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Todes ao ato na reitoria dia 21/11! | UFMG: qual é o caminho de mobilização para derrotar os ataques da Reitoria?

A Fump, uma entidade que se diz “sem fins lucrativos” com um superávit de escandalosos 700 mil reais, de mãos dadas com a Reitoria, ameaça aumentar o bandejão para R$8,37. Trabalhadores da Fump e terceirizados condenados a condições de trabalho precárias. Estudantes constantemente ameaçados a serem expulsos da universidade por falta de assistência estudantil. Um livro de contas fechado que administra a falta de verbas e uma estrutura de poder em que a reitora sentada com uma casta burocrática decide as prioridades da universidade. Entenda porque lutar contra mais esse ataque se relaciona com a defesa do fim da Reitoria e do Conselho Universitário, para que a gestão da universidade seja feita democraticamente de forma proporcional pelos três setores da comunidade UFMG.

Mafê MacêdoPsicóloga e mestranda em Psicologia Social na UFMG

segunda-feira 20 de novembro de 2023 | 13:57

Enquanto nós lutamos pela redução radical do preço do bandejão, pelo Fora Fump, para que sejam ês estudantes, com representantes eleitos pelas bases que administrem a assistência estudantil, contra o trabalho precarizado da Fump e da terceirização e por mais contratações, a Reitoria e o Conselho Universitário de mãos dadas com a Fump pretendem aumentar o bandejão para quase 9 reais, ameaçando a permanência de milhares de estudantes na UFMG.

A ameaça de aumento do bandejão e a precarização da universidade, expressa, por exemplo, na falta de assistência estudantil, de professores nos nossos cursos e de infraestrutura como ventiladores e internet nos prédios, não está desconectada de toda uma ofensiva política contra educação, que foi aprofundada pós-golpe de 2016 com os governos Temer e Bolsonaro e que agora segue no governo de frente ampla Lula-Alckmin. Com o arcabouço fiscal que é um teto de gastos 2.0, bloqueio de mais de 116 milhões das bolsas de pesquisas de CAPEs, bloqueio de 322 milhões de verbas para educação, com a destinação de 6 bilhões do orçamento do MEC pro grupo Lemann e ligado ao projeto burguês do Novo Ensino Médio e à ideologia de empreendedorismo com uma juventude empurrada para trabalhos precarizados.

Hoje, a reitoria se coloca na posição de, estando de mãos dadas com o governo, repassar cada um desses cortes, o que significa tornar a universidade pública cada vez mais cara e inacessível para os setores mais explorados e oprimidos da sociedade, o que se expressa, por exemplo, na existência do filtro social e racial que é o vestibular, que faz com que ês trabalhadores terceirizades da UFMG, como parte desse setor oprimido que tem rosto de mulheres e homens negres, apenas ingresse nos muros da universidade para terem descarregada em suas costas a precarização do trabalho.

Esse cenário diz sobre a perpetuação na universidade da estrutura da sociedade capitalista, que se utiliza de cada uma das opressões para responder aos interesses de uma classe dominante interessada em lucrar. São antagônicos os interesses da grande maioria des estudantes, filhos da classe trabalhadora e, muitas vezes, eles mesmos trabalhadores, aos interesses da casta burocrática regada a privilégios, representada pela Reitoria e pelo Conselho Universitário, que além de jogar nas nossas costas a necessidade de lucro da Fump mantém acordos com instituições israelenses ligadas ao massacre do povo palestino e com empresas como a mineradora Vale, responsável pelos maiores crimes trabalhistas e ambientais da última década.

Enquanto essa casta decide as prioridades da nossa universidade, sustentada todos os dias pelo trabalho precário da terceirização e pela nossa produção de conhecimento realizada a duras penas devido a falta de infraestrutura e de verbas, ês estudantes e trabalhadores não sabem sequer como e para onde é direcionado o orçamento da UFMG, que se mantém fechado no livro de contas da Reitoria.

É imprescindível que o enfrentamento de cada um dos ataques que a reitoria nos impõe, como o aumento do bandejão e a falta de professores, seja um ponto de apoio para que avancemos na nossa própria auto-organização em contraposição a estrutura de poder da UFMG, que é herdada da ditadura militar, garantindo estatutos cujo centro passava por impedir que es estudantes que lutavam contra o regime, não tivessem peso algum na tomada de decisões das universidades, além de todo controle ideológico.

Para varrer todos os resquícios da ditadura na universidade, que não à toa foi homenageada pelo bolsonarismo nos últimos anos, precisamos lutar por uma Estatuinte Livre e Soberana, isto é, por um processo democrático de decisão sobre o Estatuto que se baseie no sufrágio universal (voto por pessoa entre docentes, estudantes e trabalhadores), dissolvendo a Reitoria e o Conselho Universitário e elegendo representantes que, nessa Assembleia Estatuinte, possam debater e decidir sobre tudo o que diga respeito à universidade, desde o acesso (como o fim do filtro excludente do vestibular, por exemplo), às contas (desmascarando a "crise orçamentária") e à terceirização (incorporando imediatamente todas as trabalhadoras sem concurso, com plenos direitos).

