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THE ECONOMIST
The Economist discute ofensiva: qual “a maneira mais rápida de Dilma deixar o Planalto”, mas recua em seguida
Breno Cacossi
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O Brasil é o tema da próxima capa de uma das mais importantes revistas burguesas de economia internacional, a britânica The Economist. Os imperialistas estão de olho no Brasil, não apenas como observadores. A crise política brasileira pode render grandes negócios aos grandes capitalistas internacionais. Trata-se da possibilidade de uma reorganização das parcerias econômicas, e a chance de expansão dos tentáculos de dominação sobre o momento de fragilidade brasileiro. Na capa: a foto de Dilma e a frase “Time to go”, ou “hora de ir”, defendendo claramente que Dilma deve sair do governo, em pouco tempo lançaram novo artigo retrocedendo no tom agressivo ao governo, adotando análise mais comedida.

The Economist e as velhas receitas imperialistas

Diante da crise econômica que vive o país e a impossibilidade da combinação entre lucros exorbitantes aos grandes empresários e algumas concessões aos trabalhadores, que primou nos anos do “lulismo”, veio à tona o velho receituário imperialista. Dizem os capitalistas: é preciso ter fôlego para garantir o pagamento da dívida e afastar qualquer risco de calote, para tanto se deve reduzir os gastos do orçamento com políticas públicas voltadas aos trabalhadores, como com os aposentados e pensionistas (tal como é a proposta de Reforma da Previdência do governo federal), elevar os impostos sobre os “de baixo” (tal como é a proposta de volta da CPMF do governo Dilma), além da abertura ao capital estrangeiro através de privatizações. Em suma, rendendo-se ao capital internacional, há um pacto dos representantes políticos da burguesia de que a saída para a crise é fazer os trabalhadores sangrarem para salvaguardar os interesses imperialistas, e dizer à população que “apertem os cintos”, aguardando a crise passar, enquanto grandes milionários enriquecem e concentram ainda mais o capital em poucas mãos.

O governo veio avançando nessas políticas de ajustes e ataques aos trabalhadores. A investigação seletiva da Petrobrás através da operação lava-jato, e o último acordo de Dilma e Serra para entrega do pré-sal ao capital internacional, abriu as portas para o fortalecimento de grandes monopólios internacionais.

Logo no início de 2016, em capa sobre o Brasil, estes foram parte dos conselhos da The Economist à Dilma e aos empresários brasileiros. Os redatores da revista apontavam ainda que apenas as medidas anunciadas pelo PT (reforma da previdência, CPMF) ainda não bastavam, era preciso mais para elevar a “competitividade”, e a “produtividade”. Diziam ser preciso mexer nas conquistas dos trabalhadores expressas na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e na Constituição de 1988, para diminuir os custos com a produção, em outras palavras, flexibilizar direitos para melhor explorar os trabalhadores aumentando os lucros, demitindo mais fácil, arrochando salários, etc. Setores da oposição de direita ao governo Dilma, como do PMDB e economistas da CNI, fazem coro com este clamor da The Economist.

Mas a crise política brasileira coloca em relevo algumas perguntas aos capitalistas: como melhor aplicar os ajustes em um país politicamente em ebulição? O PT, com a imagem de conciliador de classes que buscou construir, é a melhor alternativa para ir até o final no receituário imperialista? Como garantir a contenção dos trabalhadores e os melhores negócios à burguesia internacional?

Os novos conselhos da The Economist: “Brasil e a chance de um novo começo”

Em um primeiro editorial publicado na internet pela revista britânica, os redatores colocam quase que exclusivamente na conta das más escolhas do governo do PT o cenário atual, que chamam de “a pior recessão desde a década de 1930”, desta forma abstraem os impactos da crise econômica internacional sobre o país – como a desaceleração da economia de países que vinham sendo parceiros na compra de commodities brasileiras, como a China. Apontam que a decisão de nomeação de Lula ao Ministério da casa-civil “parece uma tentativa grosseira de impedir o curso da justiça”, e que este ato “acabou com o resto de sua credibilidade”. A “fraqueza política” de Dilma, como caracterizaram, se elevou a tal nível a que ela se torne para o The Economist “incapaz de continuar a ser presidente”.

Neste editorial a revista reconhece que o processo de Impeachment atualmente aberto no Congresso é frágil, pois não há provas sobre os “truques de contabilidade” do governo, e que soaria como um “pretexto para expulsar um presidente impopular”. Como sabemos, as chamadas pedaladas fiscais são recurso utilizado por vários presidentes, e de fato esta fundamentação frágil ao Impeachment tem sido utilizada pelo PT como recurso para chamá-lo de golpe. Contudo, neste artigo a revista está disposta a ir mais longe, e discute como fazer para tirar Dilma do poder, apesar da falta de provas, e de um processo mal fundamentado.

