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CEO da Uber confessa que pratica “discriminação algorítmica” coletando dados para diminuir salários de trabalhadores

O CEO da Uber admitiu que a empresa altera o pagamento de seus motoristas com base em seus "padrões comportamentais", ou seja, coleta dados de seus trabalhadores e usa-os para decidir quanto pagar a eles, diminuindo assim a média salarial e minando os direitos de igualdade salarial. Tudo que nós já sabíamos, que os entregadores e motoristas sentem na pele, agora admitidos pela própria empresa, uma série de mecanismos que amarra, chantageia e castiga o trabalhador.

sábado 17 de fevereiro | Edição do dia
Shawn Thew/EPA

Trabalhadores já acusaram inúmeras vezes a empresa de pagar valores diferentes para corridas iguais, violando direitos que estipulam salários iguais para trabalhos iguais.

Os motoristas e entregadores desconhecem os critérios utilizados pela empresa para definir os seus ganhos, que hoje são definidos com base em um conjunto de entradas de dados determinadas algoritmicamente, como condições de oferta e demanda em tempo real, concorrência de mercado e até mesmo o histórico dos motoristas como as taxas de aceitação, ao passo que antes os ganhos dos motoristas advinham de uma taxa fixa tendo como base o valor pago pelo consumidor na viagem.

Ou seja, cada trabalhador nunca vai saber nem quanto vai receber nem o porquê está recebendo aquele determinado valor. Em um experimento realizado pelo canal de YouTube “The RideShare Guy”, demonstrou que dois motoristas sentados lado a lado podem receber taxas de pagamento significativamente diferentes para a mesma viagem.

Após anos negando tal prática, o CEO da empresa Dara Khosrowshahi, em uma teleconferência, foi questionado especificamente sobre a política de "tarifas upfront" da Uber e respondeu: "Eu acho que o que podemos fazer melhor é direcionar diferentes viagens para diferentes motoristas com base em suas preferências, ou com base em padrões comportamentais que eles estão nos mostrando”. E continua: "Essa é realmente a ênfase para o futuro: oferecer a viagem certa, pelo preço certo, ao motorista certo."

Tudo que nós já sabíamos, que os entregadores e motoristas sentem na pele, agora admitidos pela própria empresa, uma série de mecanismos que amarra, chantageia e castiga o trabalhador.

Esse anúncio veio horas depois que a empresa anunciou seu primeiro lucro anual de US $ 1,1 bilhão, após acumular mais de US $ 30 bilhões em perdas desde 2014. Alguns analistas vincularam a reviravolta financeira da empresa à introdução da política de preços dinâmicos, que mascarou uma queda acentuada nos salários médios dos motoristas por trás de taxas de pagamento "personalizadas".

A precificação dinâmica foi introduzida pela primeira vez pela American Airlines para definir preços para os clientes. A Uber e outras plataformas da economia gig adaptaram-na aos seus trabalhadores, que são pagos antecipadamente por tarefa concluída, em vez de por hora ou por milha percorrida.

Os trabalhadores de app estão se mobilizando contra essa situação e denunciando as condições de trabalho, com greves e paralisações. No Reino Unido e nos Estados Unidos, ocorreu nesta semana uma forte paralisação, no mesmo dia do anúncio do lucro bilionário da empresa e também o dia que se comemora o Valentine’s Day, o dia dos namorados.

“Uma parte significativa desses motoristas, muitos dos quais são imigrantes ou os principais provedores da família, suportam jornadas exaustivas que se estendem além de 13 horas diárias, sem descanso”, disse o Delivery Job UK, um grupo britânico que organiza greves, em sua página do Instagram.

Em reportagem da BBC que entrevistou entregadores brasileiros no Reino Unido, esse foi um dos depoimentos:

“Nós tínhamos uma crença de que o inverno [entre os meses de dezembro e março no Hemisfério Norte] era o período em que se fazia mais dinheiro, já que as pessoas ficam mais em casa por causa do frio e das condições climáticas e acabam fazendo mais pedidos de comida", se pronuncia Ulisses Cioffi, brasileiro e entregador que mora no Reino Unido há 15 anos e que trabalha na Uber há 2 anos.

"Só que na prática isso não aconteceu [em 2024]. Estávamos ganhando o mesmo ou até menos do que no verão [entre junho e setembro de 2023]." E continua: “Em pedidos que antes ganhávamos 4 libras [R$ 24], passamos a receber 3,15 [R$ 19]. E mesmo quando fazíamos uma ordem dupla, com duas entregas numa mesma viagem, os valores foram diminuídos. Antes eram de 6,30 [R$ 39] e passaram a ser de 4,50 [R$ 28]”.

Esses trabalhadores dão o exemplo de como enfrentar as medidas extremamente abusivas da Uber e de todas as empresas de aplicativo, que exploram os trabalhadores e combinam as melhores e maiores tecnologias de ponta com as piores condições de trabalho possíveis dentro do sistema capitalista, se aproveitando de todas as misérias desse sistema, como por exemplo as desigualdades e os preconteceitos raciais, de gênero, idade, etc.

Nota produzida com informações coletadas do site Novara Media




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