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AJUSTE FISCAL | Após ameaça de deixar o governo, Levy reafirma seu poder

sábado 5 de setembro de 2015 | 00:14

A última semana começou com a tentativa de Dilma Rousseff em dividir com o Congresso Nacional a responsabilidade pelos próximos passos do ajuste fiscal e, dessa forma, tentar aliviar um pouco o desgaste sem fim do governo. Tal manobra tomou corpo quando o governo apresentou ao Senado a proposta orçamentária para 2016 com previsão de um déficit de R$30 bilhões. A partir daí Dilma saiu a dizer que o governo já havia cortado tudo o que era possível sem afetar os programas sociais e indicou a intenção de resolver o rombo nas contas do governo através do aumento de impostos, cogitando inclusive a volta da CPMF.

Ao mesmo tempo, Dilma aparentemente conseguia uma trégua temporária nos ataques vindos da Câmara dos Deputados. Obrigado a reconhecer que o confronto aberto e completo com o planalto não era nada tático num momento em que sofre pressões pelas investigações da Lava-Jato e por ser acusado de irresponsável por parte da burguesia frente à magnitude da crise, Cunha anunciou a retomada das “relações instituições” com o governo.

No entanto, o que parecia ser um respiro rapidamente se transformou em novos elementos de crise. A proposta de volta da CPMF foi amplamente atacada por empresários e pela mídia e poucas horas depois Dilma teve que voltar atrás. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e os grandes empresários que patrocinam sua política de ajustes sentiram que sua linha de maiores e mais profundos cortes não estava sendo defendida com a firmeza necessária pelo governo e decidiram ir para a ofensiva.

A ameaça de Levy e maiores ajustes

Levy ameaçou deixar o cargo caso Dilma não se comprometesse a realizar mais cortes. Os “analistas” das agências de risco aumentaram a chantagem e disseram que, caso o ministro caísse, a perca do grau de investimento do Brasil seria eminente. Combinado com a expectativa de aumento dos juros nos EUA, a ameaça de Levy contribuiu para mais uma onda de alta do dólar, que fechou a semana em R$3,85, a maior cotação desde outubro de 2002.

Dilma e a cúpula do Planalto não pensaram duas vezes e em reunião de emergência na quinta-feira, 03, garantiram a Levy que irão trabalhar por mais cortes no orçamento e que irão adotar a meta de superávit primário de 0,7% reservada para o pagamento dos juros da dívida pública em 2016. Para não restar dúvidas de quem controla os rumos do governo, no mesmo dia a noite, Levy se reuniu na casa de Beto Sicupira, dono da cervejaria Inbev e da rede Burger King, com outros mega empresários como os proprietários do Itáu Unibanco, Gerdau, Coteminas e Oi, para exigir do governo sua permanência.

Declarações de Temer

Para piorar as coisas para Dilma e o PT, na noite da mesma quinta-feira, Michel Temer esteve presente em jantar organizado pela líder de um dos grupos que pedem o impeachment da presidente e declarou que não acredita que alguém com apenas 7% de popularidade consiga ficar 3 anos e meio no governo. Embora todos já saibam as intenções do PMDB em abandonar o governo, Temer surpreendeu até mesmo a cúpula do PMDB, que considerou precipitada e nada tática a declaração de seu principal líder.

Uma resposta independente do governo e dos patrões

Para os trabalhadores e a juventude que vêm sofrendo com a retirada de direitos, o desemprego e a inflação, o balanço dessa semana deixa ainda mais claro o evidente consenso que existe entre Dilma, Lula, o PT, o PMDB, Levy, os empresários e os partidos de oposição como PSDB, em intensificar os ataques para que sejamos nós que paguemos pela crise.

Ainda que a tentativa da cúpula do PT de dividir a responsabilidade dos ajustes e adotar um discurso de amenizar o déficit pelo aumento da receita – ou seja, impostos – fosse de fato implementada – o que a burguesia já deixou claro que não está disposta a admitir –, mesmo assim, seriam os trabalhadores os que pagariam a conta.

A situação do governo Dilma segue bastante indefinida e a crise política e econômica se acentuam a cada dia. Com o movimento de ruptura do PMDB cada vez mais acentuado, a manutenção deste governo parece durar enquanto os principais setores da burguesia nacional entenderem que uma instabilidade política ainda maior pode afetar o ajuste que está em curso contra os trabalhadores.

Diante deste cenário e frente as perspectivas que se desenham para a conjuntura nacional, cada dia é precioso para as organizações de esquerda e o movimento operário conseguirem articular uma alternativa para responder a crise. A marcha nacional que está sendo convocada para o dia 18 de setembro precisa ser um primeiro passo neste sentido.




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