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Conversa com trabalhadores terceirizados da UNICAMP sobre a campanha do Danilo Magrão
Tatiane Lima

Nessa semana tive a oportunidade de discutir com algumas trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da UNICAMP sobre a candidatura do Danilo Magrão para vereador nessas eleições em Campinas. A recepção foi muito boa, de cerca dos cem trabalhadores que pude oferecer o material nenhum recusou! Muitos agradeceram e alguns até trocaram algumas palavras comigo, brincaram ou expressaram um ar de preocupação com os rumos da política, todos muito interessados, a despeito do tempo tão curto que tinham para almoçar e logo voltar ao trabalho.

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Nesses dias de ainda mais agitação política, pela votação final que determinou o impeachment da Dilma e pelos projetos que o Temer já divulga (como o plano de aumentar ainda mais a idade para a aposentadoria, regulamentar maiores abusos em trabalhos já precários e com baixos salários, entregar para o descaso das empresas ainda mais serviços que deveriam ser públicos, congelar o dinheiro da saúde e educação por décadas enquanto seguem com seus altos salários e verbas milionárias de gabinete e um longo etc. de ataques) as TVs, ônibus e as diversas filas não discutem outra coisa. No caso dos trabalhadores terceirizados da UNICAMP também não foi diferente, senti uma insegurança e também expectativa no ar, o clima tenso do Congresso parece realmente estar contagiando de alguma forma a todos. As reações dos trabalhadores quando eu entregava os panfletos indicavam isso.

Quando eu disse para um dos primeiros que conversei “Dá uma olhada nessa nossa proposta para as eleições. Queremos que os políticos recebam o salário de um professor, porque eles ganham milhares e milhares de reais, defendem os próprios interesses e ainda nos roubam” ele me respondeu “A ideia é muito boa, mas se fosse assim não sobraria um lá”, eu disse que talvez isso acontecesse porque a concepção dos candidatos e dos seus partidos é de que a política é para enriquecer e favorecer os ricos. Ele concordou, achou que era muito bom alguém jovem como eu estar ali e acreditar que dá para mudar, mas não se colocou no primeiro momento como alguém que pode acreditar também. É realmente incrível como essa política dominante consegue desiludir as pessoas! Uma trabalhadora me respondeu “E o salário de um professor ainda é muito hein, 50 mil reais!”, então entendi que ela estava associando ao salário de um professor da UNICAMP, no caso a um megasalário! Então disse que era o salário de um professor de escola pública, de um “trabalhador comum” e que também não concordava com os megasalários. Ela então me respondeu “Aí sim, com isso eu concordo”. Achei muito sintomática da realidade a pergunta de um trabalhador se eu tinha uma resposta para quem precisa de um emprego, porque seus irmãos estavam desempregados. Eu falei sobre a proposta de lei contra as demissões, ele já me cortou dizendo que os políticos não se importavam com isso, eu concordei e completei dizendo que realmente, porque eles representam os ricos e estão pensando como vão não só manter os milhões de desempregados, mas também como vão aproveitar disso pra abusar ainda mais dos trabalhadores, reduzindo seus direitos ou “formalizando” a falta deles. O trabalhador sorriu e disse “sim, não tá fácil não, querem o nosso couro”, então completei, “não está fácil, mas nós somos a maioria e não podemos deixar que decidam por nós, não é?”, ele concordou.

Já estou há alguns dias em campanha, passando pela experiência de discutir com a minha família, com os vizinhos do bairro, conhecer outros bairros, bater de porta em porta, panfletei também numa grande universidade particular da cidade, nos Correios e até nos pontos de ônibus do Centro. Mas achei particularmente especial essa panfletagem para os trabalhadores terceirizados, assim como valorizo muito cada pequena oportunidade que temos cotidianamente de conversar, pois conscientemente a universidade restringe muito os espaços possíveis para essa interação e muitas vezes ela pode até significar um risco para seus empregos. Assim vai se perpetuando a reserva que lhes guarda o projeto de universidade da alta burocracia desses megasalários e das alianças com as grandes empresas: A invisibilidade para esses trabalhadores. Mas, além de não serem invisíveis são muito críticos, são parte importante da população que de fato constrói a cidade, que assiste à propaganda política na TV e não se encontra, são parte da população que defende os salários, o emprego, a qualidade e responsabilidade com os serviços essenciais como a saúde e a educação, se revoltam com a exploração e os privilégios dos políticos, em suma: são sujeitos da produção e reprodução da vida e deveriam ter o poder sobre as decisões de seus rumos.

Panfletar para os trabalhadores terceirizados me despertou ainda mais vontade de debater essas ideias, tão ousadas, como a proposta de uma lei contra as demissões e que o sistema social que vivemos está falido, mas que não nos conformaremos e podemos sim enfrentar a minoria rica para impor uma sociedade mais humana e justa. Nessas conversas das panfletagens vai se comprovando que essas ideias são para muitos! E tem sido empolgante a experiência de ser parte ativa de uma campanha eleitoral a partir dessa perspectiva, encontrar em pessoas com realidades diversas um mesmo anseio, ver a crise política nacional no centro das preocupações de todos, se expressando pela revolta com os políticos, pela revolta com os preços dos alimentos, com o desemprego ou mesmo com os planos de ataques mais duros que promete o novo governo golpista, como uma trabalhadora dos correios demonstrou dizendo que teria que ter uma greve forte esse ano para responder. O país está fervendo com a forte crise política e os trabalhadores estão atentos e na expectativa diante das movimentações dos golpistas. O PT não quis enfrentar o golpe, preferiu os acordos por baixo e os discursos inflamados que nunca irão para a prática, mas a despeito dessa paralisia poucos são os que acreditam que a política é “indiscutível” ou algo “distante”, “que não nos interessa”, por isso nós podemos transformar toda essa revolta em organização, mostrar que é possível levar a diante ideias audazes e sermos sujeitos políticos a partir dos nossos próprios interesses.

 
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