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ESTADO ESPANHOL | Crise no Podemos com a demissão de seu “número três”, Monedero

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sábado 2 de maio de 2015 | 00:00

Juan Carlos Monedero é um dos fundadores do Podemos e era considerado até pouco tempo como o “número três” na direção, junto à Iñigo Errejon e Pablo Iglesias.

De uns meses para cá estava afastado dos anúncios de TV e abriu mão de se apresentar como candidato às eleições, depois que foi alvo dos ataques do governo e da grande mídia por receber mais de 425 mil euros por prestar assessoria aos governos da Venezuela e Equador e suas retificações nas declarações de imposto de renda. Monedero denunciou a “caça às bruxas”, mas demorou a dar explicações, foi questionado internamente e a direção do Podemos o distanciou da exposição pública.

Nesta quinta Monedero voltou ao centro das notícias, já que “jogou uma bomba” com declarações muito críticas à organização no programa de rádio La Cafetera, que até agora não haviam sido ouvidas publicamente por sua parte.

Monedero disse na entrevista na rádio que o Podemos “deve regressar às suas origens e recuperar seu frescor” e que a participação eleitoral leva a que “às vezes nos pareçamos com aquilo que queremos substituir. Isto é uma realidade”. Falou de “partidocracia” e assegurou que sentía-se “desapontado” e “traído”.

Horas depois, Pablo Iglesias anunciava em uma coletiva de imprensa que Monedero havia apresentado a renúncia e que esta havia sido aceita. Iglesias disse não compartilhar com as críticas de Monedero, mas que seu “ferrão crítico” era necessário no Podemos.

A demissão de Monedero aprofunda uma crise que começou a vir a público há algumas semanas, quando vieram à tona diferenças entre Pablo Iglesias e seu “número dois”, Iñigo Errejón. Estas estariam centradas na questão do programa eleitoral e os alcances da “deriva ao centro” do Podemos.

A publicação de um artigo de Pablo Iglesias defendendo que “A centralidade não é o centro” e propondo um “retorno” a um programa social de “recuperação do estado de bem-estar”, se contrapunha a um discurso excessivamente “transversal” e desideologizado, restrito à denúncia da corrupção e da “casta”. Um discurso que as referências do Podemos, incluindo Pablo Iglesias, tem feito nos últimos meses.

O motivo político por trás desta crise se encontra nos resultados das eleições de Andaluzia, primeiro, e as últimas enquetes e pesquisas eleitorais, que mostraram uma queda das intenções de voto no Podemos.

A subida de Ciudadanos (Cidadãos), a formação de direita liberal que com um discurso “anticorrupção” e “cidadanista” está crescendo aceleradamente nas pesquisas, significou um golpe nas ilusões da cúpula do Podemos de que em novembro poderiam “de uma vez só” e “aproveitando o vendaval de oportunidades”, alcançar o governo do Estado.

O esgotamento da “hipótese populista” e do “significante vazio”, levantados por Iñigo Errejón, se choca assim com a ingrata realidade das tendências eleitorais
No Esquerda Diário publicamos há alguns dias uma análise destes debates com o artigo de Diego Lotito, Podemos e a impotência estratégica, que assinala algumas das chaves para compreender a deriva atual do Podemos. A demissão de Monedero deixa aberto muitas interrogações e aprofunda uma crise à pouco mais de 20 dias para as eleições, o que afetará seguramente a campanha do Podemos.

Monedero anunciou que se dedicará a trabalhar com os círculos de base, mas seu futuro político dentro da organização não está muito claro.
Uma das primeiras crises do Podemos, bem no começo, também teve Monedero como protagonista, mas na época ele falava de cima da cúpula da direção, denunciando um suposto “golpe de estado” de parte dos círculos. Foi também Monedero o encarregado de polarizar o debate na Assembleia de Vista Alegre, com o “tudo ou nada” com que desafiou setores críticos e as bases da própria assembleia, dizendo que “nem sempre são possíveis os consensos”. Não parecia naquele momento um partidário de recuperar “o frescor” do 15M.

O certo é que o Podemos vem aprofundando um giro ao centro até limites inimagináveis. As últimas “performances” de Pablo Iglesias, como sua foto com o Rei Felipe VI, os aplausos ao Papa Francisco, a moderação de seu programa social, a entrevista com o embaixador dos Estados Unidos na Espanha, com empresários e fundos financeiros, e com representantes da “casta” do PSOE como Zapatero e Bono, vem pavimentando este caminho.

Uma socialdemocratização light e acelerada do discurso, para uma “esquerda sem sujeito” de transformação social, mais que o apelo aos “cidadãos eleitores”. Daí que o chamado de Pablo Iglesias a recuperar a “irreverência” inicial apareça mais como um giro tático conveniente, subordinado ao funcionamento da “máquina de guerra eleitoral” em que se transformou o Podemos.




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