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6A PARALISAÇÃO NACIONAL NA ARGENTINA | Entenda os motivos da paralisação geral dos trabalhadores argentinos que está acontecendo agora

A Argentina está desde a madrugada dessa quinta-feira sacudida pela mobilização dos trabalhadores, que estão protagonizando nesse momento uma grande paralisação geral, que parou o país.

Simone IshibashiRio de Janeiro

quinta-feira 6 de abril de 2017 | Edição do dia

Já à meia-noite se podia perceber a magnitude da paralisação convocada pela CGT, contra a política econômica do governo Macri. A paralisação dos transportes é total no país, e há cortes de rua nos principais acessos à cidade de Buenos Aires.

O sindicalismo combativo e a esquerda, dentre a qual se destaca a importantíssima coluna do PTS, organização irmã do MRT na Argentina, cortam totalmente a emblemática Avenida Panamericana, a Ponte Pueyrredón e a Ponte La Noria. Nicolás del Caño, ex-candidato à presidência pela FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) deputado nacional e dirigente do PTS encontra-se nesse momento no corte da Ponte Pueyrredón ao lado dos trabalhadores, que não se intimidaram com a repressão anunciada pelo governo.

Os motivos que levaram a essa paralisação geral são as medidas de ataques contra os trabalhadores e o povo, e consequentemente a proteção a todo custo dos interesses dos capitalistas, que o governo de Macri tem levado adiante. Dentre elas as mais importantes são:

- A inflação que corrói os salários dos trabalhadores: no primeiro ano de governo Macri o salário perdeu muito o poder de compra. Há estimativas de 43% de inflação, uma elevação muito superior aos reajustes salariais. O governo simplesmente quer que os trabalhadores arquem com os custos do aumento da inflação, e anunciou que não ajustará os salários dos trabalhadores públicos em nível equiparável aos do aumento de preços. A estimativa da renda necessária para a manutenção de uma família com dois filhos era de $21. 746 em dezembro de 2016. Com a inflação ocorrida desde então seu custo chefa a cerca de $23.000. A maioria dos argentinos está bem longe dessa renda, segundo o Indec (órgão responsável por levantamentos de índices econômicos) nas cidades 50% dos que têm renda recebiam menos de $ 8.000 no terceiro trimestre de 2016.

A resposta a isso deve ser ajuste automático de salários com a inflação, e um salário mínimo igual às necessidades de uma família.

- Demissões e suspensões: As demissões dispararam tanto no setor público quanto privado. São mais de 11 mil trabalhadores estatais demitidos da administração pública nacional, enquanto no setor privado houve o fim de 34.673 postos de trabalho em relação a 2015. O governo Macri divulga números que não colocam esse aumento do desemprego, o que sugere que além de descarregar a crise nas costas dos trabalhadores está mentindo sobre as condições de emprego no país. Mas agências de pesquisas divulgam que o desemprego, inclusive entre os setores sem registro, supera os 200 mil. O governo quer ter um exército de desempregados, para com isso obrigar os trabalhadores a aceitarem condições piores de trabalho por um salário menor.

Frente a isso o PTS, no interior da Frente de Esquerda, propõe que se lute por “famílias nas ruas nunca mais! Repartição das horas de trabalho entre todos os que podem trabalhar. Para não deixar a vida na fábrica e locais de trabalho, trabalhemos todos por 6 horas diárias, cinco dias por semana”.

- Trabalho sem registro, precário e flexibilização: Na Argentina 33,6% de trabalhadoras e trabalhadores estão sem registro. É um terço da força de trabalho que não têm direitos. Nem sequer direito a indenização frente à demissão. O macrismo tem como um dos seus principais sindicalistas aliados Gerónimo “Momo” Venegas, do grêmio de trabalhadores rurais, onde o trabalho sem registro alcança recorde.

A vulnerabilidade também chega aos que trabalham com contratos precários, situação que o kirchnetismo manteve inalterada e da que se aproveitam as patronais e Macri para demitir, como fez com milhares de estatais. A saída para “manter os investimentos” que Macri quer é aumentar a flexibilização dos direitos trabalhistas.
Os trabalhadores sem registro e precários nem entram no radar da burocracia sindical. Por isso, a partir do PTS se defende sua regularização. Para os precários defende que todos sejam incorporados e tenham os mesmos direitos.

-Aumento da pobreza: O lema “pobreza zero” foi parte do discurso eleitoral de Macri. Mas o ataque sobre o salário e o emprego lançaram cada vez mais famílias à pobreza. Os dados do Observatorio da Deuda Social indicaram que há 1,5 milhão de novos pobres e 600 mil novos indigentes desde que a coalizão Cambiemos de Macri subiu ao poder. Somados à pesada herança deixada pelo kirchnerismo a população de pobres nas cidades supera os 8 milhões.

- O imposto ao salário: As decisões em favor dos empresários foram tomadas com uma velocidade negada às reivindicações dos trabalhadores, como a exigência da anulação do imposto ao salário, uma promessa de campanha de Macri que ele “esqueceu” quando se tornou presidente. Cerca de um milhão de assalariados seguem sofrendo esse roubo no salário. O salário não é lucro.

- Um governo de rico para os ricos: Os únicos que têm algo a comemorar na Argentina hoje são os ricos. Os latifundiários, as multinacionais exportadoras de produtos agrários que tiveram uma colheita histórica, o capital financeiro internacional com a escalada da dívida, que colocou o Banco Central em benefício dos especuladores, a bolsa de Buenos Aires, os industriais que pedem mais flexibilização trabalhista.

Isso tudo mostra que os trabalhadores e o povo argentino têm motivos de sobra para paralisar o país, e impor uma saída que ataque os interesses dos capitalistas. Tal como no Brasil, Macri leva adiante um governo que quer descarregar nas costas dos trabalhadores o ônus de uma crise criada pelos capitalistas. Há que seguir atentamente a luta dos nossos irmãos de classe argentinos, da esquerda e do sindicalismo combativo do país, que hoje estão protagonizando uma importante paralisação contra esses ataques. O que pode ser um exemplo valioso em nosso país, cujo nível de ataques não é inferior.




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