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Por que estudar O Capital?
Kenji Ozawa
Mateus Castor
Cientista Social (USP), professor e estudante de História

A Faísca está organizando um grupo de estudos de “O Capital” de Karl Marx na USP. Num contexto de crise capitalista mundial, em que muitos questionam o mundo e procuram novas maneiras de pensar e agir, em que a direita mais reacionária mostra suas garras, também precisamos nos fortalecer teoricamente e ideologicamente e responder à altura.

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O Capital de Marx sempre foi um livro alvo de grandes debates e polêmicas, desde que foi escrito muitos já tentaram refutar seu pensamento, afinal, ele foi a primeira produção que tinha como objetivo a crítica científica ao capitalismo, tornando-o uma das maiores armas dos explorados e oprimidos.

Viemos de décadas e mais décadas de transformações, o mundo de hoje realmente não é mais o mesmo que o de Marx, e o mais comum era ouvir sobre o “fim da história” que não existe mais proletariado, muito menos luta de classes; que “não há alternativa” (frase que Margaret Thatcher tornou célebre) e que o capitalismo gradualmente melhoraria a vida de todas e todos. Teorias como a do valor-trabalho e da queda tendencial da taxa de lucro, até mesmo as palavras “mais-valia” e “exploração”, pareciam ter sido arremessadas na lata de lixo da história. À esquerda, não se tratava mais de lutar contra o capitalismo, mas sim a favor de um capitalismo “com uma cara humana”.

Mas, a 15 de setembro de 2008, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos inesperadamente quebrou. Era o início não só dessa crise capitalista mundial que é a maior desde a famosa crise de 1929 (e que está prestes a comemorar seu oitavo aniversário), mas também o início do fim dessa etapa. Imediatamente, O Capital tornou-se um best-seller em todo o planeta. Na Alemanha, as vendas do livro triplicaram! No Japão, foi transformado em Mangá que fez tanto sucesso que foi traduzido em outros países, inclusive no Brasil. Em seguida, houve a Primavera Árabe, as jornadas de junho de 2013, e vários outros fenômenos sociais e políticos.

Em 2016, as trabalhadoras e trabalhadores brasileiros foram vítimas de um golpe institucional que pôs fim aos 13 anos de governo de conciliação de classes do PT, que (a despeito do nome) governou sempre contra os trabalhadores, através de acordões com tudo que há de mais reacionário na política do nosso país; que assimilou a corrupção, essa que é método capitalista por excelência de governo; que se elegeu financiado pelos patrões, pagou religiosamente a dívida pública, rifou os direitos das mulheres e LGBTs, militarizou o Haiti e as favelas, triplicou a terceirização e um longo etc.

Durante boa parte desses 13 anos, o PT tentou nos convencer de que a gestão do Estado capitalista e a conciliação entre trabalhadores e patrões poderia fazer do Brasil “um país de todos” e, inclusive, uma potência. Mas no Brasil, nos Estados Unidos, em vários países do mundo, o fracasso dos “grande empreendimentos” dessa etapa, o neoliberalismo; a União Europeia; os governos pós-neoliberais latino-americanos, de Cháves, Evo Morales e Rafael Correia aos Kirchner, Lula e Dilma, criou novos fenômenos políticos à esquerda, Syriza, Podemos, Bernie Sanders, a luta dos trabalhadores e da juventude francesa contra a reforma trabalhista e à direita com Donald Trump, o Brexit, os partidos de extrema direita como a Frente Nacional francesa e a Aurora Dourada grega, etc.

Assim como nós, a burguesia brasileira sente o chão tremer sob os seus pés. A burguesa brasileira sabe que essa crise capitalista não é só uma crise econômica, mas uma crise da sociedade burguesa em todos os seus aspectos. Justamente por isso é que a direita resolveu mostrar suas garras. Kim Kataguiri, o jovem líder do Movimento Brasil Livre (MBL), tornou-se colunista da Folha de São Paulo. Nas universidades estaduais paulistas, organizações como a USP Livre atacaram estudantes e trabalhadores que lutam em defesa da educação pública, dos trabalhadores e dos direitos de toda a população, e, depois de terem pichado “menos Marx, mais Mises”, estão convocando um “limpaço liberal da FFLCH

O Instituto Liberal de São Paulo (ILISP), presidido pelo ex-colunista da Veja Rodrigo Constantino, incitou uma “floodagem” de comentários machistas e LGBTfóbicos no perfil do Facebook de uma militante da Faísca. Em maio, o estuprador Alexandre Frota foi recebido pelo ministro da educação do golpista Temer. Em julho, a professora Gabriela Viola, da rede estadual do Paraná, foi afastada após publicar no YouTube um vídeo de uma paródia de “Baile de favela” feita numa aula sobre Marx. Nas eleições desse ano, outra figura do MBL, Fernando Holiday, concorrerá ao cargo de vereador pelo Democratas, em São Paulo.

