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47 ANOS DE STONEWALL
A fúria de uma revolta sexual: há 47 anos de Stonewall
Pablo Herón

Em 28 de junho de 1969, Stonewall foi um bar protagonista da primeira revolta sexual que cobrou notoriedade a nível internacional. Um cartão postal do passado e uma luta do presente.

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Noites de Barricadas

A noite da diversidade sexual transcorria normalmente, a música soava como qualquer outro fim de semana, e o álcool se encontrava como sempre, diluído em água para favorecer o negócio das máfias, que gerenciavam estes bares em acordo com a polícia. Porém, uma batida policial de rotina se transformo una primeira revolta sexual que fez eco no próprio coração do imperialismo e à nível internacional.

Havia muita gente e a polícia pretendia fazer uma detenção em massa amparando-se nas leis, levar mais de duas roupas do sexo oposto e os atos homossexuais eram ilegais. O resto do que ocorreu não foi nenhuma casualidade, as travestis, as mais oprimidas e marginalizadas, foram o pontapé ao negarem-se a ser detidas. Logo, o grito de uma lésbica retumbava nas ruas de Greenwich Village: “Alguém vai fazer algumas coisa?”. Ali se desatou o enfrentamento, a tal ponto que a polícia teve que trancar-se dentro do bar, enquanto as travestis, as lésbicas e os gays se transformaram nos donos das ruas de Greenwich Village. Um postal que se repetiu nas duas noites seguintes.

Uma crítica radical

A revolta de Stonewall foi própria do clima de época, nos EUA surgia o movimento contra a guerra no Vietnam, em defesa dos diretos da comunidade negra, como as Panteras Negras, e novamente o movimento de mulheres. No maio francês de 1968, trabalhadoras trabalhadores e estudantes ocupavam as ruas com barricadas contra o reacionário governo de De Gaulle.

Neste contexto, Stonewall foi o pontapé de um movimento que partiu de uma defesa elementar contra o assédio das forças repressivas do Estado e sua legislação reacionária, a lutar em sua expressão mais radical pela liberação sexual e lutar contra capitalismo. Na Argentina, pode-se encontrar estar ideias na obra “Sexo e revolução” da Frente de Liberação Homossexual, escrita por Néstor Pelongher, aonde a crítica voraz às normas da sexualidade e os gêneros impostos pelas instituições da sociedade vai de encontro a pôr abaixo o capitalismo que as sustém em seu próprio benefício.

Das mesmas entranhas de Stonewall, surgiram ativistas como a travesti de origem latina Sylvia Rivera, que junto à sua amiga Marsha P. Johnson, fundou em 1970 a STAR (1), organização que se dedicou principalmente a combater a situação de criminalização que atravessava as pessoas trans na época, algo que se repete hoje pela mão do próprio Obama. Sylvia, desde o seu início na militância, lutou contra a guerra no Vietnã, junto às mulheres e a comunidade negra. Dentro do próprio movimento da diversidade sexual, lutava pelas demandas de todas as pessoas discriminadas por sua identidade de gênero ou orientação sexual, contra aquelas e aqueles que privilegiavam as demandas das e dos homossexuais.

Assim, a época dava lugar à uma vanguarda juvenil que se levantava contra as normas opressivas herdadas do mundo do pós-guerra. Esta mesma efervescência se traduziu em uma crítica radical da vida cotidiana, inovadora na música e na arte, e até nas experiências lisérgicas.

Liberação sexual, uma luta vigente

O massacre de Orlando, que acrescentou meia centena de nomes à lista negra de pessoas LGBTI assassinadas, foi uma brutal amostra de uma violência patriarcal que não acabou. Não só isso, como também restabelece o peso dos discursos reacionários vindos de personagens como Donald Trump nos EUA, somando-se aos já conhecidos da Igreja Católica.

Na Argentina, país de vanguarda em leis favoráveis aos LGBTIs, esta violência se pode materializar a cinco quadras do Obelisco e até cobrar nomes próprios como Diana Sacayan ou Laura Moyano, vitimas de travesticídios. Também aparece no caso de Belén, condenada a oito anos de prisão acusada sem provas por haver realizado um aborto.

Posteriormente aos 70, até hoje, tiveram protagonismo as políticas de fundos estatais para ONGs e a luta por leis favoráveis às pessoas LGBTI. Particularmente esta última teve o benefício de visibilizar e conquistar reivindicações elementares como poder ter um DNI (equivalente ao RG na Argentina) de acordo com a identidade autopercebida, assim como ter direito ao matrimônio e seus benefícios sociais. Ainda assim, como contra-cara, também reforçou a ideia da possibilidade de viver plenamente cada múltipla identidade de gênero ou sexualidade com as reformas pela mão do Estado.

As ilusões nos direitos democráticos em si e sua contra-cara de uma violência que não cessa, colocam novamente sobre o tapete as discussões dos anos 70. Época em que uma vanguarda juvenil, enfrentando o ideário conservador e a repressão estatal, colocou o eixo na necessidade de se organizar e sair às ruas para combater os governos e suas instituições. Esses mesmos que sustentam e reproduzem essa moral obscurantista funcional à rentabilidade empresarial, que aprisiona a sexualidade humana em geral e submete em especial as pessoas LGBTI e as mulheres.

Na nos acalmamos, muito menos seguimos aceitando um mandato sexual que se baseia na opressão, discriminação e constante estigmatizarão pelo simples fato de viver nosso desejo fora da redoma heteronormativa. Por isso, a vigência de sua luta pela liberação sexual e pela revolução socialista. Pela emancipação das e dos mais explorados e oprimidos como motor de luta.

(1) Street Transvestite Action Revolutionaries: Ação Travesti Revolucionária das Ruas

 
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