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Machismo | Capitalismo e patriarcado perdoarão o estuprador Daniel Alves enquanto a vítima seguirá sendo condenada

Nesta quinta (22) o jogador Daniel Alves foi condenado a quatro anos e meio de prisão por agressão sexual em Barcelona. A vítima, uma mulher de 24 anos que não revelou sua identidade, vem sendo alvo de uma série de comentários machistas. Não é o primeiro caso de machismo no futebol e expressa, mais uma vez, a responsabilidade do Estado capitalista na sustentação da opressão e violência contra as mulheres.

sexta-feira 23 de fevereiro | Edição do dia

Em uma boate de Barcelona, no dia 30 de dezembro de 2022, o jogador de futebol Daniel Alves estuprou uma jovem de 21 anos. Muito longe de um caso isolado, somente no Brasil ocorrem cerca de 822 mil casos de estupro todos os anos, segundo o IPEA, com uma média de 2 por minuto. O estupro, assim como o feminicídio, está entre os últimos elos de uma longa cadeia de violências às quais estão submetidas as mulheres na sociedade capitalista.

Como se o estupro fosse uma infração de trânsito, Daniel Alves teve sua pena reduzida devido à ajuda financeira de seu amigo Neymar, notório apoiador da extrema direita, que pagou o equivalente a R$800 mil em indenização à vítima. O fato é que, mesmo que sua pena não tivesse sido reduzida, ele manteria sua fortuna de quase R$300 milhões, além de seguir recebendo seu farto salário dos clubes com os quais tem contrato e contar também com o apoio de outros jogadores e de outros porta-vozes do machismo e do patriarcado, que naturalizam e relativizam a violência contra a mulher.

Enquanto isso, a mulher vítima de estupro, que teve inclusive o rosto exposto durante a repercussão do julgamento, agradeceu por ser ouvida. Isso deveria ser um direito elementar de todas as vítimas de violência: ter sua versão da história ouvida e apurada. O jogador chegou a mudar três vezes a versão da história, expressando grande inconsistência nas alegações de inocência. Nas redes sociais, além de acompanhar o apoio direto e indireto que Daniel recebe, a vítima tem sido alvo de comentários típicos destes casos, que terminam responsabilizando as mulheres pela violência sofrida. É questionado a respeito da roupa que usava, do quanto de bebida tinha ingerido, do horário em que se encontrava na boate, etc. O fato é que nenhuma pena que Daniel receba vai livrar ela de ser alvo do machismo enraizado na sociedade capitalista.

O nível de naturalização da continuidade da violência sofrida por uma mulher vítima de estupro é expressão da conivência do Estado capitalista com essas situações. A resolução relativamente rápida deste caso se distingue da ampla maioria das denúncias de violência contra a mulher. A maior parte dos casos não tomam as páginas de jornais e uma enorme parcela das mulheres que pedem ajuda são novamente violentadas em distintas gradações, seja pelo tratamento expositivo e machista recebido em delegacias, seja por continuarem obrigadas a conviver com o violentador, seja por julgamentos e audiências humilhantes como foi o caso de Mari Ferrer. Não é raro que as mulheres inclusive não denunciem a violência sofrida porque a mesma pessoa que as violenta é responsável também pelo sustento seu e dos filhos.

Em uma sociedade marcada pelo machismo e pela exploração capitalista, as mulheres seguem também sendo os principais alvos da pobreza, do desemprego, além de serem mais profundamente afetadas por retiradas de direitos e pela precarização dos serviços públicos. O mesmo Estado que sustenta as distintas expressões da violência de gênero é também quem impõe essa situação. A legítima luta por justiça para todas as vítimas de violência precisa ser um ponto de apoio para um combate ao conjunto da opressão e da exploração capitalista, sem nenhuma esperança neste mesmo Estado que mantém a ampla maioria das mulheres reféns do machismo e da precarização da vida. É por isso que qualquer resposta à violência de gênero por dentro das instituições deste Estado capitalista e patriarcal será sempre contra os efeitos do problema, mantendo as profundas estruturas que causam essa situação, sustentando e naturalizando esses casos.

É por isso que é preciso ir além das respostas individuais à violência machista, pois ao mesmo tempo em que ela dilacera a vida de cada uma das mulheres que vivenciam situações assim, a violência se conforma como um problema social, ao qual é necessário construir coletivamente uma resposta de transformação também social. É a organização das mulheres nos locais de trabalho e estudo, inclusive batalhando para que os homens também se convençam dessa luta, em aliança com o conjunto dos setores oprimidos, que pode forjar essa ação coletiva capaz de responder estruturalmente à violência machista.

É preciso lutar por um plano de emergência, financiado com recursos do não pagamento da dívida pública e da taxação das grandes fortunas, que envolva diversas ações e garanta condições de moradia e sobrevivência para que todas as mulheres vítimas de violência possam reconstruir suas vidas, sem a necessidade de uma queixa penal para o recebimento de recursos de assistências. Como parte disso, impor pela força da luta das mulheres junto à classe trabalhadora e todos os setores oprimidos o direito ao aborto legal, seguro e gratuíto, a revogação das reformas e de outros ataques como o Arcabouço Fiscal do governo Lula-Alckmin. Da mesma forma, a reversão de todos os cortes em recursos de combate à violência de gênero e serviços públicos com o saúde e educação, com a implementação de planos de educação sexual nas escolas e ampliação do atendimento de saúde às mulheres.

Essas são algumas medidas que visam o combate às estruturas sociais que sustentam a violência de gênero, e que só podem ser derrubadas a partir da auto-organização e da luta coletiva, com as mulheres e todos os setores oprimidos, aliados à classe trabalhadora, na linha de frente. O patriarcado não será julgado nem combatido pelas próprias instituições do Estado capitalista, ele não cairá por si só e terá que ser derrubado com a força da nossa luta.




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