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TURQUIA | Golpe falido: oportunidade para Erdogan ou expressão da crise?

Erdogan busca utilizar o falido golpe como trampolim para impulsionar seu projeto bonapartista. Mas o fracasso do golpe não significa a superação da crise permanente do regime turco.

sábado 23 de julho de 2016 | Edição do dia

Na tarde de 15 de julho, houve a tentativa de golpe militar contra o presidente Erdogan e o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento). A falência do golpe não significa de nenhum modo a superação da crise permanente do regime Erdogan.

Na noite do dia 15, quando a tentativa de golpe foi obrigada a retroceder, Erdogan aterrizou no Aeroporto Atatürki, em Istambul, onde recentemente 45 pessoas morreram num ataque do Estado Islâmico. Lá, o presidente turco chamou o golpe de Estado de “uma benção de Deus” e anunciou que faria uma limpeza completa do aparato militar. Esta mensagem não deve ser entendida somente como uma declaração de guerra contra os golpistas. Sua ideia é preceder à transformação sistemática do Estado turco.

Erdogan está usando o golpe como um trampolim para seu bonapartismo. É uma vitória provisória, já que a derrota do golpe não significa uma estabilização do regime, que está em uma crise permanente. Um exemplo desta crise é especialmente a limpeza das instituições nacionais, uma das mais profundas desde a criação da república turca. Depois do golpe falido, Erdogan teme outra tentativa de golpe e trata de ter um controle total do Estado.

O bonapartismo tropeça

O caráter de crise permanente da Turquia como nação se baseia em muitos fatores: a República da Turquia é uma semicolônia. Isto expressa a influência massiva do capital estrangeiro. Particularmente o desenvolvimento industrial da economia turca está muito subordinado às empresas imperialistas. A economia turca não é suficientemente forte nem economicamente nem politicamente para comprometer-se com a pequena burguesia e a classe operária.

Isto mostra o conflito permanente entre a burguesia ocidental de Istambul (associação de empresários e homens de negócios da Turquia, tüsaid, em turco), e a política antioperária de Erdogan, que resulta em 18 mil acidentes em locais de trabalho evitáveis, desde 2002.

A luta armada pela libertação do povo curdo desde a colonização do Curdistão pressupõe o desenvolvimento de um regime militar para a burguesia Turca. As tentativas de opressão sobre o povo curdo por meio da força militar e assimilação política falharam outra vez, à medida que os gastos foram uma grande carga econômica. O forte aparato do estado e militar se converteram em um obstáculo para a estabilidade econômica e política do regime. Em 2002, o AKP tomou o governo, assombrado por uma profunda crise econômica. Os motivos históricos foram a desregulação econômica, as reformas políticas e a diplomacia exterior, para apontar as contradições da burguesia turca na questão do povo curdo: um “contrato de paz”, empurrado atrás do gigante militar da economia e do Estado, e a privatização foi o meio para um novo curso.

Além disso, a Turquia tem uma localização geopolítica que se caracteriza por intensos conflitos e permanentes intervenções imperialistas.

O balanço do AKP não mostra nenhuma outra coisa que a confromidade com o modelo de estado da “personificação ideal do capital nacional total”: o processo de aproximação à UE estaca em repetidas ocasiões. Ninguém acredita que haja uma filiação à curto prazo. Erdogan, primeiro como chefe de governo, e agora como presidente que de fato “governa o governo”, tem experiências de derrotas ma política exterior, em relação a seus esforços por estabelecer um poder regional. Mudou sua política sobre a questão curda, da diplomacia à tática militar.

Seu regimen atual se baseia na tentativa de instalar um bonapartismo. Mas os fatores objetivos e subjetivos não o deixam jogar como “conciliador” que, com consentimento com a burguesia, se eleva acima das classes. Ao contrário: está usando métodos bélicos e nacionalistas, que permitem a consolidação de uma base mas não o cumprimento dos interesses dos distintos atores imperialistas nem da burguesia de Istambul.

O papel da burguesia imperialista em uma semicolônia é especialmente importante, já que possui a maioria dos principais meios de produção, o destino da burguesia local está ligado à colaboração com o imperialismo. Na visão do Capital, a legitimação de um regime bonapartista se origina na intensificação dos conflitos entre as classes, devido ao baixo grau de organização e divisão da classe trabalhadores e a ausência de um partido revolucionário de massas, que não parece urgir.

Embora Erdogan devesse localizar-se acima das classes para ser um Bonaparte, só recebe apoio de uma fração da burguesia. Esta é a razão principal dos tropeços de seu bonapartismo, e do regime de Erdogan estar em crise. Sequer a “normalização” da relação com Rússia e Israel, logo após o confronto, foi exitosa mas foi expressão da política de tropeços de Erdogan.

A clarificação destas contradições foi a tentativa de golpe de uma camarilha, que foi isolada pelas condições da luta de classe, mas que considerava o tempo ideial para a queda de Erdogan.

A opção mais provável de Erdogan é levar a cabo o sistema presidencial de fato, por isso leva adiante a defesa e captura das posições nas insituições nacionais, por meio dos processos de limpeza, para buscar consentimento de outras alas da burguesia local e imperialista.

A tentativa de golpe terminou com a rendição dos golpistas, mas as contradições internas e da política exterior do regime se mantém, não é o extremo mas sim altamente instável.




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