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Petroleiros | Entrevista com Fabíola Monica: “comecei uma luta assim, bem feminina, por creche, por igualdade. E dali, eu comecei a me engajar”

Como parte da lembrança do dia de luta dos aposentados, acontecido em 24/01, o Esquerda Diário entrevistou importantes petroleiros ativistas aposentados. Nesta entrevista falamos com Fabíola Mônica, que foi parte da luta pela recuperação do sindicato das mãos dos interventores da ditadura e já foi diversas vezes diretora do SINDIPETRO-RJ.

quinta-feira 25 de janeiro | Edição do dia

Fabíola Mônica é uma petroleira muito conhecida da categoria, tendo sido parte da luta para recuperar o sindicato das mãos dos interventores da ditadura militar, e da histórica greve de 1983 que paralisou diversas refinarias no país. Fabíola já foi diretora do SINDIPETRO-RJ em diversas ocasiões. Nesta série de entrevistas conduzidas com aposentados ativistas da categoria, também entrevistamos Sílvio Sinedino, liderança conhecida, e também a liderança dos aposentados Roberto Ribeiro. Junto a todos eles, e outras organizações políticas e sindicais, impulsionamos o "Manifesto Independência de Verdade e Unidade Para Lutar", que chamamos os leitores a conhecerem e apoiarem, bem como a conhecerem nossas posições para além deste manifesto comum a todas essas forças políticas, lendo "Lições do acordo coletivo: que tipo de organização sindical e pela base os petroleiros precisam?"].

Esquerda Diário: Você é uma pessoa muito conhecida da categoria petroleira, já tendo sido diretora sindical no Sindipetro-RJ mais de uma vez, é também uma grande voz da luta por anistia aos demitidos e aos perseguidos políticos pela ditadura e depois nos governos civis. Nos conte de sua trajetória de luta e suas experiências na categoria quando era da ativa?

Fabíola Mônica: Eu comecei minha militância nos anos 80, nessa época eu trabalhava na antiga TI. Na divisão de processamento de dados, com os analistas de sistemas, diretamente com eles. Além de eu ser secretária da divisão, era bibliotecária daqueles grandes manuais do Mainframe. Eu recebia os manuais da Auerbach e eram todos em inglês. Meu chefe era polonês, tinha dupla nacionalidade, dizia que eu não devia receber como secretária, mas como bibliotecária, ainda mais especializada em inglês. E eu respondi "isso é Brasil e nós estamos em uma ditadura".

Quando fui pra Petrobras, ainda não tinha minhas filhas, casei depois e só então tive elas. E comecei minha luta exatamente devido as minhas filhas, por que antes eu estava querendo que o "mundo terminasse em melado pra eu morrer doce". Sempre li muito, sabia muita coisa, já tinha me identificado como anarquista, por que li Proudhon, gostei muito, li Emma Goldman, e Malatesta. Eu penso muito como esses caras. Não penso exatamente como Marx, com a ditadura do proletariado. Me identifiquei muito mais com a Emma Goldman, ela disse que a luta se faz dançando. Esta é uma ótima ideia. A luta tem que ser feliz; não tem que ser uma luta que a gente fique massacrada.

Começou minha luta por que eu tive minhas filhas. Sou de Macaé e vim pra Niterói com 17 anos. Foi lá que minhas filhas nasceram e onde eu morava quando comecei a me engajar. Eu recebia como auxílio creche metade do que a empresa pagava para os empregados do Rio de Janeiro, e além disso a empresa só pagava para as mulheres.

Esquerda Diário: Isso era pra esposa dos petroleiros ficarem em casa cuidando das crianças, né?

Fabíola Mônica: Sim, muitas coisas erradas. Aí comecei, fiz um abaixo assinado e falei para as assistentes sociais que ia levar pro Sindicato, fazer essa queixa, pois eu era sindicalizada. A assistente social me perguntou "o que você vai fazer lá menina" e respondi: “Vou procurar meus direitos. Por que vocês não dão direito à creche pros empregados, por que tem muitos que a esposa também trabalha e não é justo.” Aí elas falaram: "espera, que nós vamos resolver isso", e resolveram.

