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FASCISMO NA UFRGS
Fascismo na UFRGS, golpe institucional e movimento estudantil
Guilherme Costa

Frente à ofensiva da direita na UFRGS e no Brasil, nós estudantes devemos nos organizar e promover assembleias de curso a fim de organizarmos uma grande paralisação contra o golpe institucional, os cortes na educação e o fascismo crescente na universidade.

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O restaurante universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul amanheceu no dia 29 de Abril com a frase “Ustra vive”, em referência ao famigerado torturador da ditadura militar Carlos Alberto Brilhante Ustra, recentemente lembrado por ninguém mais que Jair Bolsonaro durante sessão de impeachment na câmara. Semanas antes, cartazes misóginos e de cunho fascista foram espalhados por espaços estudantis na universidade, um estudante indígena foi espancado em frente a CEU pelo simples fato de ser indígena, sem contar as inúmeras pichações machistas e racistas presentes nos banheiros e paredes da universidade.

Avanço da direita a nível nacional

Cabe refletirmos aqui a relação entre essas manifestações de cunho ideológico repugnante e o avanço da direita a nível nacional. Não me parece casual alguns estudantes se sentirem mais confortáveis a invadirem espaços de auto-organização dos estudantes nomeadamente de esquerda, como a Toca, o Chist e o DCE, ao passo em que o governo do PT está sendo derrubado pelas mãos de setores da direita como Temer, Eduardo Cunha, Bolsonaro, Feliciano, FIESP, PSDB, Globo, Moro, etc.

Se sentem ainda mais confortáveis após a chuva de reacionarismo que inundou o domingo do impeachment no Congresso Nacional, onde não apenas mulheres, LGBT’s, negros e indígenas foram brutalizados, mas a esquerda como um todo num verdadeiro clima de Guerra Fria contra a “ameaça do comunismo”. É com a direita crescendo nacionalmente que esses estudantes de vinte e tantos anos se sentem fortalecidos para propagandear seus ideais sinistros e intolerantes. Para compreender as causas desse movimento, é necessário reafirmar a tese de que a direita se fortaleceu graças ao PT que a colocou dentro do governo nos últimos treze anos, como vemos nas alianças espúrias com Malluf, Collor, Renan Calheiros, Cunha, Temer, Kátia Abreu, Malafaia, etc.

Dessa forma, o golpe se apoia em elementos fascistizantes da sociedade, como os expressos nas manifestações na UFRGS, mas caracteriza-se fundamentalmente pelo aspecto institucional, parlamentar, e visa avançar institucionalmente contra os direitos democráticos de organização da classe operária e dos estudantes.

Tem como objetivo substituir um governo corrupto e ajustador por um que vai roubar e atacar ainda mais direitos da população. Cortes na educação e saúde, como os que vemos aqui no Rio Grande do Sul pelo compatriota partidário de Michel Temer, José Ivo Sartori, vão se aprofundar com um eventual impeachment. A reforma da previdência está aí e o projeto “ponte para o futuro” extrapola na ironia do título por não passar de uma verdadeira ponte para o passado. É contra esses ataques que devemos nos levantar e mais - contra as arbitrariedades de todo o Congresso Nacional, da grande mídia e do judiciário que vem comandando a opinião pública a seu bel-prazer, à revelia da vontade de 54 milhões de votos.

“Crianças” de vinte e tantos anos ou fascismo descarado?

E esses meninos de vinte e tantos anos que difundem ódio pela universidade, o que tem a ver com tudo isso? Não são eles os agentes do golpe e dos ajustes que virão em um eventual governo do mordomo da FIESP Temer, mas o conteúdo ideológico do que defendem se liga muito bem com a ofensiva da direita nas alturas.

Muito se falou nas redes sociais e nos corredores das faculdades da UFRGS sobre uma suposta ingenuidade ou inocência deles, como se eles não conhecessem até o final o conteúdo daquilo que propagavam, desconhecessem a história recente do país e o fizessem por mera zombaria infantil. Até que ponto é razoável considerar esses jovens de vinte e tantos anos como “crianças” ingênuas?

