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Argentina | 48 anos do golpe cívico-militar na Argentina: Por que haverá dois atos no 24 de março?

Neste domingo, completam-se 48 anos do golpe cívico-militar-eclesiástico de 1976 na Argentina. Na Plaza de Mayo, haverá dois atos, devido à recusa dos movimentos kirchneristas em compartilharem a praça com o Encontro Memória, Verdade e Justiça - espaço independente dos governos e que há décadas convoca mobilizações a cada 24 de março contra a impunidade e a repressão de ontem e hoje no país.

quarta-feira 20 de março | Edição do dia

Centenas de milhares vão marchar até as praças de toda a Argentina diante de um governo abertamente negacionista do genocídio perpetrado pelas Forças Armadas, um governo que justifica os crimes contra a humanidade e que trabalha para os mesmos interesses capitalistas que promoveram o golpe em 1976.

Em fevereiro, o Encontro Memória, Verdade e Justiça (EMVJ), um espaço independente de todos os governos, propôs "uma praça e dois documentos" para este ano, devido à urgência de convergir em massa na histórica praça e, ao mesmo tempo, às diferenças históricas e atuais com algumas organizações que não compartilham das estratégias de luta contra o governo de Milei e Villarruel.

Os organismos de direitos humanos historicamente ligados ao kirchnerismo e ao peronismo se recusaram a permitir que o Encontro Memória, Verdade e Justiça lesse seu documento na Praça. Nele será levantada, entre outras questões, a exigência urgente de uma greve nacional e um plano de luta - como reivindicam milhões - às lideranças das centrais sindicais CGT e CTAs. A decisão dessas organizações busca não se indispor com essa direção sindical que hoje mantém uma trégua diante do feroz ajuste neoliberal em curso.

Devido à negativa das organizações peronistas, ocorrerá um primeiro ato do meio-dia às 14 horas e depois o ato do Encontro Memória, Verdade e Justiça a partir das 14 horas.

Uma separação por "detalhes"?

É evidente que a maior unidade possível é necessária para derrotar todo o plano do governo de Milei e do FMI. O dia 24 é uma grande oportunidade para a classe trabalhadora e a esquerda argentina golpearem juntas o governo Milei nas ruas, desafiando o protocolo repressivo de Bullrich e gritando bem alto "São 30 mil e foi genocídio!".

Mas a oposição ao governo negacionista vizinho, que declarou guerra ao povo trabalhador, não pode ser meramente retórica, mas deve ter um curso nas ruas com medidas como uma greve nacional ativa no caminho para preparar a greve geral que derrote Milei e seus mandatários da grande burguesia. E se isso ainda não aconteceu, não é porque não há disposição de luta entre os trabalhadores e os setores populares que são vítimas do violento plano motosserra, como foi demonstrado na greve nacional de 24 de janeiro e nas numerosas lutas de diferentes setores (professores, ferroviários, aeronautas, saúde, motoristas de ônibus, etc.).

As direções burocráticas das sindicais CGT e das CTA são responsáveis por dar um tempo valioso ao governo Milei para que continue com seu ataque. O Decreto de Necessidade e Urgência (DNU, um canetaço de Milei) continua em vigor enquanto a Câmara dos Deputados não o rejeitar. O que a CGT fez para derrubá-lo? Absolutamente nada.

O EMVJ marchará para a Praça de Maio exigindo uma greve nacional ativa para, em primeiro lugar, derrubar o DNU. Os organismos "históricos" influenciados pelo peronismo se recusaram a permitir que esse pedido fosse feito na Praça, e marcharão indiferentemente ao lado dos dirigentes responsáveis por esta trégua criminosa.

Afirmar que "unidade" é misturar bandeiras de forma indiferenciada com aqueles que defenderam o ajuste de Sergio Massa e estão prestes a continuar honrando de alguma forma ou outra a ilegítima e fraudulenta dívida externa com o FMI é equivocado para nós e os companheiros do PTS e da Frente de Esquerda na Argentina. Não criticar os governadores que competem com Milei pela divisão dos restos deixados pelo FMI, que clamam por uma reforma trabalhista escravista e que querem aprofundar o saque dos bens comuns naturais, é sustentar uma mudança nas formas, mas com o mesmo conteúdo entreguista ao imperialismo e antipopular. Esta semana, Kicillof (governador peronista da província de Buenos Aires) mesmo colocou veículos e equipamentos a serviço do plano de militarização de Santa Fé dirigido por Patricia Bullrich, um plano que faz parte de reintegrar as Forças Armadas para a repressão interna. Isso não pode ser mencionado em um documento? Não é possível se reivindicar de esquerda e concordar.

No dia 24, haverá dois atos, não por "detalhes", mas por uma diferença substancial entre aqueles que se recusam a criticar aqueles que "dão tempo" a Milei e sua camarilha para continuar causando danos irreparáveis ao nível de vida do povo, especulando com as eleições de 2025 e 2027, e aqueles que afirmam que é necessário denunciá-los. Não deve se conceder uma trégua a Milei e é preciso preparar uma greve geral para derrotá-lo.

Em homenagem aos 30.000 companheiros desaparecidos na ditadura argentina. Abaixo o protocolo de Patricia Bullrich. Greve ativa já e plano de luta até derrotar o DNU e todo o plano de Milei, os grandes grupos econômicos e o FMI. Pela vitória dos trabalhadores da GPS (terceirizada da empresa Aerolíneas Argentinas), Télam, INCAA, Ministério da Cultura, Secretaria de Direitos Humanos, locais de Memória. Não ao ajuste dos governadores. Não ao pagamento da dívida, rompimento com o FMI. Não esquecemos, não perdoamos, não nos reconciliamos. Prisão comum, perpétua e efetiva para todos os genocidas. Restituição da identidade de todas as meninas e meninos sequestrados. Abertura dos arquivos de 74 a 83. Não à militarização de Rosário.




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