Eu pegava meus companheiros na barca, que eu conhecia para conversar. E foi assim que me tornei referência, sem pensar em ser referência de nada, de luta, mas logo minha cabecinha sobressaiu. E começou assim uma luta bem feminina, por creche, por igualdade. E dali um engajamento com outros companheiros que estavam se organizando para tirar o interventor Antônio Jorge do Sindicato.

Eu me juntei ao Emanuel Cancella, ao Jorge Eduardo, que chamamos de Jorginho, ao Francisco Soriano, ao Mozart, que era do Cenpes. Dali fui trabalhar no Cenpes, justamente por perseguição. Por que já estava assanhada demais pra empresa, e me jogaram para lá. Eu saia de Niterói direto pra lá de ônibus, como até hoje acontece. Eu me lembro que muitas vezes ia trabalhar de pijama, com roupa de trabalho na bolsa, pois ficava muito atrapalhada com as crianças (risos). Entrava direto no banheiro pra me arrumar e ainda precisava arrumar. Uma confusão danada, viu. Mas foram bons tempos aqueles, por que era muito reconhecida, meus chefes gostavam muito de mim, tirava boas notas nas avaliações, mas continuava incomodando a empresa.

Me lembro que falei em plena diretoria da Petrobras que tinha muita corrupção e por isso a Petrobrás não andava para frente. E jovem não tem medida, não tem noção de perigo, inocente. E por isso que em 1983 eu já estava no Cenpes.

Esquerda Diário: Quando o sindicato foi recuperado dos interventores, foi nessa época?

Fabíola Mônica: Foi por volta dessa época, por conta das grandes greves das refinarias. como por exemplo Cubatão e a RLAM, na Bahia. Em 1983 aumentou a perseguição, mas fui perseguida a vida inteira. Uma mulher grávida, barriguda, sendo perseguida por um Coronel, Elzo Miraí, meu perseguidor. Mas eu tinha cabelinho nas ventas, isso eu gravo. Estava buchuda, de seis para sétimo mês e ele querendo que levasse coisa pesada, escada acima, de folhas (de papel). Teve um dia que ele catou o que eu estava carregando e jogou no chão, e queria que recolhesse, a ainda me disse assim: "isto não está bom". E eu respondi "não sou sua empregada, sou empregada da Petróleo Brasileiro SA, concursada. Você não pode me tratar aqui assim, por que não sou soldadinho do seu quartel. Não vou me abaixar para pegar o que você está me pedindo e, falando nisso, estou me retirando e me colocando à disposição para o serviço de RH da divisão. Agora!”. Catei minha bolsa e fui embora. Ele ficou doido, por que precisava de mim para datilografar um contrato em inglês, de exploração offshore. Eu e outra secretaria do Chefe da divisão que datilografavamos, mas ela estava de férias e de licença, então só tinha eu. Senão teria que pagar outra pessoa pra fazer. Ele ficou doidinho comigo, teve que me pedir desculpa e ainda aceitar, que me pusessem numa sala com ar refrigerado, água e cafezinho, podendo ir no banheiro a hora que precisasse. Eu era um espinho no calo daquele pessoal e não tinha noção do perigo, não tinha, por isso que eu faço questão de relembrar isso. A posição das mulheres na Petrobras nunca foi coisa boa, nunca foi.

