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1 ANO DE ESQUERDA DIÁRIO
Como a seção de luta negra do ED expressou o ano de ataques, lutas e vitórias para os negros no Brasil e no mundo
Letícia Parks
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A crise avança – nós negrxs não pagaremos por ela

Desde 2008, quando a queda do Lehman Brothers instaurou uma forte e estrutural crise econômica no seio do imperialismo norte-americano, já ficava claro que a saída que os burgueses dariam para a crise seria descarregá-la sobre as costas dos trabalhadores.

No início do capitalismo, para emergir como classe dirigente, a burguesia precisou do racismo, que funcionou como fundamento ideológico pro lucrativo mercado escravista, base econômica do acúmulo primitivo de capital. Hoje, para sair da crise, ela vem fortalecendo ataques aos negros em todo o globo, e com isso mantendo seus lucros e apostando, inclusive, em novas formas de exploração de capital, como os presídios privados, por exemplo.

Mas a contragosto do que deseja a burguesia, xs negrxs atuaram de maneira exemplar em uma série de lutas, começando pelos garis do RJ que arrancaram um aumento do governo passando por cima do controle da burocracia sindical, passando pela luta de terceirizadxs da USP exigindo o pagamento dos salários atrasados e escancarando que dentro da universidade que ocupa espaço nos rankings de excelência acadêmica, ainda sobrevive a escravidão, pela exemplar política de aliança operária-estudantil que levamos a cabo junto com os trabalhadores do bandejão dessa mesma universidade que escancarou através de uma luta a que nomearam “Novembro Negro” que os cortes da reitoria e do governo do Estado de São Paulo são aprofundamentos da exploração do trabalho negro, levando os trabalhadores a adoecerem física e psicologicamente.

Na juventude, xs negrxs também mostraram sua força, e apesar da tentativa de fechamento das escolas, os jovens secundaristas organizaram em São Paulo e Goiás uma forte resistência, utilizando o método de ocupações, e levando o governo do PSDB em São Paulo sofrer uma amarga vitória. Essa luta já se reinicia esse ano com os secundaristas do RJ ocupando escolas e com as recentes denúncias da máfia da merenda em SP.

Lutar contra os ajustes e ir por mais – a democracia “racial” brasileira não nos representa

Na USP, uma das poucas universidades do país onde as cotas não foram implementadas, realizamos uma forte campanha desde o ano passado pelas cotas raciais, e desde que passamos a compor junto a independentes os Centros Acadêmicos de Letras e Pedagogia, colocamos a necessidade de “enegrecer” a universidade como norte de nossa intervenção desde as calouradas. Parte disso é a luta por cotas, outra parte é o reconhecimento de que os negros já compõem a universidade, mas nos trabalhos mais precários, sendo preciso também lutar contra a precarização exigindo a efetivação de todos os terceirizadxs sem concurso público, a exemplo da heroica e vitoriosa luta dxs estudantes universitárixs negrxs da África do Sul, que impuseram essa pauta junto a luta contra o aumento das mensalidades.

No curso da campanha pelas cotas, um de nossos militantes, Marcello Pablito, foi processado junto a outros dois diretores negros, pela ocupação do Conselho Universitário. Baseado no caráter dessa universidade, sabemos que a reitoria é racista e que praticou atos de racismo contra Pablito, que em resposta abriu o primeiro processo de acusação de racismo contra a Reitoria da USP Como resultado disso, a USP recebeu uma negativa da Justiça em seu pedido de demissão ao dirigente sindical.

Denunciamos também em nossa sessão através de uma série de publicações no dossiê do 20 de novembro, que os negros ainda são os mais precarizados no mercado de trabalho, vítimas da terceirização e da imigração e que as mulheres são as maiores vítimas do racismo estrutural do capitalismo.

No dossiê de 25 de julho (dia da mulher negra), denunciamos o lugar que as mulheres negras ocupam na universidade, a relação entre a superexploração do negro e da mulher e a luta em torno da justiça pela morte de Sandra, jovem negra assassinada nos EUA pela polícia.

