Um dos principais cartões postais de Porto Alegre e também uma das áreas mais valorizadas da capital, o Cais Embarcadeiro, foi entregue por uma mixaria em leilão realizado na Bolsa de Valores de São Paulo com participação de uma única empresa. O prefeito Sebastião Melo (MDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB) comemoraram a privatização de parte do pôr do Sol de Porto Alegre sem a mobilização dos partidos de esquerda para impedir. O consórcio Pulsa RS composto de duas empresas arrematou os 181mil metros quadrados com vista para o Guaíba por 144,8 milhões de reais e poderá construir até 9 torres no local.
sexta-feira 9 de fevereiro | Edição do dia
Foto: Mateus Raugust/PMPA
A rua é pública, exceto em condomínios fechados. Onde vai parar a ânsia privatista neste ritmo? Viveremos entre condomínios fechados e repressão policial para além dos muros? Em outra escala essa é a política do Estado assassino de Israel. É também a política de partidos como o MDB de Melo e o PSDB de Eduardo Leite com o apoio do projeto de conciliação de Lula e Alckmin.
As empresas que irão assumir o Cais, a Spar Participações e Desenvolvimento Imobiliário e a Credlar Empreendimentos Imobiliários, terão a concessão do espaço por 30 anos se comprometendo em investir 353 milhões ao longo deste período. São 181 mil metros quadrados que vão da Usina do Gasômetro até a Rodoviária. Os pavilhões, armazéns do cais são tombados e deverão ser revitalizados, está prevista a construção de um espaço para eventos que não será de livre acesso para a população. O consórcio poderá ainda construir até 9 torres com vista para o pôr do Sol do Guaíba em toda a extensão das margens do rio.
A atuação da esquerda na Câmara de Vereadores e na Assembleia legislativa do RS se limitou a denúncias, que embora muito importantes, não impediu a privatização. É a mobilização da população trabalhadora que pode frear esse tipo de absurdo, mas as grandes centrais sindicais como a CUT dirigida pelo PT e a CTB dirigida pelo PCdoB não organizaram sequer uma manifestação contrária à mais esta privatização.
A privatização da CRM, da Sul Gás, de parte do Banrisul, da Corsan e da CEEE no Rio Grande do Sul são parte do chamado Regime de Recuperação Fiscal que prevê a entrega das empresas públicas para adiar o pagamento da fraudulenta e abusiva dívida com a União. A privatização da CEEE, companhia de energia do estado, recentemente revelou o descaso com a população gerando uma situação caótica que deixou sem luz milhares de pessoas por vários dias e gerou centenas de protestos. Além das mortes de trabalhadores da CEEE-Equatorial que estavam trabalhando sem EPIs. Na prefeitura de Porto Alegre houve a privatização da Cia Carris, empresa pública de ônibus, que, arrematada em leilão por uma bagatela pela empresa Viamão, está gerando demissões em massa na lógica desumana do capital que coloca o lucro à frente das vidas.
Somente a auto organização em cada bairro, local de trabalho e estudo e a mobilização nas ruas à exemplo do que recentemente fizeram os argentinos, contra os planos terríveis do presidente de extrema direita Javier Milei, é que pode derrotar as privatizações e a consequente precarização dos serviços públicos e dos trabalhadores que prestam esses serviços. É preciso exigir das grandes centrais sindicais, das direções sindicais e parlamentares de esquerda que organizem a luta de forma independente dos governos e dos patrões. Pela reestatização sob controle dos trabalhadores de todas as empresas privatizadas!
