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GREVE NA USP
Estudantes da USP completam dois meses em greve por saúde e educação
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Nessa terça-feira, 12 de julho, aos dois meses de greve na USP, um importante Conselho Universitário vai acontecer. Na pauta, o acesso à universidade, um novo plano de demissão voluntária dos trabalhadores e uma mudança na forma de eleição dos representantes discentes.

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Justamente no dia em que completaremos dois meses em greve por saúde e educação, foi convocada uma reunião do Conselho Universitário, com apenas cinco dias de antecedência. Entre as pautas estão temas fundamentais que dizem respeito às demandas da nossa greve. A reunião vai discutir acesso, incluindo o tema das cotas étnico-raciais e do SISU, um novo Plano de Demissão Voluntária dos trabalhadores e uma mudança no regime de eleições dos representantes discentes para o CO. Para que fossem protocolados os novos representantes discentes eleitos, a reitoria exigiu que fossem entregues uma série de documentos que serviriam como forma de mapear todo o movimento estudantil. Diante disso o posicionamento político dos representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) foi não aceitar entregar de bandeja todos aqueles que vêm há algum tempo atuando no movimento estudantil da USP, abrindo caminho para possíveis punições. Por conta dos ataques que pretende passar nesse CO, a Reitoria, autoritariamente, tentou impedir a participação da representação discente na reunião, decisão que só foi revertida pela ação de advogados do movimento estudantil na véspera do Conselho.

Essa manobra da reitoria visava não permitir que as posições divergentes, a dos estudantes em luta, se expressasse nessa reunião, que já conta com apenas três representantes dos trabalhadores. Essa postura revela o intuito dessa reunião: não é de forma alguma dialogar com as demandas daqueles que estão há dois meses em greve lutando em defesa da educação e da saúde, mas sim fazer uma reunião entre Zago e os principais representantes da burocracia da universidade visando hegemonizar uma posição comum a respeito dessas questões. O interesse da Reitoria era poder passar de forma unificada todos os ataques que planeja sem enfrentar a oposição que os estudantes ali fariam. Essa tentativa de hegemonização é fundamental, tendo em vista que principalmente na questão do acesso existe um racha dentro da burocracia, expresso pela adesão ao ENEM com percentual de vagas para Pretos, Pardos e Indígenas (PPI) em algumas unidades da universidade. Uma forma da burocracia tentar aparentar ser um pouco mais democrática na discussão de acesso, sem ter que se submeter a uma das reivindicações centrais do movimento que é a implementação das cotas étnico-raciais.

Diante disso foi convocado um ato de estudantes e trabalhadores em frente à Reitoria, local onde acontecerá a reunião do CO, com concentração a partir das 12h. É fundamental que todos os estudantes, entidades estudantis e grupos políticos organizados que atuam na universidade estejam presentes nesse ato, demonstrando ao reitor e à burocracia universitária que não nos calaremos diante de tantos ataques e da falta de diálogo do Reitor com aqueles que lutam na USP. Nesse mesmo horário será realizada uma nova audiência de conciliação entre a universidade e os trabalhadores a respeito do corte de salário que deixou diversas famílias sem sustento. Logo pela manhã, representantes dos diversos Centros Acadêmicos e do Diretório Central dos Estudantes se reunirão na Ocupação da Vivência do DCE para debater como nos organizaremos diante da intransigência da Reitoria.

Desde o inicio era necessário a unificação

Viemos tendo algumas conquistas parciais nessa greve representadas pela negociação que vem sendo feita na FFLCH, que inclui a não punição dos lutadores, a busca por mais espaços de diálogo entre os três setores da faculdade, entre outras medidas, além de outras conquistas locais em algumas unidades. Uma das pautas fundamentais da nossa greve é a luta pela implementação das cotas raciais e indígenas, demanda que a Reitoria vem permanentemente se negando a pautar com o conjunto dos estudantes e trabalhadores. O amplo movimento por cotas raciais na USP foi fundamental para escancarar o quão racista é a dita melhor universidade do país, criada para atender os interesses dos grandes herdeiros das elites escravocratas. Por nunca terem tomado uma iniciativa no sentido de organizar uma política efetiva para a demanda de cotas e dos negros em geral, com uma estratégia que pudesse responder nossas demandas mais sentidas, o DCE acabou abrindo espaço para que a estratégia populista, que por vezes vai contra os métodos históricos de auto-organização do movimento estudantil, fosse ganhando força entre alguns setores do movimento.

A falta de uma estratégia correta fez com que a forte mobilização dos estudantes dos cursos da Saúde, que tinham como centro a defesa do Hospital Universitário, ficasse distante do restante do movimento. Não por responsabilidade desses estudantes, mas centralmente por que deveríamos nesse momento ter um organismo único que pudesse dirigir a greve buscando unificar nossas lutas. Esse organismo deveria ser o comando de delegados eleitos nas assembleias de cursos, que deveria discutir política e organizativamente os rumos da mobilização. Mas esse comando na maioria das vezes foi secundarizado pela gestão do DCE, que defendia que esse organismo fosse apenas encaminhativo, privando que os estudantes em luta pudessem fazer um debate político qualificado de como estavam seus cursos e em base a isso pensar quais políticas eram necessárias para unificar e massificar nossa greve.