Em 1983 foi o seguinte: nós vimos que queriam privatizar a Petrobrás, e assim nós lutadores nos reunimos no Sindicato dos Engenheiros na Avenida Rio Branco, Jorginho, Emanuel, pessoal de Duque de Caxias, vinha também um pessoal de Campinas visitar a gente, da Bahia também. A gente fazia uma coisa nacional lá, em uma dessas reuniões, eu nos meus devaneios de garota maluca virei e falei assim: "isso é um absurdo deixar esses pilantras fazerem do Petroleiro o que quiserem. Vamos parar as refinarias de todo o país, quero ver o que eles dizem, o que eles fazem". Aí o Lira, de Duque de Caxias, disse assim: "nós tínhamos que ter umas dez assim como você que o país seria diferente". Foram as ideias de Emma Goldman na cabeça. Por esse motivo, a Petrobras disse que eu era uma das responsáveis pela greve, foi olho por olho pra tudo quanto é lado e aí fui ainda mais perseguida.

E a dificuldade de me colocar pra fora? Essa altura estava no Centro de Pesquisa da Petrobras, era uma liderança, do jardineiro até o PHD. E eu era assim, sentava no refeitório e todos queriam ficar perto de mim, com ideias. Aquilo (que aconteceu) me incomodava, mas ao mesmo tempo me salvava: Que que iam fazer comigo, iam me demitir por quê? Dava conta do recado a 3x4, eu fazia mais do que me pediam, inclusive o Guilherme Estrela me elogiou de próprio punho, me recomendando promoção por que ficou satisfeito com um contrato que havia datilofado em inglês; não tinha um erro. Uma pessoa que tinha elogio do próprio superintendente, como iriam demitir essa mulher? Todo mundo gostava de mim, se eu tinha inimigos eram inimigos velados. Mas teve que vir o aumento da perseguição. Depois de dois meses nas mãos do pessoal, me fizeram um teste pra ver se eu ia roubar. Eu fui dar queixa pro meu chefe da ausência de equipamentos e de repente o equipamento apareceu, e eu na mesma hora acusei. Eles queriam ver se eu ia roubar. Um monte de pegadinha pra ver se eu roubava, pra ver se eu caía na pilha deles: desistiram. Até que um Coronel sentou no banco do ônibus ao meu lado, todo amigável, se fazendo de aposentado. E foi uma semana depois que esse cara sentou do meu lado que fiquei toda feliz e tal, falando com ele das minhas ideias revolucionárias, que veio o próprio superintendente, acima do Estrela, pra me demitir.

Lá no Centro de Pesquisa, eu estava ligando, fazia ligações em inglês pra marcar reuniões com os estrangeiros pro meu chefe de divisão, eu era a única que fazia isso, chegaram dois caras falando "siga a gente", com metralhadora uma de cada lado e eu falei "pera lá, vocês são meus companheiros de trabalho? Vocês são da Petrobras? Dá licença que eu vou falar com meu chefe, vou terminar essa ligação aqui e já acompanharei vocês. Fiquem na porta”. Olha só? (risos). Eles ficaram aturdidos, não dei a mínima pra aquelas metralhadoras. Aí avisei meu chefe imediato que eles estavam lá fora, na porta, com metralhadora e que eu estava indo falar com o Milton Frank.

Chegando lá, um tapetão vermelho, tudo de bom, e eu lá sozinha, me senti como Pato Donald (risos). Ele disse assim: "Você é uma inocente útil, você não sabe o que está fazendo". E eu respondi, "sei sim, por que tão querendo privatizar a Petrobras e essa é minha luta no momento", "se eu sou inocente útil, você é um culpado inútil" falei, e quando falei, já estava chorando e cuspindo baba de raiva, ele disse: "você vai assinar sua demissão" e eu falei "não vou assinar porcaria nenhuma, vocês vão ter que me mandar à revelia, não fiz nada demais, exerci todos os meus direitos como cidadã, sou uma ótima empregada. Vocês que assumam o pepino", eu era muito danada. Se eu ainda tivesse o mesmo gás daquela jovem de vinte e poucos anos, nem trinta eu tinha como eu seria agora...

