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OS HOMENS DE TEMER | Temer quer o homem da repressão de Alckmin na AGU

Responsável por fraudar estatísticas de assassinatos policiais em São Paulo, por repressão a secundaristas, suspeito de ligação com o PCC este é o nome que Temer quer para a Advocacia Geral da União

Maíra MachadoProfessora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

quinta-feira 21 de abril de 2016 | Edição do dia

Nesta terça-feira, Michel Temer já começou lançar propostas para seu staff, caso o impeachment de Dilma Rousseff seja aprovado pelo Senado. O convite desta manhã foi para o cargo de comando da Advocacia-Geral da União (AGU) a Alexandre de Moraes, atual secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, advogado filiado ao PSDB. E o que nós trabalhadores temos a ver com isso?

Tudo. Este senhor é hoje quem autoriza – em nome do governo Alckmin – uma série de repressões às lutas dos trabalhadores e da juventude, assim como à juventude pobre e negra nas periferias. Podemos listar, para compreendermos qual o projeto que Temer tem para “lidar” conosco, caso assuma a Presidência da República.

1- Alexandre de Moraes autorizou a repressão policial aos milhares de secundaristas de São Paulo, que no ano passado protagonizaram mais de 200 ocupações contra o fechamento de mais de 90 escolas por Alckmin. Mandou sitiar a Escola Estadual Fernão Dias (primeira a ser ocupada) com uma forte força policial por oito dias, período no qual a polícia impedia a entrada e saída dos manifestantes e a entrega de comida e utensílios básicos, além de ameaçar constantemente os apoiadores que faziam vigília na parte externa com repressão a bombas e spray de pimenta. Enviou policiais, trajados e a paisana, às ocupações para intimidar crianças e adolescentes e para forjar roubos e depredações, tudo a fim de incriminar a luta e acabar com ela. Autorizou também as repressões quando os jovens decidiram radicalizar sua luta fechando ruas e avenidas, deixando vários alunos com ferimentos médios e graves, além de realizar prisões arbitrárias. Também é citado no áudio vazado da reunião de Fernando Padula com várias diretorias de ensino, no qual o chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Educação informa que Alexandre de Moraes “daria apoio à “guerra” (como Padula denominou a relação do estado com as ocupações) de Alckmin contra os secundaristas.

2- Este senhor também é o responsável pelas brutais repressões aos atos contra o aumento da passagem de ônibus e metrô de 2015 e 2016 – para R$ 3,50 em 2015 e para R$ 3,80 em 2016. Em 2015, em mais de um mês de luta, houve repressão fortíssima em todos os atos, com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha, prisões arbitrárias, além de revistas aos manifestantes e apreensões por portar vinagre e leite de magnésia (usados para atenuar o efeito asfixiante do gás lacrimogêneo). Em 2016, a mesma conduta foi aprofundada com repressões nos primeiros atos já nas concentrações, impedindo que as manifestações sequer ocorressem. No segundo ato, um metroviário levou uma cacetada de um policial na cabeça e foi levado ao hospital em estado grave.

3- Também como ato repressivo, iniciou uma perseguição às torcidas organizadas, principalmente à Gaviões da Fiel, depois que estas começaram a protestar nos estádios contra os ladrões da merenda, os desmandos da Rede Globo e a corrupção da Fifa. Sofreram repressões nos estádios a bombas de gás e fechamento de sedes, por conta das faixas que carregavam com estes conteúdos.

4- Moraes também é ocultador do número de assassinatos da polícia de São Paulo. Em 2015, ficou comprovado que a secretaria, após a sua posse no cargo, começou a lançar dados picotados. No terceiro trimestre daquele ano, somente somou os casos envolvendo policiais militares em serviço – o que demonstrava queda (de 2%! em relação aos primeiros meses do ano) dos homicídios. Não contou os casos com policiais militares de folga e os policiais civis: somados estes, na verdade se vê que houve alta de 1%. Em meio a estes números omitidos, estava a chacina de Osasco e Barueri – a maior do ano –, com 23 mortos por policiais de folga; além de outro caso, que viralizou na internet através de um vídeo, de dois jovens, já rendidos, sendo assassinados. Além deste recorte, também o fez por regiões, revelando somente os dados da capital e omitindo os da região metropolitana e do interior. Não bastasse isso, os dados de 2014 continuam em segredo. Sabemos que os que mais sofrem com os assassinatos da polícia, mascarados como “autos de resistência”, são os jovens pobres e negros das periferias, mortos ano após ano por uma política genocida, onde os assassinos nunca são julgados e nem punidos. Agora, menos ainda, diretamente por omissão, graças a Alexandre de Moraes.

5- O escolhido por Temer não só omite os assassinatos da polícia paulista, como colocou em sigilo os registros policiais por 50 anos. Isso dificulta o acesso tanto a dados estatísticos de crimes como de dados dos efetivos policiais e também de normas e manuais, ou seja, aquilo que rege a conduta e ação policial. O que só alimenta as políticas e arbitrariedades dessa polícia de São Paulo, conhecida como das mais assassinas no mundo, além de profundamente repressora, como vimos nos pontos anteriores.

6- Como se não bastassem essas contribuições de Moraes à política repressora de Alckmin, o advogado já foi suspeito de se envolver, antes de assumir a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, com integrantes do PCC. Ele trabalhava para a Transcooper, uma cooperativa de transportes, citada em investigações por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro do PCC. Embora as investigações não tenho sido concluídas, como nunca acontece com tucanos, tais relações espúrias foram reveladas.

É com este braço que Temer vislumbra presidir o país, o da repressão. Alexandre de Moraes representa uma das políticas mais reacionárias quando se trata de garantir “a ordem e o progresso”. O braço da “lei” para auxiliar essa direita, que assistimos no domingo votando no Congresso Nacional. Auxiliar no impeachment que nos trará mais ataques, auxiliar nos trâmites legais espúrios, auxiliar na repressão à classe trabalhadora “melhorando” a orientação para a repressão. Para um governo golpista nada melhor que um repressor especialista em perseguir movimentos sociais e dar golpes nas estatísticas para ocultar a violência policial.




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