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VOTAÇÃO NA CÂMARA
Tiroteio entre as alas da direita golpista pelo privilégio de ser o novo Cunha: quem ganha com isso?
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

A predisposição da cúpula do PSDB em apoiar o nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara projeta um cenário de polarização entre a candidatura dele e a do deputado Rogério Rosso (PSD-DF), que tem o apoio majoritário de parlamentares do "novo centrão", grupo que congrega siglas médias e pequenas, como o PP, PR, PTB e PSC.

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Não é nenhuma novidade que neste antro aberrante de direitistas vinculados, "pela graça de Deus", aos militares e civis que participaram da ditadura militar, aos grupos de extermínio que assassinam negros e pobres nas periferias, e a fazendeiros e latifundiários que perseguem indígenas e mantém trabalho escravo, nem todos são da mesma fração. A direita se divide em pelo menos dois grande grupos: a oposição de direita "tradicional" do neoliberalismo dos 90, que engloba o PSDB, o DEM, o PPS e por vezes o PSB (com alas que flertam com o PT); e um outro grupo que engloba o grosso das bancadas da bíblia, do boi e da bala, o chamado "novo Centrão".

Formado por PP, PR, PSD, PTB, PRB, SD, PTN e outras seis siglas menores, o grupo reúne 218 deputados e se consolidou sob a influência –ainda presente– do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com 42% do total de cadeiras da Câmara, controla 53% da bancada evangélica, 49% da bancada da bala e 46% da bancada ruralista.

Este grupo conseguiu emplacar três vitórias claras desde o golpe institucional, derrotando a ala encabeçada pelo PSDB. A primeira foi ao derrotar o DEM e emplacar o "cunhista" André Moura (PSC-SE) como líder do governo na Câmara, embora o governo preferisse um nome que não trouxesse na testa uma ligação tão evidente com Cunha. Depois, obrigou o hesitante presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), a abrir mão de comandar as sessões plenárias, tarefa atualmente nas mãos de Giacobo (PR-PR). Por fim, o grupo foi o principal condutor na Câmara e no Planalto da aprovação de um megapacote de reajuste das cúpulas do Legislativo e do Judiciário.

A magra vitória do PSDB neste campo está representada no tucano paulista Aloysio Nunes, líder do governo no Senado.

Rodrigo Maia é o candidato tucano nesta contenda. A tendência se fortaleceu depois que o deputado do DEM teve um encontro com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional dos tucanos, no domingo (10). Em seguida, Aécio e o líder da bancada, Antônio Imbassahy (BA), jantaram com o presidente interino, Michel Temer, e deixaram a impressão de que fecharão com Maia.

Nas inúmeras conversas que Aécio manteve com Temer, seja em "brunchs" preparados pelo ministro do STF Gilmar Mendes ou em almoços no Planalto, deu a entender que "não teria condições" de apoiar uma candidatura vinculada a Cunha, que renunciou à presidência da Câmara na semana passada após mais de dois meses afastado do cargo pelo Supremo.

Sabendo que dificilmente emplacarão Maia contra o voto do novo centrão, os tucanos decidiram que não irão lançar candidatura própria para esta eleição. Em troca, esperam que o Temer garanta o apoio do PMDB e do Planalto a um nome indicado pelo PSDB em 2017, quando haverá nova escolha de presidente da Câmara, dessa vez para um mandato de dois anos.

O próprio PMDB está "rachado" na votação. A ala "Temerista" deste exemplar de fisiologismo que é o PMDB apoiará a candidatura de Rosso para não dar asas maiores aos tucanos no Congresso. Entretanto, a sigla lançou o seu candidato próprio, Marcelo Castro. Ex-ministro do governo Dilma, Castro reúne o apoio de parlamentares insatisfeitos com Temer, tendo a possibilidade de trazer votos do PT. A vitória de Castro, que votou contra o impeachment de Dilma, além de intensificar o racha na base aliada do presidente em exercício Michel Temer, evidencia o descontentamento de parte do próprio partido com sua gestão.

Sem ter o PMDB unificado com seus 66 parlamentares apoiando a candidatura da Cosa Nostra do novo centrão, a grande preocupação entre este grupo na Câmara é concentrar sua candidatura em apenas uma figura para não dividir os votos. Que fazer se Castro traz de volta a influência do PT numa Câmara de golpistas?

