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OPINIÃO
Debate do Rio: à procura do eleitorado indeciso ao centro
Artur Lins
Estudante de História/UFRJ

O que o debate mostrou?

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Aconteceu na noite desta sexta-feira (8) o primeiro debate do segundo turno entre os candidatos a prefeito na cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), na emissora Bandeirantes.

Tentando disputar o eleitorado do Freixo, Crivella apelou para um discurso de diálogo e cooperação com a população, buscando complementar as propostas de seu rival defendendo demagogicamente o fim do monopólio das empresas de ônibus, enxugar a máquina pública, denunciou a repressão que sofreram os professores em sua greve pelo governo de Eduardo Paes e chegou até a "defender" os direitos das minorias dizendo que lutaria contra a homofobia.

No entanto, a trajetória política de Crivella está marcada pela perseguição aos direitos democráticos da comunidade LGBT e inclusive declarou nas eleições de 2014 que a homossexualidade era pecado. O bispo não questiona o controle privado das linhas de ônibus e tem como vice de sua chapa o ex-diretor do Metrô Fernando Mac Dowell, do PR, partido de seu ex-rival, pastor e arquicorrupto Anthony Garotinho. Fez parte do governo PMDB que reprimiu os professores na Câmara dos vereadores e inclusive é um grande partidário do projeto Escola Sem Partido, que pretende acabar com o pensamento crítico nas salas de aula. Ou seja, bala de borracha não, censura sim.

Quanto a enxugar a máquina pública, para Crivella significa não cortar os privilégios dos políticos e juízes mas continuar o processo de desmonte do Estado, na defesa de um programa abertamente privatista que pretende colocar os serviços públicos sob controle da iniciativa privada e das grandes empresas, assim como seus aliados golpistas do governo Temer desejam acelerar com a recente aprovação às escondidas da PEC 241, emenda constitucional que visa cortar drasticamente os gastos públicos do Estado em áreas sociais, como saúde e educação.

Nos temas da segurança nenhum dos candidatos questionou a política repressora e assassina das UPP. Freixo defendeu o desenvolvimento de políticas públicas para a favela sem se aprofundar e disse que os policiais da UPP pagos pela prefeitura devem ter um plano de "responsabilidade" com as favelas ocupadas, como se fosse possível "humanizar" uma instituição historicamente violenta, repressora e racista como a polícia, que tem como fundamento proteger a propriedade privada do patrão e reprimir as lutas da classe trabalhadora.

Já Crivella disse que os jovens são o setor mais propenso a entrar no narcotráfico e para evitar o aumento do tráfico reivindicou a política assassina da comunidade negra, porém a embelezando com o nome de "UPP Social". Nessa UPP social, o bispo defendeu o estímulo ao empreendedorismo e a iniciativa privada para a favela ter capacidade de produzir mais e gerar emprego. O bispo fala que o problema da segurança são dos pobres e no seu currículo de políticas públicas para a periferia, como o Cimento Social, quando inclusive ele pertencia ao governo de Eduardo Paes, houve denúncias de benefício do programa para uma lista de famílias feita pela Igreja Universal do Reino de Deus, onde Crivella foi por muitos anos pastor e posteriormente bispo. No mesmo tema Crivella afirmou que o foco no combate ao crime deve se localizar nas famílias pobres, todo um contraste com o discurso demagógico adotado em boa parte do debate.

No tema da saúde, Crivella defende uma mobilização para terminar com as longas filas dos hospitais e que a prefeitura deveria assumir a gestão do SUS. Isso ele fala no debate para aparecer como um candidato que irá cuidar das pessoas, mas na realidade seu partido, o PRB, está junto com os golpistas no Congresso votando uma emenda constitucional que corta o orçamento da saúde e inclusive apoiam o governo de Temer, que declarou abertamente o desejo de acabar com o SUS e com a saúde pública por completo.

Por outro lado, Freixo defendeu a fiscalização das OS (empresas privadas que controlam os hospitais públicos com dinheiro público), o que significa manter intacto o legado do PMDB de privatização, ao invés de declarar abertamente a ruptura com essa política de desmonte da saúde pública.

Tom moderado de Freixo não empolga

Marcelo Freixo, candidato de esquerda, ao longo de todo o debate não conseguiu empolgar e se delimitar de seu rival conservador e privatista. O debate foi marcado pelo alto nível de diplomacia entre os candidatos, com respeito mútuo e pouca diferenciação entre os dois programas em disputa. Em alguns momentos do debate parecia que Freixo ainda estava no primeiro turno, insistindo em atacar mais o derrotado PMDB do que o bispo.

Ficou claro que o tom moderado de Freixo e a sua pouca combatividade contra o lobo da Universal mostrou que seu objetivo é ganhar o segundo turno evitando um discurso mais radical e à esquerda, buscando com isso se colocar como uma alternativa viável para governar para todas as classes, o que numa sociedade capitalista, dividida em classes com interesses tão antagônicos, é impossível. Crivella e seus aliados fundamentalistas já começaram com as calúnias e ataques difamatórios contra Freixo e mesmo assim o candidato do PSOL quis tratar seu rival LGBTfóbico, conservador e golpista com total respeito.

De certa maneira os dois candidatos procuraram a mesma fatia de eleitores, indecisos entre os dois. Com Crivella tendo que discursar em defesa de grevistas reprimidos e Freixo buscando mostrar-se sereno, responsável e não o esquerdista que Malafaia o pinta.

Para dar um combate à altura contra a direita caluniadora e raivosa, contra os empresários que a sustentam e querem desferir mais e mais ataques aos trabalhadores é necessário defender um programa claramente anticapitalista, que combata os privilégios dos políticos e que faça das instituições dessa democracia dos ricos um ponto de apoio das lutas da classe trabalhadora contra os ataques da burguesia e de seus representantes políticos.

 
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