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Tarcísio na educação | É proibido adoecer: professora tem atestado negado em SP mesmo depois de internação

Desde o dia 01/11/2023 os professores contratados da rede estadual de São Paulo se viram com uma nova obrigatoriedade, anexar atestados médicos em uma plataforma virtual, o aplicativo tem como objetivo realizar agendamentos com peritos médicos que avaliam a veracidade dos comprovantes, a medida já existia para os professores efetivos e foi estendida para toda a categoria, agora com mediação de uma empresa.

quarta-feira 15 de novembro de 2023 | Edição do dia

imagem: Freepik

O Esquerda Diário coletou o depoimento de uma professora da rede pública do Estado, cujo relato demonstra o descaso com que foi tratada pelo perito médico que indeferiu seu atestado, mesmo com a documentação atestando a veracidade de sua condição física e depois de ter sido internada. Com isso, a docente corre o risco de ficar com falta e ter o dia de trabalho descontado, no caso dos professores contratados, um número baixo de faltas pode levar a quebra do contrato. Abalada e desassistida a docente encontrou no relato uma forma de mostrar o quão pernicioso é o tratamento aos servidores da educação.

A atual gestão do governo estadual de Tarcísio demonstra com sua política privatista que o plano para a educação pública é a precarização, criando maneiras de desestruturar ainda mais o serviço público e faz isso criando aplicativos e plataformas apenas para controlar os professores, não levam em conta as demandas e problemas que são resultantes inclusive do exercício da profissão com as condições precárias que são colocadas dentro das escolas no estado. Além disso há denuncias de que o INSS dos professores contratados não vem sendo pago pelo Estado, professores doentes que necessitaram do serviço tiveram auxílios negados por isso. Um completo absurdo!

Nós do Nossa Classe Educação nos colocamos contra essa política que nega até mesmo a necessidade do professor se ausentar para tratamento médico e contra todos os ataques de privatização, aumento da jornada e do controle ao professor. Por isso, chamamos todos à paralisar dia 28 junto aos trabalhadores do Metrô, Sabesp e CPTM.

Declaração do Nossa Classe rumo à greve unificada contra Tarcísio e as privatizações

Veja o depoimento:

"Era a semana do feriado com comemorações e homenagem aos professores, tinha aula na segunda-feira e quarta-feira e estava ansiosa por participar, no entanto, fui impedida por fortes dores abdominais e internada no Hospital dia 08/10 com subclusão intestinal inflamatória, passei seis dias internadas com a ameaça de uma cirurgia para retirada de parte do intestino, que não precisou por conseguirem reverter apenas com medicamento. Tive alta dia 13/10 com um atestado de 08/10 à 14/10 (sábado). No primeiro dia útil 16/10, apresentei o atestado e foi marcado a perícia para dia 17/10.

No dia 17/10, na hora marcada na perícia, ainda com dores e uso de medicamentos, entendi o descaso e desrespeito atribuído ao professor. Percebi-me num filme surreal, distópico ou em algum livro de Kafka. De maneira ríspida e grosseira com perguntas lacônicas a pessoa do outro lado da mesa, é difícil acreditar que era um ser humano que estudou medicina, se dirigia a mim criando-me a impressão que estava em uma delegacia sendo acusada de algum crime. Sem colocar fim à tortura, ele me informa que iria negar o atestado porque a data foi preenchida errada na escola, que o documento deveria estar com a data de 08/10 que eu deveria voltar a escola e mudar a data do documento.

Ainda debilitada, retornei à escola para solicitar outra perícia com outra data no documento e foi feito, mesmo não estando de acordo com as instruções de preenchimento, e marcado para dia 23/10. Estive novamente na perícia realizada por outro profissional, desta vez num tratamento não tão ríspido, mas ainda lacônico, percebi que o que importava era meu peso, altura e cargo, perguntas burocráticas. Informou, com poucas palavras, que estava tudo certo, mas a data estava divergente, deveria novamente voltar à escola e justificar as datas.

Ainda sem conseguir compreender toda essa situação, não tenho resposta sobre o deferimento do atestado, me sinto injustiçada e ultrajada. Fui aviltada, por uma situação que não tenho culpa, não cometi crime algum. Sou professora e não compareci ao trabalho por estar incapacitada para tal e tenho documentos comprovando, não apresentei o atestado no dia que gostariam porque ainda estava no hospital. Custa-me acreditar que a instrução desses profissionais seja massacrar o professor em um momento de fragilidade, ou ainda se há bonificação para quem cumpre bem esse papel. Custa-me acreditar que um ser humano qualquer mereça passar por situação tão vexatória. Custa-me acreditar que nesse sistema educacional sou apenas carne pisoteada por robôs. Custa-me acreditar que fui obrigada a vivenciar tal experiência. Custa-me acreditar."




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