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DISCURSO DE DILMA
Dilma reconhece derrota e anuncia obstáculos institucionais contra impeachment ‘até o fim’
Marcelo Tupinambá

O tom já não era agitando o “Não vai ter golpe”, foi de uma triste injustiçada. Mas Dilma deixou marcado que vai colocar obstáculos para uma derrota definitiva, ao menos para impor desgastes à oposição que permitam uma ressurreição eleitoral petista. Mas estes seriam institucionais, justo os que levaram à derrota de domingo.

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Dilma centrou seu discurso em dizer que se sente injustiçada, pela fragilidade das bases jurídicas do impeachment conduzido por políticos imputados em crimes de corrupção e a ausência de debate na Câmara sobre o alegado crime de responsabilidade, precisamente as mesmas questões que foram levantadas pela maioria dos editoriais dos jornais internacionais, assim nas declarações da OEA crítica ao impeachment "que não se baseia em nenhum crime da presidenta".

Colocou o centro da “injustiça” em que o “crime de responsabilidade” que a acusam, foi também feito por presidentes anteriores. Justificou a crise econômica pela crise política e as “pautas bomba” que o Congresso colocou para inviabilizar seu governo. Sem citar os nomes, criticou abertamente Cunha e Temer, como articuladores do golpe institucional, colocando que a própria imprensa reconheceu que era vingança.

Criticou que os argumentos dos deputados na votação de domingo não se referiam ao que seria o motivo “legal” do impeachment, mas “por Deus”, “pela família” e todo tipo de argumento esdrúxulo (mas nunca reacionário, nunca nomeando os seus ex-aliados pelo que são, de direita). Esse destaque, repete o mesmo argumento que o Advogado Geral da União,Ministro José Eduardo Cardozo, colocou ontem, indica que vão recorrer ao STF com este argumento para que anule a votação da câmara.

Dilma segue a linha institucional que a levou à derrota na Câmara

Já antes da votação na Câmara, Dilma chamou jornalistas para dizer que iria buscar uma “repactuação” do país caso barrasse o impeachment na Câmara, numa linha diferenciada dos discursos de Lula que no RJ fazia discursos mais “inflamados”, como analisamos neste artigo.

Mais ainda depois da derrota de domingo, se limita a colocar como caminhos para barrar o impeachment as vias institucionais. Por um lado, o STF, sinalizando de que vão recorrer, se apoiando em que na recusa desta Corte ao pedido de adiamento da votação da câmara feito pelo governo, debateu que a admissibilidade do processo na Câmara deveria se restringir à acusação apresentada de crime de responsabilidade pelas “pedaladas fiscais”. E não foi, e sim “pela família, por Deus, por Cunha e até pelos militares de 64”. O governo, encurralado no parlamento, deve recorrer ao STF, o mesmo que vem atuando como arbitro e se fortalecendo como avalista do golpismo institucional.

Ainda assim, devem aguardar o julgamento previsto para quarta-feira se Lula vira ministro, para terem uma melhor caracterização. O STF deixou o julgamento da posse de Lula como ministro para depois da votação do impeachment pois sabe que se houvesse um novo governo, este só teria qualquer chance de se recompor com Lula como articulador ainda mais forte do que está sendo por fora do governo. Com o impeachment muitíssimo mais provável de ser aprovado, salvo aconteça algum fato de grande monta, o STF pode seguir a toada e nem deixar Lula assumir ou, até mesmo, deixar Lula assumir e parecer “neutro”, sendo que este já entraria num governo derrotado, ainda que não deixa de envolver risco a manobra dos protagonistas do golpe institucional desfazer o trabalho até aqui do STF e permitir a Lula algumas semanas para tentar as últimas articulações antes da votação no Senado.

Por outro lado, Dilma diz que “tem uma relação com o senadores diferente do que com a Câmara”. Segundo ela, seria “qualificada”. Os analistas não veem por onde o governo poderia reverter a votação no Senado nas próximas semanas, mas o fato é que o governo vai explorar as melhores relações que tem com a maior bancada, a do PMDB, com Renan Calheiros, Jader Barbalho e cia, para tentar rachar o PMDB. Para evitar "surpresas", a Lava Jato já na segunda seguinte à votação, revelou uma delação contra Renan Calheiros, para pressionar ainda mais para que este obedeça as ordens golpistas que tem um forte peso na câmara. Cunha foi eleito presidente da Câmara, derrotando Arlindo Chignalia do PT, exatamente com a mesma proporção de votos.

Dilma sentou com Renan logo antes do seu discurso. Este, ainda que sentou também com Cunha, de quem recebeu o processo, tentou aparecer mais “neutro”, em particular em relação aos ritmos do processo, ainda que pressionado pelos editoriais dos jornais e por Cunha.

Ou seja, a mesma linha que selou o fracasso da estratégia de Lula - os pactos com a direita - é a que Dilma segue. Negociar com todo tipo de raposa reacionária e recorrer ao STF que vem sendo um avalista do golpismo.

Mas deixou a mensagem de que não vai entregar fácil

Dilma sabe que se ela está numa situação muito ruim e que mesmo que tenha mínima possibilidade de reverter a votação no Senado, não fica claro como poderia governar com uma base parlamentar tão débil. Mas sabe também que um governo Temer-Cunha também terá que assumir com muitas incertezas no país, e que se está claro que vai implementar ataques ainda mais duros que os do PT, se este está na oposição, tem força para colocar obstáculos, ainda que manteriam sua rotina de garantir o controle das direções sindicais burocráticas.

O PT também sabe da força que tem para uma possível antecipação de eleições presidenciais (que também pode acabar se dando pela via da cassação do TSE da chapa Dilma-Temer), política que vem sendo cogitada por cada vez mais setores, como possível saída para evitar a efetivação do impeachment sem que seja uma renúncia, ainda que esta saída até agora não tenha havido sinal que Dilma vá assumir.

Um dos centros de Dilma no discurso teve outro objetivo, o de passar a mensagem que vai colocar estes obstáculos, indo até o final do processo, para debilitar ao máximo a oposição para que um novo governo seja muito desgastado e que possa voltar com Lula, seja numa eleição antecipada ou em 2018.

Por isso, deu muito peso em seu discurso para tentar, ainda que num tom ameno, manter o perfil da Dilma “coração valente”, dizendo que “eu tenho animo, força e coragem suficiente para enfrentar, apesar que com sentimento de muita tristeza, essa injustiça (...) vou lutar como fiz em toda minha vida. Comecei numa época que era muito dificil lutar, a da ditadura aberta e escancarada, aquela que te torturava fisicamente e que matava e tirava a vida de pessoas e companheiros teus”

Mais que nunca, só uma mobilização independente pode barrar o golpe institucional e os ataques dos governos

O discurso de Dilma mostra uma vez mais que os trabalhadores e jovens que vem querendo barrar o impeachment não porque defendem o governo do PT, mas porque veem o caráter reacionário desse golpe institucional, que no domingo só ficou mais claro, não podem ter nenhuma confiança na direção do PT, da CUT e dos governistas para qualquer batalha. Será necessário impulsionar uma mobilização independente, como viemos defendendo no Esquerda Diário e como MRT nos locais de trabalho e estudo onde atuamos.

 
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