×

Precarização das universidades | Com infraestrutura precária pelos cortes de verba, UFRGS sofre os efeitos da crise climática no RS

Goteiras, infiltrações, desabamento de forros e alagamentos. Esse é o caótico cenário em que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul se encontra frente a brutal crise climática que coloca o Estado em alerta vermelho. Mas nada disso é por acaso, a precarização da infraestrutura de nossa universidade é fruto dos cortes bilionários de verba que perduram a anos, servindo para encher os bolsos dos capitalistas.

Luno P.Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

quinta-feira 28 de setembro de 2023 | Edição do dia
Inundação na Biblioteca da Faculdade de Odontologia em 2018 - Imprensa ASSURGS

Na última semana, se multiplicaram as denúncias de problemas de infraestrutura nos prédios da UFRGS. Segundo relatos, as chuvas torrenciais da última terça-feira (26) levaram ao desabamento de parte do forro do Instituto de Letras, assim como a um alagamento no terceiro andar do Instituto de Ciências Básicas da Saúde e infiltração no Instituto de Psicologia, na Faculdade de Agronomia e no prédio da Administração. As infiltrações cada vez mais tem se tornado uma realidade, muitas vezes chegando a ameaçar o próprio acervo das bibliotecas, como aconteceu na Biblioteca da Faculdade de Odontologia em 2018.

Este cenário não é novo para a comunidade acadêmica da universidade. Em 2019, houve o desabamento de parte do telhado do Salão Nobre da Faculdade de Direito. No Instituto de Artes, as chuvas sempre são o prenúncio de goteiras que mais parecem verdadeiras cachoeiras. Já no Campus do Vale, houve um alagamento no Instituto Latino Americano de Estudos Avançados (ILEA).

Mas a situação de precarização da infraestrutura da universidade vai para muito além da crise climática. É tão absurda que no começo deste ano, o Departamento de Teatro foi evacuado por risco de incêndio na sala Alziro Azevedo. Já no começo do mês de setembro, ocorreu um incêndio no Campus Centro em um prédio anexo à Escola de Engenharia. Sem falar dos casos de infestação de escorpiões e outras pragas que já são tradição no instituto.

E enquanto aumentam as chuvas, ciclones e outros eventos da total crise climática capitalista, a fachada de uma das “melhores universidades da América Latina” vai sendo despedaçada, revelando a imagem da profunda precarização de prédios sem reformas, sem acessibilidade, muitas vezes ruindo pela deterioração causada pelo descaso de anos.

Porém, essa situação não se dá ao acaso. É fruto do buraco orçamentário que a universidade se encontra devido ao acúmulo de cortes que seguem desde 2015, durante os governos Dilma, aprofundados com o golpe e os cortes bilionários do governo Bolsonaro que chegaram a ameaçar o fechamento de nossas universidades federais. Esses cortes expressam o projeto de universidade dos capitalistas, que vem para corresponder ao país da precarização do trabalho e das reformas, como a trabalhista e da previdência, que hoje o governo Lula-Alckmin já anunciou que não irá revogar, muito pelo contrário, irá manter e avançar em novos ataques contra os trabalhadores e a juventude.

O rombo orçamentário é tão expressivo que, em 2021, o orçamento da UFRGS era 30% mais baixo quando comparado com 2016, mesmo com o número de estudantes tendo aumentado de 40,3 mil para 43,9 mil, segundo declaração de Geraldo Jotz, pró-reitor de Inovação e de Relações Institucionais da UFRGS. No que diz respeito aos gastos com manutenção, em 2022, a UFRGS investiu 28% a menos que em 2016. Esses dados escancaram uma situação dramática das universidades federais do país, que mesmo com a parca recomposição orçamentária de cerca de 2,4 bilhões feita pelo governo Lula-Alckmin, frente aos 80 bi cortados da educação e ciência nos últimos anos, continuaram com o orçamento profundamente defasado.

Leia também: "Temos um quadro que de fato é de colapso", diz representante docente da UFRGS, Pedro Costa

Na UFRGS, estes cortes são administrados pela reitoria interventora de Bulhões e Pranke, impactando mais fortemente os setores mais precarizados da nossa universidades, com desligamento de cotistas todos os anos e com demissão de terceirizados, enquanto Bulhões aproveita as benesses de salários acumulados e viagens internacionais de mais de 40 mil reais para participar de eventos que buscam abrir cada vez mais a nossa universidade para as grandes empresas, subordinando nossas pesquisas e a produção científica e de tecnologia ao lucro capitalista.

Frente a essa situação, é urgente uma resposta do movimento estudantil para se enfrentar com a precarização das nossas universidades. É preciso batalhar pela recomposição de todo o orçamento cortado nos últimos anos, pela abertura do livro de contas da UFRGS para que nós decidamos para onde o orçamento vai, também sendo urgente lutarmos contra as reformas que aprofundam a situação miserável da juventude e dos trabalhadores e contra o pagamento da fraudulenta dívida pública. Não podemos esperar isso de nenhuma instituição da universidade, muito menos da reitoria interventora que também deve ser derrubada com a nossa luta ou do governo Lula-Alckmin que sustenta todas as reformas e passa medidas como o arcabouço fiscal e a reforma do ensino médio.

Somente com a força da nossa luta ao lado dos trabalhadores, organizados em assembleias de base nos locais de estudo e trabalho é que podemos arrancar essas demandas. Nesse sentido, es estudantes da USP, que estão em greve há mais de 7 dias, mostram o caminho da mobilização para enfrentar a precarização nos cursos e as políticas de ataque de Tarcísio. As assembleias com mais de 1000 estudantes, a aliança com os trabalhadores, os atos cheios, que exigem mais contratação de professores, são um verdadeiro exemplo a ser seguido e apoiado nacionalmente, pois, se a mobilização sai vitoriosa, é um fundamental ponto de apoio para se enfrentar os ataques e defender mais verbas para a educação nacionalmente.

Leia mais: Contra a precarização das universidades, a greve da USP mostra o caminho: Por uma paralisação nacional!




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias