O Sindicato é masculino, sua diretoria é composta majoritariamente por homens, na assembleias quem falam são homens, na arquibancada cheia ou vazia, predominam os homens. Tá certo, nossa categoria é majoritariamente masculina. Mas nem tanto... pra que se justifique podermos contar nos dedos das mãos e dos pés o numero de mulheres na arquibancada de uma assembleia. E muitas vezes ser uma ou duas as que intervêm no microfone.
A verdade é que o ambiente político é masculino. Os entraves para as trabalhadoras que tem o serviço de casa sob sua responsabilidade, que tem que cuidar dos filhos, que tem que lidar com o ciúme e chantagens dos maridos pra sair de casa, que muitas vezes são o pilar de toda a família tendo que lidar com os mais diversos tipos de problemas, são muitos. Isso, pouco se discute.
Pouco se discute também aquilo que passamos nós mulheres e trabalhamos na estação, na segurança, na manutenção do Metrô, em trabalhos ainda considerados masculinos. "Onde está o homem aqui?" dizem os usuários para nós que estamos na catraca fazendo nosso trabalho. Os chefes que te dão "cantadas" e te convidam pra sair. Os próprios colegas reproduzem esse machismo, batem palma quando batemos cartão. As piadas, conversas, comentários que ouvimos na copa, na bilheteria, com a nossa dupla de segurança. As piadas machistas que ouvi nas reuniões da Cipa entre a chefia e muitas vezes entre representantes votados pela categoria. Um ambiente que reforça muito o machismo.
Pouco se discute que as que mais ouvem insultos, são as mulheres: "vagabunda", "gostosa", "gorda", "vaca". Que temos que nos provar muito mais pelo serviço que realizamos para mostrar que somos capaz de realizar um serviço "masculino". Que somos as que agredidas nas catracas do Metrô. E sofremos silenciosamente, porque também somos as que por tudo isso sofremos com depressão, estresse e outros distúrbios psíquicos.
Pouco se discute a contradição que é sermos apenas 20% da categoria metroviária, e ao mesmo tempo sermos na realidade muito mais que isso nas estações, sermos a maioria, porque estamos nós, mulheres e negras, nos trabalhos terceirizados e precarizados da limpeza, das lojinhas de bijouterias, roupas, farmácias das estações.
Sem falar nos assédios que sofremos enquanto usuárias nos trens. Todo dia entramos no trem lotado pensando: "Será que é hoje que viro mais uma estatística?". E pensamos em mil estratégias, em ficar encostada com a bunda na porta e os olhos atentos para garantir de não ser a próxima a ser encoxada. Quando estamos trabalhando na estação, tentamos dar algum conforto para a mulher assediada, com os poucos recursos que o Metrô nos oferece.
Nas ruas, nas Olimpíadas, viemos mostrando que não queremos viver relegadas ao nosso espaço privado do lar, que queremos sim estar no espaço público e nos colocar na política. O Sindicato, nosso organismo de representação e organização, não pode estar atrás.
Cada mulher que se sente recuada no ambiente de trabalho, que não vai nas assembleias, significa uma perda para nós enquanto classe trabalhadora, significa que a categoria se divide e se enfraquece.
O Metrô se sente extremamente acuado quando demonstramos nossa força. Não à toa a Companhia fez de tudo para acabar com a Subcomissão de Saúde e Proteção a Mulher que criamos na Cipa da Linha 1-Azul e que fizemos o esforço para votar também nas outras linhas, mas foi vetado pela bancada da empresa.
Precisamos construir um novo sindicato, com novas práticas, precisamos romper a rotina e pra isso é necessário novas pessoas. Pra isso é necessário um sindicato que paute também o desejo de mudança que as mulheres cada vez mais carregam consigo e que sejamos nós mesmas as porta-vozes do que queremos.
Construir um Sindicato que ajude a romper o silêncio que existe e levar cotidianamente o debate do assedio que sofremos no ambiente de trabalho muitas vezes pelo chefe, mas também pelos colegas de trabalho e usuários. Fortalecer a nossa secretaria de mulheres para mudarmos essa cultura.
Um sindicato que lute para exigir que o Metrô assuma a responsabilidade pelos milhares de casos de assédio nos trens superlotados e dê condições mínimas para que possamos atender essas mulheres. E que lute também para que acabe a precarização do trabalho com a terceirização, que lute pela efetivação das trabalhadoras terceirizadas sem concurso público.
Para isso construímos a Chapa 5. Uma chapa que possui 40% de candidatas mulheres e a única Chapa que carrega como uma de suas ideias principais a luta contra as opressões: o machismo, o racismo e a homofobia. Somos a única Chapa que pautamos esse debate nas eleições e fazemos isso porque achamos que é a hora de renovar nossa entidade. É hora de fortalecer em nosso Sindicato a voz das mulheres!
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