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Palestina | O que sabemos sobre a invasão israelense de Rafah, no sul de Gaza

Enquanto o Hamas anunciava, no final da tarde, que aceitava uma proposta de trégua modificada, Israel continuava as suas operações de invasão do território, bombardeando massivamente os bairros do nordeste de Rafah e assumindo o controle, à noite, da travessia fronteiriça de Rafah com o Egito, isolando definitivamente Gaza do resto do mundo.

terça-feira 7 de maio | Edição do dia

Quando Israel começou a bombardear os bairros do nordeste da cidade, cuja evacuação a IDF havia ordenado na mesma manhã, o Hamas declarou que aceitava uma proposta de trégua, cujos detalhes ainda não eram conhecidos. Apesar dos relatos contraditórios, o Hamas parece ter assinado uma proposta que não havia recebido a aprovação israelense durante as negociações da semana passada.

Aplicada em três fases distintas, a proposta prevê, no primeiro período, a libertação de alguns dos reféns em troca de um cessar-fogo imediato e da retirada das forças israelenses dos centros urbanos. Durante a segunda e terceira fases, o Estado israelense se comprometeria, em troca da libertação do restante dos reféns, a retirar-se de Gaza e a assinar uma trégua permanente com o Hamas.

Desta proposta, que retoma as linhas gerais do acordo de Paris, negociado em fevereiro antes de ser rejeitado pelos israelenses, parece que o Estado colonial aceitou apenas a primeira parte. No centro do conflito, a definição vaga dos objectivos do segundo e terceiro períodos – que devem fornecer os meios para “restaurar uma paz duradoura” – é objeto de interpretações divergentes: enquanto o Hamas defende que a “paz duradoura” só pode ser alcançada através da obtenção de uma “trégua permanente” (seu objectivo estratégico fundamental desde 2006) Netanyahu não quer um acordo que o prive de poder retomar a guerra.

O anúncio da assinatura do acordo alimentou a esperança e depois a raiva das famílias dos reféns que se mobilizaram em massa durante a noite, particularmente em Tel Aviv, para exigir do governo israelense que acabe com a invasão de Rafah. O gabinete de guerra, por sua vez, anunciou o envio de uma delegação ao Cairo para retomar as negociações e declarou que a IDF continuaria a operação em Rafah para “exercer pressão militar” sobre o Hamas. Nestas coordenadas, embora a operação certamente pressagie um massacre, a escala deste permanece desconhecida, uma vez que a linha de desenvolvimento do ataque é, no momento, imprevisível.

Declarando que a proposta do Hamas estava muito aquém dos “interesses essenciais” de Israel, os membros do gabinete de guerra decidiram prosseguir com a invasão. Após o intenso bombardeio aos bairros nordestinos da cidade-refúgio, foram registrados movimentos de tropas. Ao longo da fronteira com o Egito, tropas terrestres de Kerem Shalom tomaram posse, por volta da meia-noite, do aeroporto Yasser Arafat, a sudeste de Rafah, onde foram ouvidos tiros.

Avançando ao longo da fronteira, as forças israelitas assumiram o controle do posto de fronteira de Rafah nessa mesma noite, isolando permanentemente Gaza do resto do mundo. Ao fechar a passagem fronteiriça, a IDF interrompeu o fluxo de caminhões carregados de ajuda humanitária, que já entravam no território palestino em número insuficiente. De acordo com o Washington Post, as forças israelenses mataram cerca de vinte combatentes durante a noite e evacuaram a “grande maioria” dos refugiados presentes ao longo da fronteira durante o ataque.

Após sucessivos pedidos de informação enviados pelo Egito aos israelenses durante a tarde, parece que as forças sionistas fizeram da tomada da passagem de Rafah um objetivo crucial para satisfazer os egípcios, que temiam que a invasão à cidade enviasse uma onda de refugiados pela fronteira. Como confidenciou esta manhã um diplomata egípcio ao Le Monde, “os israelenses parecem ter compreendido a nossa linha vermelha e, acima de tudo, ter ouvido Washington, que lhes confirmou isso. Mas o terreno é diferente: o Egito está se preparando para um cenário de desastre, que o forçaria a acolher algumas dezenas de milhares de pessoas que fogem dos combates”.

Enquanto “plano de evacuação”, as forças israelenses pretendem deslocar à força a maior parte dos refugiados, em menos de dez dias, para campos construídos às pressas na costa ocidental, onde o exército entregou cerca de quarenta mil tendas.

Além das forças terrestres estacionadas em Kerem Shalom que se arrastaram pela fronteira sul para chegar à passagem de Rafah, os múltiplos disparos de artilharia que marcaram a noite indicam a presença de veículos blindados, posicionados em arco na saída da cidade. Ao contrário de outras cidades sitiadas pela IDF, como Khan Yunis e a Cidade de Gaza, a densidade populacional de Rafah concentra mais de um milhão e meio de refugiados deslocados para o sul por bombardeios e invasões do norte. Isto significa que as forças israelenses não serão capazes de avançar bairro a bairro, enquanto as operações militares exigirão o envio de mais unidades complementares. Isto é o que Michael Mulroy, antigo especialista militar do governo dos EUA, explicou à Foreign Policy: “Os israelenses precisarão de pelo menos duas divisões, com paraquedistas e unidades blindadas, juntamente com destacamentos de artilharia menores e unidades de forças especiais”. Numa situação tão desesperadora, é provável que a resistência palestina, da qual o Hamas é o maior componente, também lance ataques mais massivos, combinando ataques de superfície e aéreos, utilizando drones ou outros elementos do gênero.




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