É certo que suas ações assemelham-se a de crianças de 8 anos que não gostam do coleguinha. Mas a verdade é que essas “crianças” de vinte e tantos anos que picham o RU são as mesmas que ateiam fogo em indígenas e moradores de ruas no dia seguinte. Essas “crianças” de vinte e tantos anos são as mesmas que espancaram violentamente o estudante indígena Narlei Fidelis no mesmo local da pichação semanas antes. São as mesmas “crianças” que em 2013 atiraram Suzane Jardim, estudante da USP, do quarto andar após ela ter chamado o “amigo” de machista. São as mesmas “crianças” que recentemente espancaram Bruna Sevilha em Campinas pelo simples fato de caminhar na rua com sua namorada. São as mesmas “crianças” que em Agosto de 2015 deceparam as mãos de Gisele Santos após uma briga com o namorado no Vale dos Sinos em RS. São as mesmas “crianças” que espancam e assassinam todos os dias transexuais e travestis Brasil afora. São as mesmas crianças que defendem o encarceramento em massa e chacinas do povo negro como as de maio de 2006 em São Paulo por parte da polícia. São as mesmas “crianças” que divulgam o manual de como estuprar uma estudante da USP na internet. São as mesmas “crianças” que cospem todos os dias na cara das mulheres, negros, indígenas, LGTB’s…

Acontece que um dia essas “crianças” crescem e qualquer ilusão de inocência ou ingenuidade cai por terra. Elas crescem e se tornam assediadoras e assassinas, torturadores e apoiadores da ditadura militar, homens de família, cidadãos de bem, afeitos à moral e aos bons costumes. Elas crescem e propagam uma diarreia ideológica constante contra qualquer ideal de esquerda, socialista ou libertário. Elas crescem e se tornam aquilo que podemos chamar, sem perdão à palavra, de fascistas reacionários, se é que já não são… São indignos de qualquer tolerância, sujeitos da pior estirpe que afrontam a nossa humanidade e desrespeitam sistematicamente o direito de viver livremente em sociedade. Com eles não há diálogo, apenas combate.

Erguer o movimento estudantil

Em um local onde supostamente prevalece o livre pensar, como a universidade, ações como essas devem ser amplamente rechaçadas. Contudo uma nota de repúdio no facebook não é suficiente. Mais do que exigir da universidade medidas concretas de punição aos responsáveis por essas ações, é necessário erguer o movimento estudantil para combater essa ofensiva.

Por isso chamamos os estudantes a se levantar. É de responsabilidade maior da atual gestão do DCE, que foi eleita com o discurso de combater a direita dentro da UFRGS, convocar os estudantes a se organizarem e combaterem essa ofensiva, dentro e fora da UFRGS. Apenas com um forte movimento massivo podemos avançar. A luta contra o golpe institucional passa também por nos levantarmos decididamente contra essa direita asquerosa dentro da universidade e contra os cortes que estão ocorrendo e que vão se aprofundar. Assembleias de curso devem ser amplamente convocadas, com o intuito de fazermos uma assembleia geral massiva e organizar uma forte paralisação geral.

O movimento estudantil não pode ficar passivo diante das maiores crises que já viveu o nosso país, e certamente a maior que nossa geração vivenciou. Devemos sair às ruas, mostrar à sociedade que os estudantes da UFRGS se organizam contra o golpe institucional e contra todos os ataques que os governos estão fazendo. São momentos como esses em que qualquer vacilação pode levar a um retrocesso sem tamanhos para a juventude e os trabalhadores. E isso a história não vai perdoar.

Abaixo algumas fotos das manifestações fascistas na UFRGS

Cartazes de cunho misógino e exaltando Bolsonaro espalhados no Centro Acadêmico de História

Narlei Fidelis, estudante indígena dia após ter sido espancado em frente à casa do estudante

Pichação de 2007 mostrando como desde a época em que as cotas estavam sendo implementadas, essa direita já se expressava na universidade de maneira intolerável

 
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