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ELEIÇÕES METROVIÁRIOS
Onde estão os negrxs nas eleições do sindicato dos metroviários?
Francielton Banareira, diretor do Sind. dos Metroviários de SP e militante do Mov. Nossa Classe
São Paulo
Juliana Clemente

A luta contra as opressões nas eleições do sindicato dos metroviários de São Paulo.

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Em meio a recente discussão que tem acontecido na categoria sobre a proporção de mulheres nas chapas que são candidatas a diretoria do sindicato, começamos a questionar sobre a proporção de negros nas chapas, que não é requisito, e no entanto não é difícil perceber que assim como no caso das mulheres a maioria dos metroviários e metroviárias "oficiais" são brancos, porém no total de trabalhadores nas estações, a maioria entre as terceirizadas de limpeza, do serviço de bilhete único e lojinhas são de pessoas negras e em sua maioria mulheres negras.

Isso porque as opressões são lucrativas para o capitalismo, colocar os negros nos piores empregos, nos exércitos de reserva de desempregados, nas piores condições de moradia sem acesso a educação de qualidade, fora das universidades, relegados a criminalidade, violência policial e lotando as cadeias, significa dividir a classe trabalhadora pra que briguemos entre nós pelas migalhas deles ao invés de brigar com o patrão, para que a gente se veja como inimigos enquanto o verdadeiro inimigo, que são os patrões, saem ilesos, pra que ninguém faça greve, pra que ninguém saia na rua, garantindo assim o luxo em que eles vivem, enquanto precisam que muitos de nós vivam no lixo.

Não é diferente no Metrô. A empresa quer que sejamos "polícia da linha de bloqueios", quer que os metroviários que são em sua maioria brancos, se enfrentem com a população mas principalmente com a população mais pobre que é em sua maioria negra, em nome de "míseros" 3,80 que individualmente não significam nada pra empresa em termos puramente econômicos, mas que significa muito política e socialmente, pois somos nós que todos os dias temos que nos chocar com a situação de impedir e restringir o acesso a este serviço elementar que é o transporte.

Transporte esse que não é de qualidade, onde quem mais sofre é a população periférica, na sua maioria negra, que mora longe do centro, e que são os que têm que fazer os deslocamentos mais longos pra chegar ao trabalho com trajetos que são as vezes de mais de 4 horas ida e volta, e pior ainda quando se trata das mulheres da periferia que têm tripla jornada de dona de casa e dois empregos. Assim como muitas das terceirizadas que convivem com os "metroviários oficiais", em escalas de 5 por 1, e fazendo "bicos" de limpeza nessa única folga (muitas vezes na casa dos próprios metroviários), enquanto na maioria das estações comem em copas e usam banheiros separados dos metroviários, e como se não bastasse têm que ouvir de quem diz que luta por elas que deviam ser contratas pelo metro mediante concurso! Ou seja provar que é capaz de fazer o que ja faz todos os dias so serve pra manter a segregação e o racismo! Todas as terceirizadas deviam ser imediatamente contratadas pelo metro sem concurso!

Mesmo em meio a esse claro cenário de profunda segregação, somos levados a tolerar ou ignorar esses absurdos, não só no metrô, mas no país, no mundo. Somos levados a achar que não existe mais racismo, seja porque se quer sabemos que somos negros, nos consideram "moreninhos", seja pelo mito da democracia racial criado pra dizer que o racismo foi superado, que negros e brancos têm as mesmas condições e oportunidades, chegam a dizer até que os negros não existem, que aqui "somos todos brasileiros", que aqui as "raças convivem em harmonia", mentira atrás de mentira que só precisa olhar pro lado pra ver.

Justamente agora que ocorreu as olimpíadas e o mundo inteiro estava olhando pra cá, é que fortalecem ainda mais esse discurso dizendo que essas são as "olimpíadas da diversidade", "da superação" porque "quem se esforça chega lá", e enquanto isso é colocado na realidade das terceirizadas da limpeza do evento, vemos aonde leva tanto esforço: trabalham 12 horas por dia e com certeza não têm o estilo de vida do Galvão Bueno. Para a mídia, pro governo golpista do Temer e toda burguesia, essas terceirizadas não estão se esforçando pra chegar lá, então elas têm que falar menos e trabalhar mais.

Mas nós não vamos nos calar, nem nos contentar com migalhas, essa história de falar menos não é nova, e é por isso que assim como as mulheres os negros são minoria nos espaços de fala, enquanto estão na linha de frente das lutas, seja nas históricas greves das terceirizadas da Higilimp, e dos garis do rio de janeiro, ou na ocupação das escolas pelos secundaristas contra a reorganização escolar e tantos outros exemplos, estamos sempre la lutando pra nos fazer ouvir, e assim devem ser os sindicatos e quaisquer outros organismos de representação dos trabalhadores, linha de frente na luta contra todos os tipos de opressão.

Sindicato exclusivo e classista não existe e não serve, serve pra empresa mas não pra nós; sindicato da burocracia que segura a luta contra o golpe não serve; de um jeito ou de outro quem negocia os direitos não serve; sindicato que dialoga com o conservadorismo ao invés de combater, favorece o crescimento desse mesmo conservadorismo que só tende a nos levar pra derrotas.

A chapa 5 - Nossa Classe pela Base é a que tem a maior proporção de negros de candidatos reais: 1/3 ou 30% de candidatos negros, que querem, assim como a nossa proporção de mulheres 40% introduzir uma nova lógica na categoria: que é o combate às opressões como o machismo e o racismo que estão presentes não só no cotidiano da categoria mas de todos os outros trabalhadores e trabalhadoras terceirizados com quem convivemos todos os dias nas estações, na manutenção, como no cotidiano de toda classe trabalhadora, e é justamente por isso, que somente juntos conseguimos arrancar vitórias, porque sofremos enquanto, mulheres, negrxs, LGBT mas sofremos enquanto classe porque assim nos dividem, e se o sofrimento é cotidiano o debate sobre ele e a sua desconstrução também tem que ser cotidiano, seja em comissões, ou palestras, ou eventos de cultura, ou na conversa do dia dia, o sindicato tem que ser um organismo onde eu, Juliana, mulher negra LGBT ou uma trabalhadora terceirizada negra ou qualquer outro trabalhador se sinta livre pra se expressar e combater o racismo e todas as formas de opressão, pois é só enquanto classe, e com os negros e as mulheres e LGBTS tendo voz de fato, é que podemos construir uma real alternativa.

Pela efetivação imediata de todos terceirizados sem concurso! Contra terceirização que humilha, mata e divide! Contra todas as formas de opressão contra as Mulheres, os Negros e os LGBTs! Por um metrô publico estatal e de qualidade controlado pelos metroviários e pela população!

 
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