Essa foi a história de 1983, fui pra rua, mas entrei na justiça e ganhei. Fui a primeira mulher a ganhar na primeira instância, a Petrobras recorreu, saiu nos jornais. Eu tenho até os recortes anunciando que ganhei na primeira instância, no O Globo, Estadão e o raio que o parta. E quando eles recorreram, tiraram um parecer favorável do procurador na minha pasta na segunda instância. Roubaram. O doutor Medina que foi meu advogado no Sindicato, por que o negócio ficou tão estranho pro lado da Petrobras, que os interventores pediram pra me defender, ficou "estranhudo" (risos).

Fiquei dois anos na rua sendo perseguida na chamada lista negra. Ia lá fazia e passava nas provas, quando ia, não podia assumir por isso. Voltamos em julho de 1985, voltamos por que teve um novo governo brasileiro, aquele meio de campo. O Tancredo Neves assinou uma anistia a todos os que tinham sido demitidos naquelas grandes greves. Mas voltamos como se fosse a primeira vez e não voltando com tudo, fomos readmitidos, mas não fomos reintegrados. Já estava sendo promovida inclusive, e voltei do zero. Não assinaram minha carteira, não, me deixaram como se fosse uma contratada durante um bom tempo.

Assim que cheguei tinha um cara lá chamado Simião Cruz que me assediava sexualmente, eu era chamativa, eu colocava roupa simples, mais resguardada. Eu me abaixava pro bebedouro e ele vinha e passava mão no meu bumbum, acintosamente. O negócio ficou tão sério que quando um amigo viu aquele assédio acontecendo queria meter a mão nele e eu que não deixei, um colega chamado Carlos Henrique. Falei que era isso que ele queria, causar confusão pra me botar na rua de novo e colocar ele também, eu disse ao meu colega: “deixa esse verme aí”.

Ainda bem que sempre li bons livros, filósofos, estava preparada, não tendo medo do perigo na juventude, mas nesses dois anos que estive na rua, foi muito sério, ligaram pra minha casa dizendo que iam matar minhas filhas, que iam sumir com elas, fiquei desesperada e fui ficando na casa de um parente e d outros. Meus cabelos caíram e até hoje sou um pouco carequinha aqui na frente, urticária, eu sofri muito, viu. E digo pra você, se não fosse meu tratamento psicoterápico, por que eu sempre procurei tratamentos, se não fosse homeopatia, florais, eu acho que não estaria mais viva. Eu tive muitos amigos que me ajudaram, não tive apoio do meu pai, por que ele era do Exército Brasileiro e disse que eu era inimiga política dele e que não falasse mais com ele. Depois, antes de morrer, me chamou e pediu perdão de joelhos, quase. Disse que ficava muito feliz de ter uma filha como eu e que ele foi enganado, mas a filha mais velha dele não foi. E eu perdoei, eu amava demais meu pai e ainda o amo.

Esquerda Diário: Muito bom que estamos fazendo essa entrevista, que estamos conhecendo sua vida e que centenas de outros também conheçam. Essa é nossa intenção com nossas entrevistas, muito forte a sua história. Queria que você falasse sobre as dificuldades das mulheres, que todas elas passam e inclusive na nossa empresa. Você iniciou sua entrevista falando dessa luta, das mulheres classe trabalhadora. Qual papel os Sindicatos deveriam ter nisso?

Fabíola Mônica: Eu gostaria imensamente que os meus companheiros homens e mulheres que ainda não estão se sentindo capacitadas para sair do julgo e ainda tem resquícios do mal comportamento desse machismo que percebessem que o ser humano é muito mais que um gênero, masculino, feminino, ou mesmo a orientação sexual de cada um. Somos muito mais que isso, somos seres espirituais, além da nossa materialidade, somos seres espirituais que temos capacidades maravilhosas, que temos que ter respeito uns pelos outros. Respeitar para sermos respeitados, temos que fazer autocrítica, não sou exatamente uma feminista, por que o feminismo da Emma Goldman não é como qualquer feminismo. Ela pensa como eu, que antes de tudo somos seres humanos e somos seres espirituais, que temos nossa capacidade, muitas vezes além do que pensamos, nossa coragem. Eu defendo um feminismo classista. Eu gostaria que o sindicato desse mais atenção e respeito a palavra de todas as mulheres.

