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ZIKA VIRUS | Dilma diz que ‘estamos perdendo a guerra contra o mosquito’. Não aceitemos!

Nessa sexta-feira (29), Dilma Rousseff declarou, depois de uma reunião com governadores de São Paulo, Pernambuco, Paraíba, Rio de Janeiro e Bahia para tratar da infestação do Aedes aegypti que: "estamos perdendo a luta contra o mosquito".

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

sexta-feira 29 de janeiro de 2016 | 23:03

Ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Castro, a presidente disse que não viu problema nas recentes declarações do peemedebista. Segundo ela, ele fez apenas uma "constatação da realidade". O comentário se refere a que no início da semana, Castro afirmou que o Brasil "perdeu feio" a batalha contra o Aedes aegypti e que houve uma "certa contemporização" em “30 anos de convivência” com o mosquito. Apesar de que Marcelo Castro havia feito essa “constatação da realidade”, hoje Dilma negou que o governo tenha demorado para enfrentar o problema e para parecer ativa no combate ao mosquito ordenou uma “limpeza” nos órgãos federais hoje nessa sexta.

As declarações de Dilma ocorrem depois de diversos alertas, incluindo da Organização Mundial de Saúde (OMS), que na última quinta-feira afirmou que o Zika vírus já atinge 23 países e que o contágio "se propaga de maneira explosiva" pelo continente americano. A OMS fez uma reunião de emergência com os Estados-membros em Genebra (Suíça), com participação do Brasil, e anunciou a convocação de um comitê emergencial sobre o zika na próxima segunda-feira, para decidir se o elevado número de casos pode ser declarado uma emergência de saúde internacional. A OMS afirmou que zika vírus pode infectar de 3 a 4 milhões de pessoas por todos os países das Américas em 2016, incluindo 1,5 milhão no Brasil. A última emergência do tipo foi anunciada no contexto da epidemia do vírus ebola na África Ocidental, em 2014.

Ninguém pode negar que estes “anos de convivência” levaram a que, por exemplo, não exista vacina contra a epidemia. Depois de tantos anos, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou nesta sexta-feira, 29, que os testes com a vacina da dengue, que está sendo elaborada pelo Instituto Butantan, vão começar no próximo mês. A vacina será testada em 13 cidades.

A presidente Dilma Rousseff disse que telefonará para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que na última terça-feira cobrou o rápido desenvolvimento de testes, vacinas e tratamentos para combater o vírus, já que ele poderia se espalhar pelos Estados Unidos nos meses de calor. Além de Obama, Dilma telefonou na quinta-feira para o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, para falar sobre a reunião de ministros da Saúde dos integrantes da Unasul, que será realizada na semana que vem. É claro que todos estão preocupados com as consequências que isso pode ter para as Olimpíadas deste ano, que vão ocorrer no Rio de Janeiro.

As mulheres que estão sofrendo com a epidemia necessitam medidas emergenciais, pelo direito ao aborto já!

Para responder a esta triste realidade não bastam as medidas anunciadas pelo governo, que centra na necessidade de repelentes e fiscalização dos estabelecimentos, sem nenhum atendimento efetivo para as mulheres e crianças que já estão sofrendo com o problema. Em primeiro lugar, todas as mulheres devem ter o direito de decidir se vão levar ou não adiante a gravidez, e caso decidam pela gestação e mesmo com microcefalia, que tenham todos os recursos médicos e psicológicos garantidos pelo Estado.

Esta semana se abriu um debate entre médicos e juristas na imprensa sobre o direito ao aborto em casos de mulheres grávidas contagiadas pelo vírus da zika com o risco do bebê desenvolver microcefalia. Segundo previsões da Fiocruz, pode chegar a 16 mil bebês neste ano com microcefalia. O juíz de Goiás Jesseir Coelho de Alcântara foi um dos que se posicionou favorável a uma avaliação sensível do Judiciário e está defendendo que mulheres possam obter autorização no judiciário para abortarem no caso de microcefalia que tenha risco de morte para o bebê a partir de laudo médico. A presidente da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Pernambuco se posicionou contra o direito ao aborto em caso de microcefalia dizendo que era "totalmente ilegal e antiético". Setores conservadores da Igreja também usam este argumento como o presidente da comissão Arquidiocesana de Comunicação de Olinda e Recife, padre Luciano Brito, que disse que “nada justifica um aborto. Não é porque um feto tem microcefalia que vamos ser favoráveis”.

Já é um absurdo que no Brasil não exista direito ao aborto legal, seguro e gratuito, e mais ainda frente a esta situação. O contágio com o vírus da zika já traz o risco da microcefalia e todas as mulheres devem ter o direito de decidir se querem levar adiante uma gravidez. Pela garantia imediata do direito ao aborto para todas as mulheres, e mais ainda para as mães que estejam em risco. Pela garantia imediata de todos os direitos das quase 4 mil crianças com microcefalia e suas mães, pois as crianças vão precisar de todo o cuidado médico (fonoaudilogia, oftalmologia, fisioterapia, etc) e as mães precisam de psicólogos (inclusive está havendo falta de psicólogos em Pernambuco para acompanhar a situação). Todo esse cuidado médico com crianças e mães deve ser garantido pelo Estado, que também tem que garantir que estas mães, na maioria trabalhadoras, tenham licenças remuneradas irrestritas para cuidar de seus filhos.

Medidas tardias que não respondem ao problema de fundo

As movimentações que os governantes estão fazendo agora são uma mostra clara de que sim o país vive uma epidemia que sim poderia ter sido evitada antes. Não por acaso que os locais onde mais tem casos de dengue, chicungunha e zica é o nordeste brasileiro, região mais pobre do país e mesmo aí os casos não se distribuem de forma igual, sendo que regiões mais pobres possuem índices bem maiores. É o retrato de um país em que a única forma de salvar-se do caos da saúde pública é adotando planos de saúde caríssimos.

Depois de treze anos de governos do PT, os órgãos de combate a epidemias se encontram sucateados, com a crise econômica esse processo piorou ainda mais, sendo que milhares de agentes de saúde perderam seus empregos recentemente e que o acesso ao saneamento básico quase não avançou durante as administrações petistas. Os trabalhadores que lidam com a questão do saneamento básico sofreram com os ajustes, perdendo seus empregos, o que prejudica diretamente a população neste tipo de situação.

A distribuição gratuita de repelentes é necessária, mas para evitar esse tipo de calamidade, precisamos de outro sistema de saúde no país. Não podemos mais aceitar cortes de orçamento que estão levando a situações catastróficas. Lutemos pelo não pagamento da dívida pública para investir em planos de obras públicas e saneamento básico, em primeiro lugar nos estados mais afetados como Pernambuco, e também um sistema único de saúde 100% estatal e controlado por trabalhadores e usuários.




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