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CORREIOS | Na busca incessante por lucro, ECT sobrecarrega atendentes e coloca vidas em risco

Cada vez mais, os dirigentes da empresa tentam naturalizar as metas, e individualizar, trazendo o discurso da meritocracia. Tentam criar a ilusão de que o trabalho é um esforço individual, e deve ser recompensado individualmente. As premiações são baixas, mas diante dos baixos salários, corroídos pela inflação, pode ser atrativo.

quinta-feira 14 de maio de 2015 | 02:33

(Foto: Kelsen Fernandes/ Fotos Públicas)

De acordo com pesquisa publicada pela Isto é Dinheiro, a marca Sedex está entre as 20 mais fortes do país, ou seja, as marcas pelas quais o consumidor tem mais lealdade em 2015. É a primeira de uma empresa pública que aparece no ranking, seguida pela Petrobras.

Diferente dos serviços postais, como cartas e telegramas, as encomendas expressas não configuram monopólio dos Correios, portanto o Sedex enfrenta marcas concorrentes, e ainda assim, se destaca. Com o aumento das vendas online, esse tipo de serviço tem crescido e ganhado mais importância econômica, sendo um setor estratégico para os Correios.

Muitos investimentos são feitos em propaganda e marketing pela empresa, alguns questionáveis, pois envolvem quantias milionárias, com patrocínios esportivos e culturais em mega eventos, e publicidade em grandes redes de televisão no horário nobre. Entretanto, o que garante a força da marca certamente não é isso, e sim o trabalho dos ecetistas.

No caso dos atendentes comerciais, vender a marca sedex tem se tornado um pesadelo. Todos os dias surgem novas campanhas com metas para as agências e incentivo a competição e a passar por cima dos interesses da população, apenas para mostrar resultados estatísticos. Assim, não basta oferecer o Sedex, é preciso “transformar cada carta ou encomenda em Sedex”, independente das necessidades ou condições financeiras dos clientes. Há cerca de dois anos, foi criado o serviço “combo”, que agrega automaticamente os adicionais de Aviso de Recebimento e Valor Declarado à encomenda. A orientação da empresa é induzir o cliente a optar por esse serviço.

Cada vez mais, os dirigentes da empresa tentam naturalizar as metas, e individualizar, trazendo o discurso da meritocracia. Tentam criar a ilusão de que o trabalho é um esforço individual, e deve ser recompensado individualmente. As premiações são baixas, mas diante dos baixos salários, corroídos pela inflação, pode ser atrativo. Mas para que o Sedex exista, é preciso que o atendente realize o atendimento, o responsável pela expedição encaminhe o objeto, o motorista de caminhão terceirizado busque a carga, o operador de triagem e transbordo trie, e o carteiro entregue na hora certa. Uma engrenagem que não funciona quando o quadro não está completo, e funciona muito mal se os trabalhadores enfrentam sobrecarga, baixos salários, rotatividade no caso dos terceirizados, etc. E faz menos sentido ainda as metas para os atendentes se considerarmos o conjunto do trabalho que realizam.

O curioso é que a maior parte dos clientes chega às agencias buscando pelo Sedex, porém muitos desistem porque os preços são muito elevados, e muitos porque estão decepcionados com a marca devido aos atrasos. Por sua vez, os atrasos são evidentemente provocados pela falta de funcionários, e pela intenção da empresa de cada vez mais optar pela contratação de terceirizados temporários, oferecendo condições de trabalho e qualidade de serviço muito piores, como já mostramos aqui, aqui e aqui.

Além do Sedex, o atendente tem que se preocupar com as cartas, telegramas, vales postais, venda de embalagens (que por sinal estão sempre em falta), serviços bancários como cobranças de boletos, abertura de contas, empréstimos, venda de Telesenas, entrega de objetos tributados, cadastro de CPF... E boa parte disso é cobrado através de metas de desempenho. Afora a pressão das metas, é preciso lidar com um sistema frequentemente lento ou inoperante, longas filas de espera, e a insegurança pelo risco de assalto. Do ponto de vista da saúde, muitos atendentes apresentam doenças como Lesão por esforço Repetitivo, devido ao uso do mouse, lesões na coluna devido a mobiliário inadequado, sem contar depressão e stress.

As últimas negociações salariais e de Participação nos lucros, bem como a recente reestruturação da empresa, apontam para uma intensificação cada vez maior da cobrança pelo cumprimento de metas, inclusive atrelando o aumento salarial a esses resultados. Mas os trabalhadores sabem que essas metas, que muitas vezes configuram assédio moral, só servem para manipular e mascarar números, e não deveriam existir.

O Banco Postal

De todos os serviços e metas, sem dúvida os relacionados ao Banco Postal geram mais incômodo nos atendentes. É um caso claro de terceirização das atividades bancárias, uma precarização do trabalho dos bancários e dos atendentes, simultaneamente.

A jornada de trabalho de 6 horas, conquistada pelos bancários com muita luta, não é respeitada no caso dos correspondentes, como Correios e Lotéricas. Alguns atendentes até conseguem através de ações individuais, o direito de trabalhar 6 horas, porém quando se trata de generalizar este direito a toda a categoria, artifícios legais garantem o interesse da empresa, sempre.

Os salários também são mais baixos. E pior, as condições de trabalho não são iguais. Os atendentes não são liberados de outras funções para realizar as tarefas do Banco Postal, ao contrário, o serviço foi incorporado apenas para aumentar o número de atividades (e, assim, o lucro da empresa e dos bancos), sem contratar mais funcionários, uma conta simples de matemática mostra quem paga por esse lucro.

A questão da segurança também não é menor. Uma busca rápida por notícias relacionadas aos Correios na internet mostra centenas de casos de assaltos, com números crescentes em diversas regiões do país, como Campinas, Sul de Minas, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco, apenas para citar os mais frequentes. Isso é um resultado direto da transferência do serviço bancário, com uma movimentação financeira maior, sem garantir equipamentos simples como portas com detector de metais, ou cabines blindadas. A empresa responde a esses casos dizendo que o Estado deveria garantir a segurança para todos. Direitos como saúde, educação, moradia, alimentação e transporte, tudo isso deveria ser garantido com qualidade a toda a população, porém a realidade mostra que o Estado, e os governos da vez, só se preocupam em gerenciar os lucros dos empresários. Assim como a direção dos Correios e do Banco do Brasil só se preocupam em gerenciar seus próprios lucros e quem acaba correndo riscos e vivenciando situações de violência são os trabalhadores e a população.

A necessidade de se organizar

Todas essas questões e muitas outras são discutidas com frequência pelos atendentes, porém a participação nas assembleias e greves pouco reflete essa realidade. Isso mostra uma tendência à divisão, que muitas vezes leva a que os atendentes e os carteiros e otts não se enxerguem como parte de uma mesma categoria.

É necessário nos organizarmos, fazermos reuniões nas agencias e buscar saídas pra superar essa realidade. Lutar lado a lado com os carteiros e otts para tomar em nossas mãos os rumos da empresa. Podemos realizar o trabalho de forma eficiente, saudável e segura, mas para isso nós trabalhadores temos que decidir como as coisas funcionam no trabalho,e não uma lista de metas saídas da cabeça de um punhado de diretores privilegiados. Mas para isso, os Sindicatos e a Fentect também precisam ter propostas para orientar os atendentes, ajudar a superar o assédio moral que muitas vezes inibe a participação nas lutas, e levantar a sério um programa para combater os ataques como o Banco Postal.




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