Nesse processo, nós da Faísca defenderíamos que é necessário chegar a uma forma muito mais democrática de administração da universidade, com peso proporcional das três categorias e assim garantindo a maioria dos estudantes. Essa batalha é parte da defesa de uma universidade a serviço dos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre e oprimido, para que sua estrutura não esteja a serviço de parcerias público-privadas e cujos conhecimentos não sirvam para aprimorar as técnicas de exploração e do lucro das empresas capitalistas.

Ao passo que vemos a defasagem do corpo docente na UFMG, se acelera o esvaziamento dos currículos das escolas públicas, com o Novo Ensino Médio e a farsa do "empreendedorismo", um projeto burguês de aprofundamento do abismo entre a escola pública e a universidade, que o governo Lula-Alckmin já disse que não irá revogar. Ao contrário desse projeto, defendemos que todo o potencial do conhecimento produzido na UFMG deva estar a serviço de responder às principais questões que acometem a nossa sociedade e os explorades e oprimides, como é a própria crise climática, cuja origem está nesse sistema.

Na última Assembleia Geral de estudantes da UFMG, o DCE, composto por Afronte e Juntos insistiu, junto com o Correnteza/UP e Rebeldia/PSTU em não construir um ato na reitoria antes do dia 21, o dia em que o Conselho Universitário vai votar o aumento do preço do bandejão. Na contramão dessa posição, nós defendemos que o ato do dia 14/11 poderia ter saído do bandejão e idor para frente da reitoria. Há, nesse cenário, uma diferença política sobre convencer es estudantes do seu papel na luta contra o aumento do bandejão e por mais contratações, já que para nós a nossa mobilização não pode estar subordinada ao calendário da Reitoria e do Conselho Universitário, defendemos que ela precisa ser completamente independente, se enfrentando abertamente com essa estrutura de poder antidemocrática da universidade e os cortes orçamentários acumulados nos últimos anos e também aplicados pelo governo Lula-Alckmin.

Nesse momento, é central seguir debatendo com todes estudantes sobre a importância de construir fortemente a mobilização desde a base, batalhando para construir um forte ato na Reitoria no dia 21, para que a força estudantil barre esse ataque. Por isso, é fundamental uma estratégia que massifique a luta para o máximo de estudantes, que impulsione espaços de auto-organização para que cada um possa tomar esta luta em suas mãos.

A unidade na construção dessa luta não significa esconder as diferenças, pois é impossível ignorar o fato de que todo o imobilismo que permeou nossa principal entidade esse ano decorre da posição política do PSOL, que é parte do governo de frente ampla Lula-Alckmin e alimenta mais confiança nas vias institucionais e na articulação por cima com as burocracias estudantis e sindicais, do que na auto-organização des estudantes.

Não aceitamos que seja nos ombros dos setores mais oprimidos e explorados dentro da UFMG que recaia o peso dos cortes dos governos, dês estudantes que entram pelas cotas e precisam de permanência estudantil, mas não tem esse direito garantido, em particular nos ombros dês estudantes negres, mulheres, indígenas, PCD’s e LGBTQIAP+. A Reitoria e a burocracia universitária são responsáveis por cada estudante que tem dificuldade de ter acesso a um direito tão básico como o seu nome social na lista de chamada, pela falta de banheiros que possam ser usados de acordo com a identidade de gênero de cada pessoa e por seguir perpetuando dentro da universidade a estrutura de poder transfóbica da sociedade capitalista. Por isso, nossa luta também é pelas cotas trans já, rumo ao fim do vestibular para que todes possam ter direito de estudar, e por permanência plena para toda demanda.

Como parte de nossa luta, é fundamental que es estudantes da UFMG retomem a tradição internacionalista anti-guerra do movimento estudantil, se inspirando no crescente movimento anti-imperialista contra o massacre de Israel à Palestina, que vem se fortalecendo em todo mundo. Por isso, fazemos um chamado a todes estudantes e trabalhadores a se somarem ao comitê em defesa do povo palestino na UFMG. Tomando para nós a luta e resistência das milhares de crianças e mulheres palestinas, fazendo ecoar o grito anti-colonialista contra o Estado sionista de Israel. Acreditamos que o ato do dia 21 será uma ótima oportunidade para levantar a defesa pela ruptura das cooperações da UFMG com instituições israelenses, denunciando os acordos criminosos da nossa universidade com o sionismo, assim como das relações que o governo Lula-Alckmin segue, do Brasil com Israel.




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