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Assassinato do Índio Galdino | Galdino Pataxó, vive! Há 26 anos, o cacique era queimado vivo na W3 Sul em Brasília

Hoje completam-se 26 anos do assassinato do índio Galdino Pataxó em Brasília. O cacique indígena foi queimado vivo enquanto dormia na W3 Sul por cinco playboys, o advogado dos assassinos foi o atual governador do DF, o bolsonarista Ibaneis Rocha. Um crime que ainda hoje é uma ferida aberta, escancarando a realidade dos povos indígenas no Brasil, e a realidade de Brasília. O grito por justiça à Galdino segue ardente na luta pela vida, território e cultura dos povos indígenas.

Luiza EineckEstudante de Serviço Social na UnB

quinta-feira 20 de abril de 2023 | Edição do dia

Imagem: Bruna Bez

“Vivi no mês de abril, na capital do país. Numa avenida próxima à avenida próxima ao Congresso Nacional. Atiraram fogo em alguém, dizendo ser um João Ninguém, dizendo não ser ninguém.”

Assim começa a música que Ubiranan Pataxó, primo de Galdino, cantou em sua homenagem em entrevista ao Esquerda Diário no Acampamento Luta pela Vida em Agosto de 2021 em Brasília na luta contra o Marco Temporal.

Veja mais: Ubiranan Pataxó faz linda homenagem a Galdino Pataxó, indígena assassinado em Brasília

Ele relata sobre o assassinato do líder indígena pataxó de mais de 2000 mil indígenas do povo Hã-hã-hãe (sul da Bahia) na madrugada do dia 20 de abril de 1997, após sua participação, defendendo sua terra de fazendeiros do sul da Bahia, em um evento indígena realizado no Congresso no dia do indígena (19 de abril). Galdino, sem um lugar para passar a noite, dormiu precariamente em uma parada de ônibus na W3 Sul, quando cinco jovens passaram de carro e tiveram a ideia de jogar gasolina e fogo nele.

“Parece que a justiça protege filhinho de papai, ele mata, ele queima, ele rouba e da cadeia logo sai. Mas quem conhece a lei disse que foi brincadeira, uma ‘simples’ brincadeira”. Segue a música.

Tomás Almeida, Eron Chaves, Antônio Novely, Max Rogério Alvez e G.A.J são os responsáveis pelo crime e filhos da alta elite de Brasília. Foram condenados por crime hediondo, mas já estavam em liberdade antes de cumprir um sexto da pena. No julgamento disseram ter sido uma “brincadeira” e que haviam confundido ele com um morador de rua, como se isso fosse justificativa para atear fogo em alguém e assistí-lo arder até a morte.

O atual governador de Brasília, Ibaneis Rocha, o milionário bolsonarista e conivente com os atos da extrema-direita em janeiro deste ano, 2023, era presidente da OAB na época e advogou em defesa dos assassinos, acumulou em sua carreira o título de “advogado de playboy assassino”, e os garantiu liberdade assistida. Seguindo seu histórico higienista e racista.

Como se não bastasse, hoje todos os cinco são servidores públicos e recebem mais de 15 mil reais por mês. Com cargos de técnico legislativo do Senado Federal, agente do Detran-DF, servidor da Secretaria da Saúde do DF, analista judiciário da Corte Distrital e policial rodoviário federal. G.A.J, o policial, recebeu uma promoção no governo Bolsonaro.

Escancarada a impunidade, é difícil não nos revoltar. Mas a justiça brasileira gosta de remarcar: tudo em nome de garantir os privilégios da burguesia. No Estado capitalista, a “democracia e justiça” é escolhida a dedo, e para os povos oprimidos, como os indígenas, e para classe trabalhadora ela não existe.

O caso de Galdino é uma ferida aberta na luta dos povos originários em nosso país, e demonstra o que em Brasília, a capital da desigualdade - que amanhã completa 63 anos -, está colocado para os setores mais oprimidos. O “apartheid social” na capital é gráfico, enquanto Ibaneis mora na mansão mais cara do DF, diversas pessoas se encontram na situação de Galdino naquela noite, dormindo em uma parada de ônibus, sendo despejados, reprimidos e assassinados. E, os apartamentos de luxo do plano piloto encontram-se vazios para a especulação imobiliária ou sendo garantidos para os deputados, militares e políticos.

"Todas as tribos do mundo se uniram e deram as mãos chorando a carne e o sangue, guerreando em busca de paz (...) Viva Galdino Pataxó, grande guerreiro! Pelo respeito a nossa etnia”. Ubiranan termina a música.

Os povos indígenas nunca abaixaram a cabeça, há séculos lutam e se enfrentam com o colonialismo, o racismo e as diversas faces do capitalismo, pelo direito à vida, ao território e à cultura. Os ataques se aprofundaram no governo Bolsonaro com o Marco Temporal, a PL 490 e o Pacote Ambiental, sem contar com a devastação de terras pelo agronegócio e o latifúndio, e saques pelo garimpo, um exemplo foi a crise dos Yanomami.

A marca da extrema-direita segue profunda, porém os povos indígenas em 2021, deram uma aula de qual caminho seguir para lutar contra os ataques e pela demarcação de suas terras. A luta nas ruas. O concreto e asfalto de Brasília naquele momento sentiam o peso dos pés indígenas que não paravam de dançar e lutar um só minuto. Foram mais de 10 mil indígenas, de 150 etnias, que tomaram as ruas do planalto central, e em cada grito ecoava o grito por justiça por Galdino, mas também cada indígena assassinado pelas mãos do Estado e agronegócio predatório, que hoje o governo Lula-Alckmin está junto em alianças, e que buscará administrar o capitalismo e sua miséria. As mulheres indígenas em seu acampamento, também em 2021, foram à praça que tem o nome de Galdino e fizeram uma forte mobilização.

Há 26 anos sem justiça, Galdino Pataxó Jesus do Santos segue vivo em nossa luta por uma sociedade sem opressão e exploração, na luta pela demarcação de todas as terras indígenas e quilombolas, pela revogação de todos os ataques e reformas e contra a impunidade da burguesia escravocrata e racista!

Galdino, presente! Hoje e sempre!




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