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Juventude | O que fez a UJC/PCB no CONUNE?

O último Congresso da UNE mostrou que o que define o alcance da intervenção de uma corrente nem sempre é a quantidade de delegados, mas sim qual política é levada adiante. No marco de um CONUNE completamente subordinado ao governo de frente-ampla Lula-Alckmin e do fim da antiga Oposição de Esquerda, qual foi o papel que cumpriu a UJC/PCB que pouco apareceu e muito se diluiu?

Luno P.Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

terça-feira 18 de julho de 2023 | 22:41

Em texto publicado em seu site a UJC (corrente de juventude impulsionada pelo PCB) defende uma UNE na luta pela universidade popular e pelo socialismo. Nesta nota também dizem que “A UNE não deve se contentar em ser a linha auxiliar do governo na base do movimento estudantil, mas se propor a fortalecer a organização da juventude trabalhadora brasileira, na perspectiva do combate intransigente a toda movimentação que favoreça a burguesia da educação”. Entretanto há um ausente importante no longo texto: qual é o balanço que a UJC/PCB tem em relação à antiga Oposição de Esquerda da UNE partindo de que foram parte desta antiga Oposição?

O que estava em jogo no último Congresso da UNE foi a subordinação ou não dessa entidade ao novo governo de frente ampla Lula-Alckmin. E foi justamente essa a política aprovada com a vitória da majoritária que ganhou não apenas a direção da UNE mas a política de mantê-la atrelada ao governo. Fez isso praticamente sem oposição. A antiga Oposição de Esquerda, que nunca foi uma verdadeira alternativa à majoritária, sendo mais um bloco eleitoral, deixou de existir. Uma parte dela (Juventude Sem Medo: Afronte, RUA, Fogo no Pavio, Manifesta) se aliou à majoritária na resolução de conjuntura, ou seja, politicamente se alinharam com a majoritária. Um outro setor, encabeçado pela Correnteza/UP, se auto-definiu como a “oposição unificada”. Mas que oposição é essa?

Isis Mustafá, principal porta-voz da Correnteza/UP, ex-secretária geral da UNE, esteve o Congresso inteiro lado a lado do governo abraçada em fotos não somente com Lula como também com o Ministro Barroso logo depois do mesmo ter sido escorraçado pela agitação da Juventude Faísca Revolucionária. Essa é a principal força da “oposição unificada” a qual a UJC/PCB aderiu sem falar absolutamente nada sobre as fotos da Correnteza/UP com Lula e Barroso. Por isso, com essa política, termina em um seguidismo com a política da UP que é “a oposição que o governo gosta” já que não se postulam como uma verdadeira alternativa à política da majoritária.

Nos momentos onde era fundamental ter uma política de independência de classe, a UJC/PCB se diluiu no Congresso. Por exemplo, decidiu fazer parte do plenário do palanque para Lula, no momento em que o governo está aprovando o arcabouço fiscal, ao invés de se somar a manifestação chamada pela Faísca para marcar uma clara posição de independência diante do governo de frente ampla deixando claro que é a conciliação que abre espaço para a extrema-direita. A UJC/PCB também decidiu ser parte da manifestação pró-burguesa “Menos juros, mais direitos” em frente ao Banco Central quando a majoritária propôs que os estudantes se colocassem por detrás de uma ala da burguesia (desde a Rede Globo até o Magazine Luiza) que pedem juros um pouco menores para beneficiar seus lucros. Enquanto isso, a dívida pública segue intacta, os grandes bancos privados continuam controlando o sistema financeiro, e a população segue tendo de se endividar para viver. Vejam nesse vídeo como desmascaramos essa farsa pró-burguesa.

Mas especialmente diante da presença reacionária do Ministro do STF Luís Roberto Barroso, inimigo da enfermagem e articulador do golpe institucional de 2016. Ainda que algumas correntes, como a própria UJC/PCB buscassem se apropriar da atuação da Faísca diante do Ministro Barroso (como fez Jones Manoel), o que saiu em toda a imprensa foi a “ação dos trotskistas”. Mesmo a expulsão da UJL (que depois retornou impune para a Plenária Final) foi uma ação de várias correntes, na qual a Faísca também foi parte ativa. Diante de tudo isso, qual foi efetivamente a atuação da UJC/PCB no Congresso da UNE?

Ao não se posicionarem claramente com uma posição de independência de classe nos momentos chave do Congresso e terminar indo atrás da “oposição que o governo gosta” não somente com a Correnteza/UP que tira fotos com Lula e Barroso, mas também com correntes que fazem parte do governo, como o Juntos/PSOL, a atuação da UJC/PCB foi inofensiva. E acreditamos que essa atuação inofensiva, que se via inclusive na pouca agitação do seu bloco, tem relação direta com o fato de não existir por parte da UJC/PCB nenhum balanço sobre a antiga Oposição de Esquerda que fizeram parte depois que voltaram para a UNE ou então das gestões de DCE nas quais não atuam como uma alternativa real à burocracia da majoritária. Isso porque qualquer balanço sério sobre isso levaria a UJC/PCB a ter que mudar sua política e não seguir com a mesma linha de, no fim das contas, terminar seguindo a Correnteza/UP e o Juntos/PSOL na “oposição que o governo gosta”. Seria necessário fundar e construir uma nova Oposição de esquerda, independente do governo e das reitorias.