No USP, tudo isso foi (in)convenientemente antecedido por uma contrarreforma da grade de matérias obrigatórias de sociologia. Até 2014, a grade do curso de graduação em Ciências Sociais incluía um semestre obrigatório de cada um dos “três porquinhos” (Marx, Weber e Durkheim). Desde 2015, esses três autores clássicos da sociologia são estudados todos no primeiro semestre obrigatório de sociologia, ou seja, o conteúdo de Marx depois da reforma é só 1/3 do que era antes! Trata-se de um ataque não só contra o marxismo, contra a esquerda, mas também contra as ciências sociais como um todo no Brasil.

Diferentemente do que houve na França, da Inglaterra ou dos Estados Unidos, a formação do capitalismo brasileiro não foi um processo “endógeno”. Nesse país semicolonial, formalmente independente, mas oprimido pelo imperialismo, à exemplo do que acontece hoje na Petrobrás, a classe burguesa é “espremida” pelas massas populares e pelo gigantesco proletariado brasileiro de um lado, e pelo imperialismo do outro. Consequentemente, a burguesia brasileira, filha dos antigos latifundiários, senhores de escravos, nunca criou, nem poderia criar um pensamento social próprio.

Numa sociedade tão contraditória como a nossa, a burguesia nacional só pode manter a sua dominação de classe porque se apropriou daquilo que existe de mais avançado nas ciências sociais, mesmo que o que exista de mais avançado seja a visão de mundo da classe inimiga: o marxismo. Não coincidentemente, é daquele famoso Seminário d’O Capital que começou em 1958, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (atual FFLCH) que saiu o presidente responsável pela realização do neoliberalismo no Brasil: Fernando Henrique Cardoso, embora também tenham participado do Seminário importantes intelectuais de esquerda.

A burguesia brasileira não conseguiria dominar se não tivesse incluído o marxismo na educação de seus quadros. Se não cooptasse intelectuais como FHC, a burguesia brasileira não poderia governar. Mesmo intelectuais que aprenderam alguma coisa de marxismo na academia são "transformáveis" pela burguesia em quadros dirigentes da sua dominação, porque o "marxismo" que lhes é ensinado não é marxismo , e sim uma caricatura de marxismo, um marxismo “castrado”, “podado” de seus “excessos” revolucionários! Nas universidades, até a própria vida de Marx e de Engels é falsificada; a militância “apaixonada”, portanto, não científica, segundo a academia é apagada da história desses dois cientistas. Mas mesmo as pouquíssimas ideias revolucionárias que sobrevivem à essa instrumentalização burguesa do marxismo são ideias perigosas nesse contexto de grande crise social, econômica e política em que muitos questionam o mundo e procuram novas maneiras de pensar e agir.

Quando ideias perigosas se fundem com as massas exploradas e oprimidas, transformam-se numa força material imbatível, capaz até de fazer voar pelos ares o estado de coisas atualmente existente. A paranoia dos autores do projeto da lei da mordaça, ou “escola sem partido”, de que as ocupações dos estudantes secundaristas em 2015 teriam sido causadas por uma suposta “doutrinação” marxista é um pequeno exemplo do poder dessa fusão.

Por isso, nós, da juventude Faísca – Anticapitalista e Revolucionária convidamos todas e todos a participar do nosso Grupo de Estudos d’O Capital, na faculdade de ciências sociais da USP. Afinal, do mesmo jeito que a direita mais reacionária mostra suas garras, e traz seu “livre mercado” como solução, também precisamos nos fortalecer teoricamente e ideologicamente e responder a altura. Para ver o capitalismo dissecado e todas suas contradições expostas, nada melhor do que estudar essa grande obra, que ataca a raiz desse sistema e nos surpreende com sua atualidade.

PARTICIPE GRUPO DE ESTUDOS D’O CAPITAL: sexta-feira (26/08), 18h, sala 104-A do Prédio do Meio (c. sociais)

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