Nesse sentido, deputados participaram nesta segunda de almoço na casa do líder do PTB, Jovair Arantes, em que Rosso apresentou "humildemente" sua candidatura e pediu empenho aos colegas, que deixaram o local tentando costurar uma redução no número de nomes do "centrão" que querem disputar a sucessão de Cunha. "Ninguém vai obrigar ninguém a abrir mão, mas gestos nesse sentido podem acontecer", afirmou Jovair. Ao lado de Rosso despontam os nomes de Beto Mansur (PRB-SP) e de Fernando Giacobo (PR-PR).

Como enxugar as candidaturas destes amantes de cargos? E a rinha de galos para disputar esse privilégio enorme de ser presidente da Câmara para deputados de cuja ficha pendem inúmeras acusações criminais, desde manutenção de trabalho escravo a peculato?

O Black Friday de apoios e fisiologismo envolve naturalmente o PT

Este edificante tiroteio entre os grupos sumamente reacionários da Câmara pode contar com o aval até mesmo da força "praticamente deposta": do PT. O deputado do DEM tentava o apoio oficial do PT, mas a bancada do partido decidiu em resolução não votar em ninguém que trabalhou pelo impeachment da presidente afastada. Entretanto, como a votação é secreta, é possível que o petismo, que se opõe discursivamente ao golpe institucional para aceitá-lo na prática, escolha que parte da direita lhe fia melhor o destino dentro da Câmara.

Uma Casa de Cunhistas

Com o destino de seu governo nas mãos do novo centrão, Temer influirá para que o grupo tenha seu candidato vencedor. O que não traz tranquilidade a um governo que já perdeu três ministros para a Lava Jato: apoiará um grupo que tem 62% de seus deputados com ocorrências na Justiça e em tribunais de contas. São todos amoedados à imagem e semelhança de seu predecessor.

O PSDB, em geral privilegiado nas investigações da Lava Jato, que nunca usou seus métodos antidemocráticos para conduzir coercitivamente ou prender preventivamente um tucano, busca blindagem para seu "elo débil", Aécio Neves. Mas não apenas. Com o fantasma das delações da Odebrecht e outras empreiteiras, nas quais já figuram nomes como o do atual chefe do Itamaraty José Serra, o PSDB precisa de um controle maior sobre a Câmara como poder de barganha a possíveis avanços - ainda que improváveis por ora - do Judiciário, mesmo com a blindagem total conferida por Gilmar Mendes.

O PT de Lula, do alto de sua capitulação responsável e pacífica ao golpe institucional, finge não ser consigo a contenda e se concentra na turnê de Lula pelo nordeste, onde este se animou a dizer que "se o governo estiver bem, não voltará", deixando de mencionar o papel criminosamente funcional da burocracia da CUT e CTB aos ataques do governo Temer. Tudo para preservar seus doces cargos sindicais às custas dos direitos trabalhistas, inclusive encenar outro circo (ou "jornada de lutas") em meados de agosto.

Num momento de fortalecimento relativo do governo, ainda que limitado no tempo por eventos que vão desde a definição do impeachment no Senado até as eleições de outubro, esta resolução da Câmara pode causar novas rupturas.

Esta disputa esdrúxula entre gangues políticas da direita mostra que a Lava Jato, depois de dois anos, não só não "combateu a corrupção" como criou as condições para que o país fosse governado pelo que há de mais podre do fisiologismo burguês.

É preciso questionar a casta que governa este sistema, do Legislativo ao Judiciário, para avançar ao questionamento das relações que compõem o próprio sistema capitalista. Exigências "democrático-radicais” como que todos os cargos públicos tenham a mesma remuneração de um trabalhador; que todos os juízes e funcionários de Estado sejam eleitos e tenham seus cargos revogáveis; a fusão do executivo e do legislativo numa Câmara Única que ponha fim à presidência e ao Senado, que defendemos como conteúdo da Assembléia Constituinte Livre e Soberana, não foram inventadas por nós. São todas reivindicações da primeira experiência de governo dos trabalhadores da história, a Comuna de Paris de 1871.

Sua força, ligada a uma estratégia transicional anticapitalista, seria um verdadeiro desafio ao trabalho da direita e dos militares em 1988.

 
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