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DEBATENDO COM GRANDES JORNAIS | Partido da Mídia orienta: extrair o máximo de neoliberalismo e reacionarismo de sua vitória

Os grandes jornais brasileiros como ocorre frequentemente adotaram hoje uma orientação similar. Como partidos, seus editoriais orientam seus quadros para a ação. Obtida a vitória no dia de ontem querem extrair o máximo da mesma. Como bons generais querem aproveitar a indecisão do lado derrotado para avançar. Graças a mais de uma década abrindo caminho à direita com negociações, adotando os mais corruptos métodos capitalistas de governar, o PT contribui para que a confusão se dê não só na cabeça de seus generais mas em uma boa parte da tropa que confiava em sua liderança.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

segunda-feira 18 de abril de 2016 | Edição do dia

Foto: Cunha homenageia herdeiro da família Marinho

Tanto a Folha de São Paulo como o Globo estampam argumentos pela pressa. Que o Senado faça um impeachment express. Nas palavras do jornal paulista: “É do interesse de toda a sociedade que esse período transcorra com a máxima presteza, respeitando-se sempre, por óbvio, o devido processo legal. Não há sentido em prolongar artificialmente a permanência de quem já não tem a menor condição de governar.

Neste editorial retomam sua proposta de eleições antecipadas com dupla renúncia, como ela teria unido mais o pais, mas que agora isto seria leite derramado, o impeachment serve... e chamam ao julgamento de Cunha e continuidade da Lava Jato.

O Globo também expressou sua preocupação com a pressa que se conduza o processo, obviamente fazendo uma saudação à bandeira pelo respeito legal, que seja feito tudo rápido e carimbado pelo STF que tem apoiado o golpismo. Para o jornal carioca nada é definitivo até o julgamento do STF depois de 180 dias de afastamento da presidente (o que só ocorre após votação em comissão especial e no plenário do Senado). Como há um risco do impasse persistir mesmo após a queda de Dilma visto que Temer tem nula popularidade, setores da oposição (PSDB e PPS) hesitam em aderir a seu governo o que ele precisa fazer é um “choque de credibilidade”.

Qual seria este “choque de credibilidade”: “O exemplo pode não ser o ideal, mas ajuda a entender do que se trata: logo ao assumir, depois de derrotar nas urnas o kirchnerismo na Argentina, Mauricio Macri fez fortes sinalizações para superar a profunda crise em que Néstor e Cristina Kirchner mergulharam o país em 12 anos de poder — semelhante ao que o lulopetismo fez no Brasil —, e em poucas semanas conseguiu reverter o humor interno e mundial com relação à economia argentina. Macri já detinha a caneta para tomar decisões concretas.”

Macri demitiu milhares de funcionários públicos e promoveu um agressivo ajuste nas contas levando a aumento em todos serviços públicos, do gás à eletricidade e transporte. O editorial de hoje destes dois jornais escancara, novamente o grau de hipocrisia dos editoriais de ontem que defendiam o impeachment em nome dos trabalhadores.

A Folha e o Globo querem “Temer Já” e que ele promova um agressivo programa neoliberal por decreto (“a caneta”). Sabendo da escassa popularidade de um programa como este só há um método para implementar: decretos e polícia para reprimir greves.

O Estado, sempre mais à direita, e de acordo com o clima que se sente nas manifestações de direita na Avenida Paulista tem objetivos maiores: acabar com o PT. Seu editorial argumenta que os próximos dias serão conflituosos porque o PT não respeitaria a democracia (logo eles defensores do Golpe militar, defensores deste golpe são notória autoridade no assunto do trato democrático) e promoveria greves e manifestações. Porém isto só provará o desespero do PT argumentam, um desespero que aumentará diante da iminente prisão de Lula vaticinam (ou pedem). O impeachment e este golpe eram somente um meio para o Estado, querem terra arrasada, “acabar com a raça da esquerda” como dizem seus leitores engomadinhos e endinheirados diante do templo da FIESP.

O show de horrores dos argumentos golpistas de ontem que mostraram todo um desfile de reacionarismos e todo pesado clima ideológico propagado e inflado pela mídia que abre diariamente horas e horas de TV para Bolsonaro e similares em seus programas de fim de tarde, e pelos intermináveis invocadores de divindades para seu golpe institucional (e mesmo de outro tipo caso a luta de classes exigisse mais que golpes por mãos judiciárias, parlamentares e de plin-plin).

É possível para elite dirigir este país com este programa ou dando corda para ele? É a isto que aposta o Estado que alimenta não só os “liberais” do MBL mas mesmo os Revoltados Online. A Folha e o Globo por precaução, não por progressismo, hesitam, mas não emitiram uma crítica sequer ao reacionarismo do parlamento de ontem, falam que houve “excentricidades”, algo estranho mas tolerável.

O imperialismo, no entanto, em todos seus editoriais tem uma preocupação muito maior com o barbarismo dos parlamentares brasileiros, a inconstitucionalidade do impeachment e mesmo do que pode surgir de luta de classes no país. Em algum sentido mais explícito ou menos chamam a algum tipo de negociação, pacto que seja funcional a aplicar os ataques que querem mas sem arriscar deflagrações.

Com graus distintos todo o partido da mídia brasileira aposta em outro caminho, impeachment express ou ataque total ao PT, acham que é hora de ir por mais. Arriscam maiores conflitos. Fazem isto porque sabem que o PT e a CUT seguirão temendo a espontaneidade e radicalização da classe trabalhadora mais do que a própria derrota, que há muito palavreado e pouca ação de greve geral, ou trata-se mesmo de uma aposta arriscada?

Há flertes de setores da elite brasileira em tentar uma nova hegemonia desenvolvendo mais a ideologia anti-esquerda que tem ressonância em importantes setores da classe média acomodada. Esta mesma ideologia é levada para setores populares por propagandistas que não pagam impostos (pastores, padres, missionários das muitas igrejas). Por outro lado, na mesma classe média, sobretudo em setores universitários e na juventude desenvolve-se um movimento democrático que engloba também importantes setores de trabalhadores contra o golpe e por diversas questões democráticas. A aposta em “radicalizar” como o Estado de São Paulo ou “voar para aproveitar a vitória” como a Folha e o Globo tenderá a criar maior politização e conflito entre estes setores. Ou poderá alguém ter autoridade para chamar a algum pacto e alguma estabilização?

De parte da classe trabalhadora e da juventude nenhum pacto é favorável. De pacto em pacto avançaram Cunha, Temer, tucanos e a FIESP e junto deles Feliciano, Bolsonaro, Malafaia. Não se derrotará o golpe e o reacionarismo que ele dissemina por meios que não sejam a ação e os métodos de luta da classe trabalhadora e da juventude. Ignorar as demissões, não lutar contra os ajustes é o que dá espaço para que o partido da mídia faça demagogia de defender os interesses dos trabalhadores. Com sua direção burocrática e acomodada a CUT contribui aos ataques patronais e ao golpe. Nem showmícios nem compra de Malufs resolvem. A velha luta de classes. Para isto é chave, urgentemente tirar lições. A Folha, o Estado, O Globo já tiraram e preparam os próximos passos. E os trabalhadores?




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