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Análise | Bolsonaro vai ser preso?

Se essa pergunta fosse feita há um mês ninguém conseguiria dar uma resposta assertiva. No entanto, após a “tempestade perfeita” das últimas semanas, o score nos sites de apostas (e nos bolões dos grupos de zap) seguramente está em seu melhor momento.

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

sexta-feira 18 de agosto de 2023 | Edição do dia

Com certeza a última semana foi a pior da vida política de Bolsonaro, excetuando-se quando ele perdeu seu segundo mandato. Ele viu o hacker de Araraquara soltar uma rajada de denúncias na CPMI, seu ex-ajudante de ordens sinalizar uma possível confissão, cujo desfecho ainda é nebuloso, e ter seus sigilos bancário e fiscal quebrados por Alexandre de Moraes - medida estendida também a Michele Bolsonaro.

Os grandes jornalões dormiram e amanheceram em polvorosa. Todos analistas declararam que estavam assistindo um momento histórico, creditando ao STF o salvaguardas da democracia brasileira que pretendia ser surrupiada por uma gentalha de contrabandistas de caneta e relógio.

Por todos os movimentos feitos até o momento, existe a possibilidade de que a prisão de Bolsonaro ocorra. A denúncia de que Alexandre de Moraes teria sido grampeado - ou uma tentativa disso - geram consequências. A selfie de um general que foi do alto comando em um produto de contrabando, também. Além disso, não é uma casualidade que tudo ocorra simultaneamente na mesma semana. Há uma ofensiva articulada e coordenada.

O contexto internacional também pode oferecer algumas sugestões. O bom desempenho eleitoral do reacionário Javier Milei nas eleições primárias da Argentina há poucos dias talvez seja um fator nesse cálculo. Essas ações podem se relacionar ao senso de urgência provocado pela possibilidade de um maior fortalecimento de um aliado seu na América Latina.

A questão que fica é, e que nenhum grande veículo de mídia quer responder: porque Bolsonaro, que passou a ser a melhor opção da grande mídia e o favorecido pelo STF em 2018 agora se torna um alvo?

Dizer que seu mandato revelou o que ele realmente era não convence. Frases asquerosas e ações tresloucadas formam sua biografia. E mesmo assim, todos esses embarcaram no processo que resultou em sua chegada à presidência.

O problema principal é que um componente central, senão o principal, da política se chama hegemonia. Portanto, nunca é demais voltar a Gramsci. Entre as definições que o comunista sardo utiliza para explicar o conceito, podemos encontrar a capacidade de organização do consenso exercida no âmbito da sociedade civil. O que, convenhamos, nunca foi o forte de Bolsonaro.

Ainda que nenhum governante consiga a organização total do consenso na sociedade, ao menos essa tentativa deve ser buscada. Em tempos “normais” das democracias burguesas, um maior equilíbrio entre coerção e consenso é fundamental para manutenção da hegemonia burguesa, e o consenso não brota de um repolho, deve ser construído.

Bolsonaro pôde oferecer um projeto econômico ultraneoliberal, e por isso conquistou apoio de poderosas frações da classe dominante. Uma vez cumprido esse programa, era preciso aparar as arestas dos efeitos indesejados. Isto é, tornou-se indesejável a permanente desestabilização que seu modo de governo provocava.

Problema que a Frente Ampla de Lula e Alckmin se propôs a resolver, e por isso conquistou o apoio antes perdido entre estratos da classe dominante. É por isso que hoje Bolsonaro pode ser preso por um relógio ou uma caneta. Pode ainda ter uma condução coercitiva devido a denúncia de um hacker do interior paulista.

Para estabilização do regime político balançado pelo golpe institucional de 2016 e permeado por um mar revolto nos últimos anos, Bolsonaro deve ser parado. No entanto, todo o seu legado econômico será cuidadosamente preservado por todos aqueles que agora querem se apresentar como seu algoz.




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