Infelizmente, por uma politica consciente da atual direção do DCE de não buscar uma real unificação, não conseguimos expressar de forma unificada toda a força dos diversos cursos que entraram em greve e se mobilizaram. Nem nas assembleias gerais, nem em alguma ação conjunta. Essa politica de não unificação, sequer entre os próprios estudantes, muito menos com os trabalhadores, foi uma das principais causas de nossa greve estar fragmentada e não ter conseguido dialogar como poderia com o conjunto da população, mesmo tendo como principais pautas as cotas raciais e indígenas e a defesa do Hospital Universitário, demandas que dialogam muito com a população de fora da USP.

Uma faísca para incendiar a luta

O fundamental para pensar qual política teremos nesse momento é sempre levar em consideração como vamos preservar aqueles que com essa greve despertaram para a importância de se organizar politicamente para lutar contra todos os ataques que a Reitoria e os governos querem descontar nas nossas costas. Estamos passando por uma momento único no país, em que um governo golpista tenta aplicar de forma cada vez mais rápida os ajustes que a burguesia quer, ao mesmo tempo em que uma justiça nada cega visa escolher quem vai governar o país.

Nós, da Faísca - Juventude Anticapitalista e Revolucionária, desde o início da greve batalhamos para que essa greve pudesse ser um fator também na conjuntura e se posicionasse claramente contra os cortes na educação promovido pelo governo golpista que acabava de ascender ao poder e pelo governo estadual de Geraldo Alckmin ladrão de merenda. Colocamos a necessidade da unificação entre os estudantes e os trabalhadores, mas também a necessidade de se ligar com a forte mobilização que estava em curso nas três estaduais paulistas. Fomos os principais defensores de um comando estadual unificado e impulsionamos a realização de um Encontro Estadual dos Estudantes em Luta, que aprovou uma das poucas medidas conjuntas nossas, o 3J, um dia estadual de luta contra a repressão, em defesa da saúde e da educação.

Sabemos que hoje a universidade é fechada para a ampla maioria da população, principalmente a população pobre e negra, por isso nós defendemos a necessidade de se lutar pelo fim do vestibular e a estatização das universidades privadas sob controle daqueles que estudam e trabalham. Pois enquanto existir o vestibular sabemos que aquele que terá seu acesso ao ensino negado será um negro. Assim como não aceitamos essa estrutura de poder totalmente antidemocrática que atende mais os interesses dos grandes empresários do que daqueles estudam e trabalham na universidade. Se a reitoria alega que o motivo de tantos ataques é por conta da crise financeira da universidade, então deveria abrir o livro de contas, inclusive das fundações privadas que atuam dentro da USP.

Uma luta em defesa da saúde e educação, que se unificasse com os trabalhadores, com os estudantes em luta em diversos locais do estado e do país, buscando o diálogo com toda população, poderia golpear a reitoria e arrancar conquistas concretas. Entretanto essa perspectiva não foi levada a diante por aqueles que dirigiam o movimento, no caso a atual gestão do DCE. É fundamental percebermos o quanto essa experiência foi importante para todos aqueles que se colocaram na linha de frente da luta, para que assim todo movimento possa tirar as lições fundamentais do que está sendo esse conflito. Em nossa atuação sempre batalhamos para que o movimento se colocasse ao lado dos trabalhadores por compreender que essa era a melhor estratégia para vencer a reitoria. Foi com essa perspectiva que atuamos na desocupação da Letras como parte de um acordo para que não ocorresse o corte de salário dos trabalhadores da FFLCH, mas que teve como principal êxito a profunda aliança que se forjou entre os estudantes e os trabalhadores, que chantagem de diretor algum será capaz de romper.

É com essa perspectiva que acreditamos que devemos nos manter em greve ao lado dos trabalhadores enquanto permanecer o corte de salário. Mas diante da não massificação e da divisão do movimento estudantil vamos precisar avaliar se podemos continuar greve ou se teremos que nos reorganizarmos nas bases dos cursos discutindo todas as lições dessa mobilização na perspectiva de se preparar para organizar a continuidade da luta em defesa da educação e da saúde. Como parte de uma preparação para novos desafios que já estão anunciados, fazendo um profundo balanço dos erros e acertos dessa greve e de suas direções.

Fazemos um convite aos diversos estudantes dos locais onde já atuamos como Letras, Pedagogia, Sociais, História, EACH, mas também aqueles estudantes que nos conheceram durante essa mobilização, aos jovens lutadores da ECA, Física, Biologia, dos cursos da Saúde, entre outros, para pensarmos de forma coletiva qual a melhor saída para nossa mobilização. Entendendo que a greve é apenas uma batalha de uma grande luta para defender a saúde e a educação, que em nossa visão passa necessariamente por uma estratégia de aliança com a classe trabalhadora contra esse sistema de exploração e opressão chamado capitalismo.

 
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