Esquerda Diário: Suas palavras me fizeram procurar algumas palavras de uma lutadora da Comuna de Paris chamada Louise Michel, que lembram elementos que você citou: “Cuidado com as mulheres quando se sentem enojadas de tudo que as rodeia e se levantam contra o velho mundo, nesse dia, nascerá um novo mundo”. Me lembrou do que o companheiro de Caxias te disse na reunião que você citou. Justamente, o papel que as mulheres podem ter para chacoalhar e acabar o velho mundo.

Fabíola Mônica: é uma oposição ao feminismo burguês, né?

Esquerda Diário: Sim, o piso da categoria segue sendo feminino e negro, mesmo a Petrobras criando cargos de gestão para mulheres e negros.

Fabíola Mônica: Isso. Exatamente. Por isso que algumas vezes discordo de algumas companheiras, mas não desgasto o trabalho delas, por que tudo que combate o assédio é bem-vindo e eu respeito. Mas temos que ter muito cuidado com a política de efeito, do teto de vidro, essa coisa de conciliação de classe. Sou contra isso e sempre fui uma pedra no sapato da conciliação de classes.

Esquerda Diário: O primeiro governo do PT ficou marcado por diversas medidas neoliberais como reforma da previdência e na Petrobras também aconteceu intenso debate sobre a “repactuação” gerando divisão sindical da categoria. Nos conte sua visão sobre esse processo.

Fabíola Mônica: Esse período foi muito impactante para todos nós Petroleiros por que eles conseguiram dividir a categoria petroleira de um jeito muito cruel. Fui eu também uma das causadoras dessa divisão, por que não poderia permitir mais que continuasse com a Federação Única do Petroleiros (FUP) com tantos traidores nela, com lobos em pele de carneiro. E nós lutamos muito, o Sindipetro do Rio de Janeiro lutou muito, contra a repactuação. Eu já era Diretora nessa época. Eu já era diretora e vi que a Petrobras iria estar lá, no MAM, Museu de Arte Moderna, em uma reunião grande falando das vantagens, que os anos 2000 seriam uma maravilha, distribuindo balas juquinha para o pessoal. E nós estávamos na porta, com microfone, para fazer intervenções e perguntas lá dentro que eles não poderiam responder. E aí houve a separação da Federação, eu que ajudei a criar a FUP, ajudei a criar a FNP. Foi triste, muito triste.

Esquerda Diário: Você estava no 12º congresso da FUP?

Fabíola Mônica: Sim, estava. Foi impactante, a partir dali a gente não teve mais paz.

Esquerda Diário: Qual foi o papel da FUP para que empresa e governo conseguissem impor este ataque à categoria. Como você avalia que foi o papel da FUP durante os governos do PT e depois na oposição aos governos Temer e Bolsonaro onde se intensificaram outros tipos de ataques, como por exemplo as privatizações.

Fabíola Mônica: O papel da FUP foi justamente colocar dirigentes da categoria como dirigentes do RH, como um camarada que citei antes da entrevista. O problema todo da FUP foi ter colocado esses traidores, nesse acordo, Bacalhau, o Rosa e outros, foram os grandes traidores da Petrobras, antes da Dilma entrar no poder, nós ficamos acorrentados na Petrobras. Eu fui a única mulher a me acorrentar e fiquei dez dias lá acorrentada. Inclusive era um frio, julho, e chegou a Globo News lá meia-noite me entrevistando, perguntaram como eu me sentia e eu respondi: “eu me sinto muito esquisita, por que enquanto tem uma mulher do PT para ser Presidente, uma trabalhadora como eu, estou aqui acorrentada. Por que nós fomos divididos, repactuados e estamos sendo tratados com desrespeito. Vai ser uma presidenta do Brasil e outra mulher aqui acorrentada, diretora do Sindipetro RJ.” Mas não saiu o que falei, só que tinha uma mulher, só isso.

