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Crise política | O que acontece em Israel? Netanyahu suspendeu reforma judicial em meio a protestos e greves

Netanyahu anunciou nesta segunda-feira, 27, após protestos sem precedentes, que a suspensão é temporária. A demissão do ministro da Defesa de Israel, pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, depois de ter pedido que não avançasse com uma contestada reforma judicial, terminou em mobilizações massivas e na convocação de greves nesta segunda-feira que pedem a queda da reforma, enfraquecendo o coalizão de extrema-direita que governa o país.

segunda-feira 27 de março de 2023 | Edição do dia

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou na segunda-feira que congelaria temporariamente a reforma judicial que nas horas anteriores havia gerado mobilizações massivas e uma greve geral sem precedentes.

Entre 500 mil e 700 mil israelenses, segundo diferentes fontes, foram às ruas no domingo para se manifestar após a demissão do ministro da Defesa, Yoav Gallant, que se tornou o primeiro membro do governo de extrema direita a se manifestar publicamente para impedir a questionada reforma promovida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

As manifestações deste domingo, que foram as mais massivas desde o início dos protestos contra a reforma judiciária, aconteceram em diversas partes do país, especialmente nas cidades de Tel Aviv e Jerusalém. Esta segunda-feira começou com a convocação de diferentes setores para greve até que a reforma seja revertida, aprofundando uma crise política que Israel vem arrastando há algum tempo, mas que chegou a um rompimento com a nova coalizão de governo que inclui um avanço feroz contra os palestinos da Cisjordânia, com ataques e assassinatos em massa por parte do Exército e dos colonos, e uma modificação das leis e normas dentro de Israel para fortalecer o caráter judaico do Estado sob a asa da camarilha mais de direita e ultraortodoxa.

O novo governo de Netanyahu e a reforma judicial

Benjamin Netanyahu assumiu novamente o cargo de primeiro-ministro de Israel em janeiro deste ano. Ele o fez à frente de uma coalizão de extrema-direita considerada a mais radical de sua história. Seus membros incluem os partidos “Shas”, “Sionismo Religioso” e “Judaísmo da Torá Unida”, uma tríade de sionistas de ultradireita e ultrarreligiosos.

Sob esta nova coalizão governamental, tanto os ataques brutais contra a população palestina, particularmente na Cisjordânia (incluindo o maior massacre que o Estado de Israel realizou em um único dia em uma cidade, a de Nablus), quanto a tentativa de tirar poder da Suprema Corte para que seja o Knesset (Parlamento) que pode definir as principais mudanças para avançar para um estado judeu e a colonização completa da Cisjordânia.

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A reforma foi proposta por dois dos parceiros mais direitistas da coalizão, o ministro da Justiça Yariv Levin, do Likud (partido de Netanyahu), e o religioso sionista Simcha Rothman, que preside o comitê de lei e justiça do Knesset.

Um dos objetivos é permitir que uma maioria simples de 61 deputados no Knesset de 120 assentos anule quase qualquer decisão do tribunal superior e permitir que os políticos nomeiem a maioria dos juízes para o tribunal.

Levin e Rothman são dois dos que consideram a Suprema Corte "muito poderosa e tendenciosa" contra o movimento de colonos que avançam na Cisjordânia e o povo palestino.

Além disso, a agenda da coalizão governamental inclui a anexação total da Cisjordânia ocupada, a reversão da legislação pró-LGBTQ+, a remoção de leis que protegem os direitos das mulheres e das minorias e a flexibilização das regras para os ataques e assassinatos realizados por Policiais e soldados israelenses contra palestinos.

Por fim, todos suspeitam que por trás da reforma judicial está também a tentativa de Netanyahu de se esquivar de seus próprios processos em andamento nos julgamentos que o seguem por corrupção.

O que aconteceu neste domingo

Neste domingo, 26, os protestos deram um salto quando Netanyahu demitiu o ministro da Defesa, Yoav Gallant, após ter questionado se deveria levar adiante a contestada reforma.

Isso desencadeou pela primeira vez desde o início dos protestos, uma série de manifestações espontâneas que chegaram à porta da residência de Netanyahu, que foram massivas e às quais se somou uma série de greves na segunda-feira.

Em Tel Aviv, os manifestantes bloquearam o tráfego na principal artéria da cidade. Em Jerusalém, grandes grupos romperam um dos cordões de segurança ao redor da residência do primeiro-ministro e entraram em confronto com a polícia.

Paralelamente, houve também manifestações massivas de norte a sul do país, incluindo grandes concentrações nas cidades de Haifa, no norte do país, e Beer Sheva, no sul.

No entanto, as manifestações se limitaram a questionar a reforma, mas não o avanço sobre o povo palestino, que já tem um histórico de assassinatos nos primeiros três meses do ano. De fato, algumas centenas de manifestantes que queriam participar das marchas carregando bandeiras palestinas e apontando os ataques dos colonos e do Exército, foram repelidos pela maioria dos presentes acusados ​​de querer rebaixar os protestos. Como aponta o jornal El País "A bandeira do ’inimigo’ (ainda mais hasteada por um judeu) ou palavras como apartheid e supremacismo judaico (que são usadas apenas por aqueles que se situam ideologicamente à margem da esquerda) tocam uma corda muito sensível no país (...) A palavra ocupação também tem uma conotação negativa. O israelense médio não quer se ver como parte de uma ocupação. É um espelho no qual ele não quer se olhar."

Desde a noite de domingo, a rejeição à demissão de Gallant por parte de Netanyahu chegou aos sindicatos, que segundo a mídia local começaram com diferentes ações nesta segunda-feira, incluindo greves nos transportes aéreos e terrestres, comércio e indústria.

Além disso, as universidades do país anunciaram que vão interromper as aulas a partir desta segunda-feira.

A pressão começou a quebrar a coalizão do governo e seu apoio parlamentar. Incluiu também críticas do presidente israelense, Isaac Herzog, e da Casa Branca, que se disse "profundamente preocupada" com os acontecimentos, e a pressão constante de um setor da própria burguesia israelense ligada à crescente indústria tecnológica que não queira um cenário de agitação ou mudanças bruscas que possam afetar seus lucros.

Foi assim que, enquanto os protestos continuavam nesta segunda-feira e setores chave aderiam à greve, Netanyahu teve que sair para anunciar que iria suspender a reforma do Judiciário. No entanto, para deixar claro que não está determinado a recuar e buscando não dar sinais de extrema fragilidade em meio às mobilizações, esclareceu que se trata de uma suspensão temporária até depois do recesso do Knesset para "dar uma oportunidade real de um verdadeiro diálogo".

A coalizão de extrema direita está levando ao limite tanto a política colonialista do Estado de Israel em relação aos palestinos quanto as contradições e atritos dentro dela, mostrando o lado mais cru do regime do apartheid e ao mesmo tempo aprofundando a crise política que está corroendo o regime israelense há anos.




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