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HÁ 51 ANOS DO GOLPE MILITAR | Ditadura e resistência: Mulheres que foram à luta

Após o Golpe de 1964, homens e mulheres encontraram na luta armada uma possível saída para combater a ditadura militar no Brasil, vários grupos de resistência ao regime se formaram no país.

quarta-feira 1º de abril de 2015 | 00:01

Enquanto uma boa parte das mulheres de classe média e alta organizadas em movimentos como União Cívica Feminina (UCF); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), estavam encabeçando a Marcha da família com Deus pela liberdade (1964), financiadas pelos homens da elite empresarial-militar que queriam derrubar o governo de Jango na suposta ‘ameaça’ comunista, outras se organizavam para politizar as relações cotidianas e transformar a qualidade das relações entre mulheres e homens.

Após o Golpe de 1964, homens e mulheres encontraram na luta armada uma possível saída para combater a ditadura militar no Brasil, vários grupos de resistência ao regime se formaram no país como a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), POLOP, dentre outros. Nessas organizações a presença das mulheres foi constante, porém não é dada muita visibilidade a luta travada por essas militantes e suas trajetórias de vida, diminuindo-as sempre a meras parceiras de revolucionários e raramente são colocadas como precursoras, cabeças do movimento.

Segundo o sociólogo Marcelo Ridenti, cerca de 18% dessas organizações de extrema-esquerda era composta por mulheres. Porém, esses dados estão embasados nos registros oficiais de processos de presos políticos, o que nos faz pensar que a porcentagem de mulheres envolvidas na militância à época seja bem maior do que 18%.

O fato de mulheres participarem desses movimentos, - de resistência à ditadura militar, seja os da esquerda armada e/ou clandestina, seja os movimentos de denúncia e de direitos humanos, fez com que elas pudessem se ver como protagonistas na cena política e de forma coletiva, e isso, junto com o que estava acontecendo no resto do mundo, fez com que elas questionassem seus papéis tradicionais e seu lugar na política brasileira, principalmente dentro das organizações de esquerda.

Isso corroborou para que a esquerda brasileira ampliasse o debate sobre as desigualdades de gênero, a participação política das mulheres relacionando-as com as desigualdades de classe, tendo em vista que antes mesmo do Golpe militar as mulheres trabalhavam em fábricas, nas indústrias, elas foram a grande maioria do operariado do setor têxtil e também muito importante nos setores de alimento, porém, em condições insalubres de trabalho.

O Estado militar via como uma afronta o fato de mulheres estarem envolvidas na resistência contra a ditadura militar no Brasil, é como se estivessem ocupando um espaço que não estava designado a elas. Elas eram consideradas subversivas, e quando capturadas, as torturas nas quais sofriam adquiriu um caráter específico: uma violência baseada no gênero. Os estupros eram constantes, as violências psicológicas também, objetos eram introduzidos em seus órgãos sexuais, independente se essas mulheres estavam grávidas ou não.

Segundo a ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) presa em São Paulo (SP), no ano de 1969:

Eu vejo a cara do estuprador. Era uma cara redonda. Era um homem gordo, que me dava choques na vagina e dizia: ‘você vai parar eletricidade’. Depois disso, me estuprou ali mesmo [...] O estupro foi nos primeiros dias, o que foi terrível para mim. Eu tinha que lutar muito para continuar resistindo. Felizmente eu consegui. Só que eu não perco a imagem do homem. É uma cena muito presente [...] Me tratavam de ‘puta’, ‘ordinária’. Tratavam-me como uma pessoa completamente desumana.

Nesse contexto, as militantes passaram a denunciar as atrocidades que estava sendo cometidas pelos militares, policiais e alguns civis contra os e as militantes das organizações e partidos de esquerda, como sequestro, tortura, assassinato e sequestro de filhos. Um desses movimentos no Brasil foi o Movimento Feminino pela Anistia, as propostas iniciais do Movimento eram a luta pela anistia política e contra a discriminação das mulheres.

Iara Iavelberg, Nilda Carvalho Cunha, Telma Regina Cordeiro Corrêa, Zuleika Angel Jones, Liliana Inés Goldemberg, Dinalva Santana Coqueiro, dentre centenas de outras mulheres foram presas, sequestradas, humilhadas, difamadas, perseguidas, mutiladas, assassinadas, “desaparecidas”, foram tratadas como subversivas, traidoras da pátria, prostitutas, indigentes, foram separadas dos seus filhos, sofreram “exílio interno”, atuaram na clandestinidade, foram separadas de suas famílias, sofreram torturas psicológicas, físicas, dentre outras atrocidades.

Silenciar essas vivências, a luta dessas mulheres é se aliar a ordem patriarcal, ao machismo. Invisibilizar a resistência das militantes dentro das próprias organizações de esquerda é uma tentativa de ignorar o protagonismo de guerreiras. Tendo em vista esses aspectos, todo resgate relacionado a luta – substantivo feminino, de mulheres combativas, as trajetórias geram combustível para continuarmos lutando pelo fim das opressões de gênero e por uma maior presença de mulheres na política brasileira.




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