Esquerda Diário: A política discriminatória a petroleiros que não repactuaram persistiu nos governos Temer, Bolsonaro e agora no novo ACT sob o novo governo Lula. Dentro da categoria há muitos relatos de petroleiros aposentados, pensionistas, anisitiandos como Leninha, anistiados que não conseguiram plenamente seus direitos, passando necessidades devido aos descontos do plano de saúde (agora privatizado, chamado APS) e os abusivos descontos aos vencimentos (PEDs), nos conte mais sobre a situação dos aposentados.

Fabíola Mônica: É um martírio, a situação dos anistiandos e perseguidos é um martírio. Que estão quebradas pela luta, pela situação toda do país. Pela discriminação, como diz muito bem o Roberto Ribeiro. Tudo isso é um martírio e o que me resta pensar é que eles ficam apostando que a gente morra. Apostando na nossa morte, é uma política de morte, de assassinato. Agora fui ver que vou receber no dia 25, agora, a metade do meu salário líquido, vou receber da Petros R$ 395. Se não fosse o INSS, iria ficar com menos de R$ 400 reais para passar o mês?

E nós aqui lutando, lutando, lutando e com outros companheiros lutando, lutando e lutando. É uma desgraça isso. E ainda querem que fiquemos batendo palminha? Eu, sinceramente, às vezes eu tive vontade de virar uma mulher bomba, mas minha sanidade, minha responsabilidade baixa minha revolta. As vezes a pior coisa é o próprio tiro das pessoas que estão do nosso lado que estão equivocadas, então para que? O conto mais interessante que li foi “Em terra de cego”. Quem tem olho, não é rei, mas vira cego também, querem tirar seus olhos para você ser cego também. Então, a FUP foi completamente responsável por esses traidores, o Bacalhau foi responsável direto pela situação da Edilene Farias, a Leninha. Chefe da Bahia, era nosso companheiro de luta e não sei o que esse pessoal acha. Não se pode servir a dois senhores. Se você vai ser soldado, não se pode ser outra coisa.

Esquerda Diário: Estamos vendo isso se repetir agora, né. Agora estamos vendo novas gerações deles assumindo cargos na empresa, na Petros. Na categoria petroleira os aposentados e anistiados vieram desempenhando um papel muito importante em mobilizações, porém também se escuta muitas reclamações de divisões entre ativa e aposentados, bem como muitas outras divisões que existem na categoria, entre efetivos e terceirizados, entre várias outras e a secundarização da luta dos anistiandos e anistiados. Gostaria que você comentasse sobre essa situação?

Fabíola Mônica: Depois de muito tempo conseguimos a Comissão Paritária de Anistia, nosso acordo de trabalho. Apesar das restrições, servia por que os próprios anistiados que não tinham seus salários atualizados e era um canal para chegarmos às reivindicações. Depois de um tempo que tivemos a comissão paritária de anistia, eles conseguiram vender por 30 dinheiros, liberações de sindicalistas, terminar com a cláusula da Comissão Paritária de Anistia.

Mas aí esse novo Acordo Coletivo de Trabalho (graças a deus consegui participar bem, por que fiquei bem mal de saúde, tive covid, quase morri, mas para o desespero deles estou viva) fiquei batendo por lá sobre a questão da anistia, a cláusula, outras questões e conseguimos que viesse novamente a cláusula da comissão paritária de anistia. Não está ainda delineada, a FNP e FUP terão de fazer reuniões junto a nós (anistiando, anistiandos e demitidos) para fazer novamente acontecer a nova Comissão Paritária de Anistia, mas tá lá no Acordo Coletivo de Trabalho. Geralmente, querem tratar só de anistiados e anistiandos ligados a uma determinada lei. Eu não acho isso correto, é uma amarra safada e sem vergonha, por que existem muitos demitidos, perseguidos que ainda não existem leis para eles. As leis que existem são poucas, a Lei 10.559, a Lei 10.770, a Lei 8878 e outros penduricalinhos que não atendem totalmente aos demitidos, como por exemplo os demitidos da antiga BR Distribuidora.

