém nós, jovens revolucionários, trabalhadores, intelectuais da classe trabalhadora, certeiros de um futuro livre, que tem sua célula no presente:

“Nota de otimismo: diziam que o trabalho havia desaparecido, que a classe trabalhadora ou havia desaparecido ou que o trabalho afinal perdera a relevância social. Se essas teses estavam certas, como podemos explicar 1. as lutas dos movimentos antirracistas; 2. a magistral e secular resistencia dos povos originários; 3. a revolução feminista em curso em escala global; 4. a insurgencia contra o aumento do tempo de trabalho é obra de quem, senão da classe trabalhadora francesa? Como explicar em pleno ano da glória de 2023 a sublevação e rebelião naquele país, sem pensar na classe trabalhadora ampliada? Onde está a classe trabalhadora? É aquela que cresce no mundo, na China, na Índia, na África, na América Latina. Como explicar o aumento das greves na Inglaterra. Como explicar que na mesma Amazon que em 2021 impediu a criação de um sindicato, em Alabama, em 2022 surge um sindicato em Nova Iorque. Como explicar a explosão global do proletariado de serviço cada vez mais uberizado e intermitente. Como entender a monumental explosão do trabalho feminino no norte e no sul do mundo? Como entender a proletarização precoce da juventude. Como entender a expansão global do trabalho imigrante, com suas lutas pela dignidade humana na vida e no trabalho.

(...)

Numa carta de 17 anos ao seu pai, Marx escreve: “mas o guia que deve nos conduzir na escolha de uma profissão, é o bem estar da humanidade… A natureza humana é constituída de modo que ele apenas pode alcançar sua própria perfeição trabalhando pela perfeição, pelo bem, de seus iguais. Reflexões de um jovem procurando pela sua profissão”.”

Dessa forma, encerramos esse texto expressando a admiração que nós, do Esquerda Diário e da Faísca Revolucionária, temos por Ricardo Antunes, que, como disse Marx para seu pai aos seus 17 anos, encontra em sua profissão um modo de trabalhar incansavelmente pelo bem de seus iguais, pelo bem estar da humanidade.




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