Mas também esta atuação tímida tem relação direta com a política do PCB e sua enorme crise neste momento, na qual a ampla maioria dos militantes e simpatizantes dessa organização ficam completamente apartados. Como já demonstramos aqui há discussões internacionais importantes sobre China, Rússia e Ucrânia que mostram que nenhuma das duas alas - como a direção majoritária com Edmilson Costa, Mauro Iasi, Sofia Manzano, por um lado, e Ivan Pinheiro/Jones Manoel por outro - são uma alternativa de independência de classe. Mas do ponto de vista da política nacional é preciso dizer que nos últimos 20 anos o PCB apenas reafirmou a continuidade de sua tradição histórica de conciliação de classes, já que fizeram parte da coligação governamental de Lula com Alencar (PL) em 2002 e em 2020 fez parte da Frente Ampla com a REDE, PSB, PDT, PT e PCdoB em vários lugares. Em 2022 Sofia Manzano, que assinou a carta com banqueiros apoiada pelo Senado norte-americano e que no segundo turno virou cabo eleitoral de Lula-Alckmin, apresentou um programa neodesenvolvimentista. Por isso, a UJC/PCB em geral tem uma “verborragia vermelha e comunista” que tenta esconder essa política de conciliação de classes em diversos momentos de sua trajetória.

A ala do partido que está sendo expulsa, como Jones Manoel, lidando inclusive com o burocratismo stalinista que ele sustenta há anos e defende teoricamente, é expressão de distintos tons dessa conciliação de classes. Desde defender inúmeras expressões de governos de conciliação de classes como Olívio Dutra, Brizola, João Paulo, Erundina, Jones também sempre escondeu por trás de palavras como “radical” e “comunista” apenas um programa reformista e que estava disposto a governar em uma “Frente de Esquerda” com PT e PCdoB. Em Pernambuco, Jones apoiou no 2º turno a candidatura de Marília Arraes, uma representante da oligarquia que tinha como vice Sebastião Oliveira, outro representante da oligarquia regional que sua família tem denúncia de trabalho escravo em suas fazendas. Também vimos momentos de surto e alucinação como o outdoor “Mais de 100 milhões de brasileiros passando fome. Como resolver isso? Entre no Youtube do Jones Manoel”.

Sendo assim, como um partido, dividido entre essas duas alas, poderia fornecer alguma alternativa para a juventude no CONUNE senão terminando como plateia para Lula e fazendo ato em frente ao Banco Central? Não é de se espantar quando sua candidata em MG propôs “equilíbrio fiscal” como parte de seu programa de governo e que no RJ apresentou um programa parecido ao de Marcelo Freixo. Vale dizer, também, que nenhuma das alas achou ruim se aliar com a maior burocracia de São Paulo, entrando na chapa da Bebel-PT para as eleições da APEOESP, que votou pelo apoio ao arcabouço fiscal junto com o PCB que agora faz parte da Diretoria. Como é possível cantar para a majoritária do PCdoB que eles adoram o arcabouço do Haddad se em um dos maiores sindicatos da América Latina estão com esses mesmos setores defendendo essa medida?

Só vendo essa trajetória é possível entender porque a UJC/PCB falou tanto antes do CONUNE e entregou tão pouco, especialmente na Plenária Final. A somatória dessa trajetória e dessas políticas de conciliação de classes em meio a uma divisão do partido que traz à tona os métodos stalinistas de ambos os lados impedem o desenvolvimento e atuação ofensiva de qualquer juventude que queira se reivindicar socialista e revolucionária. É por isso que nesse Conune foram os trotskistas que tomaram as páginas dos jornais com sua atuação certeira contra o Ministro Barroso e por uma política de independência de classe.

Isso nos remete ao debate de fundo que a direção do PCB e suas duas alas fogem como da peste: ambas se negam a romper com a tradição stalinista e no máximo chegam a fazer algumas autocríticas de elementos parciais para poder seguir como parte dessa tradição e na disputa pelo PCB e sua internacional, a EIPCO (Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários). Uma autocrítica verdadeira levaria à conclusão de que o PCB é uma organização que não serve às necessidades da classe trabalhadora e não corresponde a uma alternativa revolucionária, em primeiro lugar por conta de seu próprio programa que, quando aplicado, leva a políticas de profunda adaptação à conciliação de classes. A verdade é que nunca houve uma “Reconstrução Revolucionária” do PCB, que é o que diz buscar uma ala do partido, e não vai haver porque é impossível isso sem romper com a tradição stalinista. Por isso a discussão de autocrítica é genérica, e vez ou outra vemos alguns militantes do PCB reivindicarem a picareta que matou Trótski e a relativizar o papel de Stalin e a burocratização da União Soviética, como tantas vezes fez Jones Manoel.

É por isso que para uma juventude que defende a revolução operária e socialista é preciso levar essas discussões até o final. Queremos dialogar com todos os jovens que se referenciam no PCB por aparecer como um partido que defende o comunismo, mas se incomodam com as expressões de stalinismo que permanecem nas reivindicações da figura de Stalin e nessas políticas de conciliação de classes. É por isso que a discussão “trotskismo x stalinismo” longe de ser um debate do passado é mais atual do que nunca para superar essa tradição contra-revolucionária que levou a classe operária internacional à derrota, e batalhar pela continuidade do leninismo e do marxismo revolucionário na nossa época, que é o trotskismo, corrente que se constitui pelo combate à degeneração stalinista contra-revolucionária na URSS e internacionalmente, e que permite um caminho para a juventude que seja de independência de classes para construir lado a lado da classe trabalhadora um partido internacionalista para a revolução operária e socialista.




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