Você acredita que tem demitido da época do Fernando Collor, e que ainda não assinaram a carteira de demissão dela, a Catarina; ela está no limbo e até agora ninguém resolveu isto. Então quando será resolvido? Tem que resolver politicamente, vamos aposenta-la justamente, por que essa situação é um absurdo. Tem absurdos que você ficaria pasmo. A situação de nossa companheira Edilene Farias, a Leninha; fazendo greve de fome por quase um mês em frente ao EDISEN e nós na mesa do ACT reivindicando que a empresa a escutasse presencialmente com as suas reivindicações justas e isso não foi atendido, até agora está esperando uma resolução. Agora que teve essa notícia, que o Presidente (Lula) falou pro Jean Paul Prates (Presidente da Petrobras) que mandasse o recado: “nenhum anistiado e perseguido ficasse fora da Petrobras” e que ele visse isso. É política, né. Por que na hora H, os técnicos são como abelhas africanas ferozes para impedir tudo. Vamos ver amanhã refere-se ao ato do dia 24 no EDISEN, veja a cobertura do Esquerda Diário , que deveria ser uma festa para aposentados e pensionistas, mas a FUP já chamou um movimento, nada contra o movimento, mas poxa não temos a um refresco?

Esquerda Diário: Quais são os desafios dos petroleiros no atual período, e como deveriam se organizar – em sua opinião – diante destes desafios que você pontua?

Fabíola Mônica: A organização sempre deve ser pela base, é um trabalho de formiga. Reuniões por local de trabalho, dá trabalho. Essas organizações dão trabalho, mas nós deveríamos fazer isso para conscientizarmos as pessoas. O problema todo é que a máquina sindical é muito pesada, muito burocrática, ainda não conseguimos nos livrar disso, por que a maquina sindical se tornou manipulada pelo Estado. Mas o jeito será no boca a boca, organização por local de trabalho, fazer mobilizações mais amiúde nas bases e não só na época do Acordo Coletivo. Colocar mais para que as bases tenham oportunidade para falar, como falei agora com você. Dar espaço para que as bases falem, claro que nem sempre vamos gostar do que vão falar, mas eu sinto falta disso, deixar um espaço para que se manifestem. Isso é importante, por que na hora que damos a oportunidade para alguém falar, é uma oportunidade para que elas escutem também. É uma boa estratégia. Realmente a gente continuar nessa luta por que a gente não pode ficar dando lugar, não pode ficar abrindo mão das coisas, da Repactuação, não pode ficar fazendo conchavo.

Esquerda Diário: e eles abrem mão dessas pautas, né?

Fabíola Mônica: É. A Resistência, que eu digo que é a “Desistência”, vem dizer na assembleia dos aposentados que o Acordo Coletivo é uma maravilha, que pela primeira vez os aposentados foram não sei o quê, um papel ridículo. “Nós somos a ala moderada”, eles disseram. Mas como vamos poder moderar com essa perseguição toda que está em cima da gente. Então, penso muito bem, assinei o Manifesto. [refere-se ao manifesto que também impulsionamos, intitulado "Em defesa do SINDIPETRO-RJ: Manifesto Independência de Verdade e Unidade Para Lutar"],
Então, estou assinando, conversando com minhas bases de aposentados, anistiandos e perseguidos. Eu quero união na luta de classes, nas bases. Nunca existe ou existirá espaço para os trabalhadores conciliarem no capitalismo, quem defende a conciliação faz um desserviço à classe trabalhadora.




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