O racismo é o retrato máximo da barbárie capitalista

Se medimos, como Engels disse, o nível de desenvolvimento de uma sociedade através da localização dos setores oprimidos, o capitalismo está muito mal. 2015 e 2016 tem sido marcados por eventos como a chacina de Osasco, que em uma noite apagou o futuro de mais de 30 jovens negros da periferia de São Paulo. Em nossa sessão, nos perguntamos onde, afinal, está Amarildo, e lembramos tristemente do assassinato de Cláudia, denunciamos o do haitiano Fetiere Sterlin do operário “Neguinho”, de 19 anos, e os 23 anos de injustiça aos 111 presos massacrados no Carandiru. Vimos também, alegremente, que apesar da tentativa de nos impor o medo das ruas, xs negrxs ocuparam a cena mundial com calorosas revoltas contra os assassinatos de jovens negros cometidos por policiais – desmilitarizados – em Baltimore e Ferguson, desafiando os toques de recolher de Obama e dizendo que “Black lives matter” (“vidas negras importam”) e recuperando as tradições de luta das últimas gerações de Baltimore.

Tentando aparecer como uma elite preocupada com o racismo, mas na verdade cheio de medo da revolta popular negra, Obama pediu aos negros que se comportassem como os de “Selma”, elogiando a passividade do movimento representado no filme.

A mídia, a indústria cultural e a tentativa de nos reduzir a nada

Além de “Selma”, outras tentativas de diálogo com os negros que se colocam na vanguarda do enfrentamento aos ataques da crise foram feitas, como a música de Beyoncé e a defesa “rápida” que o Jornal Nacional faz quando uma de suas jornalistas sofre racismo. Mas esses mecanismos não nos enganam, pois a verdade por trás do olhar escandalizado de William Bonner está um BBB que coloca nosso cabelo na esponja e finge que não são seus telespectadores mais assíduos aqueles que praticam todo tipo de discurso racista contra Taís Araújo.

Na contramão dessa lógica, a sessão de luta negra do ED vem servindo como um espaço de propagação da produção cultural negra independente, e segue sendo um espaço aberto para isso. Nela publicamos a corajosa intervenção musical de Leonardo, com o samba contra a redução da maioridade penal que chegou até a ganhar prêmio; o RAP sendo voz de resistência com figuras como Luana Hansen; os festivais de hiphop do grupo de negrxs marilienses; as poesias e contos de Tayla; assim como criamos iniciativas de reflexões sobre arte e cultura em torno do programa da censura e da morte de Naná Vasconcelos. Demos destaque à presença de tropas brasileiras no Haiti, que oprimem o povo haitiano e fazem o jogo do imperialismo.

Para os revolucionários, conhecer a história é projetar um futuro

No curso desses 12 meses, nossa organização foi marcada pela publicação do livro “A Revolução e o Negro”, que abriu uma série de reflexões em torno do papel dos negros na transição do feudalismo ao capitalismo, os erros que a esquerda cometeu na sua análise e programa sobre a questão negra e o papel do racismo no fortalecimento da burguesia enquanto classe. Estamos desde o início desse ano fazendo um curso no seio da ideologia racista (a USP) sobre todos esses temas, colocando à frente do curso a direção de três mulheres negras.

Com a sessão do ED dedicada a luta dos negros e à denúncia do racismo, projetamos um futuro que, no marco da atual crise política, se torna cada vez mais urgente. Nos posicionamos nessa sessão sobre o que pensa a elite dos atos da direita sobre a questão negra e como vemos que os negros devem se posicionar sobre a crise política, além de, contra aqueles que glorificam Moro, denunciamos que esse sistema é aquele que, baseado no Código Penal de 1940, mantém 39% dos presidiários sem liberdade sem sequer terem passado por julgamento.

Nessa sessão, projetamos um futuro para os negros que passa pela revolução, baseado num presente de combate no movimento sindical, estudantil, nas salas de aula, escolas, em cada processo de luta, contra toda forma de racismo, com produção artística e com a divulgação de notícias e fatos que jamais seriam parte da mídia burguesa. Convidamos você não só a conhecer essa sessão, mas também a ser parte desse projeto.

 
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