A The Economist aponta outras possibilidades para interrupção do governo Dilma: uma seria a abertura de um novo processo de Impeachment com base em outra fundamentação mais sólida, mostrando a obstrução do governo sobre a investigação da Petrobrás, outra forma seria através de uma opção do tribunal eleitoral, se ficasse provado que houve financiamento ilícito de campanha, mas nestas duas alternativas também há dificuldade com as provas (!), e seriam processos demorados demais. O que estes economistas burgueses buscam aqui é “a maneira mais rápida e melhor para Dilma deixar o planalto”. Portanto, defendem abertamente que a melhor alternativa é a renúncia à presidência da república por Dilma, “antes que ela seja empurrada para fora”.

Mas, a deposição de Dilma seria o “primeiro passo”, para a “chance de um novo começo”. Para os redatores, que louvam o judiciário, novas dificuldades devem se abrir, pois consideram também que haja possíveis irregularidades nos procedimentos de Sérgio Moro, e o partido do vice-presidente (PMDB), Michel Temer, ainda que melhor situado para uma unidade política nacional para aplicar os ajustes contra os trabalhadores, também está enredado nos escândalos de corrupção.

Ao final do artigo, reconhecendo que dos 594 membros do Congresso, 352 enfrentam acusações de delito criminal, reforçam que, para além da “guerra entre os partidos”, a lição que consideram mais importante para frisar é o velho receituário imperialista para o Brasil: “controle da despesa pública, incluindo em matéria de pensões; reformar as leis fiscais e trabalhistas que esmagam o crescimento”.

The economist retrocede no discurso ofensivo à Dilma logo em seguida

Pouco tempo depois da defesa aberta de instituições reacionárias como o judiciário, e da queda de Dilma a todo o custo (apesar de reconhecer o envolvimento completo não apenas do PT, mas também dos partidos da oposição nos escândalos de corrupção, e apesar da irregularidades na operação lava-jato pelo juiz Sérgio Moro), a revista lançou novo artigo com uma mudança substancial no tom. Ao longo da tarde desta quinta-feira (24) chegaram a trocar no site o que seria a capa da versão impressa da revista, mas ao final do dia retomaram a capa anterior.

No artigo novo, a revista mantém um tom analítico apontando que se esgotam as possibilidades de manutenção do governo, lista os principais acontecimentos políticos do Brasil nos últimos dias, mas se coloca de forma mais distanciada e ambígua quanto a tomar uma posição mais clara em relação à defesa da queda de Dilma. O fato é que a conjuntura política brasileira é muito dinâmica, e as análises ganham novas nuances o tempo todo. Por exemplo, o vazamento da lista de caixa 2 da Odebretch contendo o nome de mais de 300 políticos, e o sigilo exigido por Moro e o silêncio seletivo da grande mídia (http://www.esquerdadiario.com.br/Onde-esta-Wally-Tucano-da-lista-da-Odebrecht-na-grande-midia), são alguns dos elementos da última semana que podem revelar contradições da oposição, e um sentimento da população de que também a oposição é corrupta, e o fato de que este impeachment pode não ser o grande salvador em relação a estabilidade política.

Contudo, a dinâmica da conjuntura ainda não explica totalmente a mudança de tom da revista. Para a The Economist estes fatos ainda não são tão relevantes, pois, seu comprometimento não é com justiça, e a maior preocupação não é a corrupção, mas os efeitos destes fenômenos sobre a capacidade de aplicação de ajustes e a força dos políticos para salvaguardar os interesses dos milionários, e como deixar um caminho mais favorável ao capital estrangeiro. Como eles melhor dizem, a preocupação é ter um governo “para embarcar nas reformas fiscais necessárias para estabilizar a economia”.

Não é dado o caminho ideal frente a polarização dos partidos da ordem para assegurar os intentos dos grandes imperialistas, e a polarização aguda por tempo prolongado pode abrir novas contradições. Nesta semana, a visita de Obama à Cuba, e à Argentina, e as declarações que deu em relação ao Brasil, podem ter centralizado o tom que o imperialismo deve adotar diante da situação brasileira, tendo impactos na redação da revista britânica, ainda que este tom pode se modificar frente a uma conjuntura dinâmica.

Obama estabeleceu uma série de acordos comerciais na Argentina, e, com o debilitamento de governos ditos “progressistas”, pós-neoliberais, busca retomar uma posição de dominação no continente sul americano que vinha firmando acordos com outros países, como China, nos últimos anos. Obama utilizou Macri como modelo a ser seguido no resto da América Latina: o modelo da eficácia dos ajustes que atacam os trabalhadores, parceiro do imperialismo norteamericano. Em relação ao Brasil, a defesa do contorno da crise não foi taxativa quanto a queda de Dilma, mas ambígua quanto à forma de saída da crise, de todo modo, a defesa dos ajustes à direita não foi no marco de instigar a polarização, mas com elogios às instituições democráticas brasileiras.

Neste segundo artigo, assim como Obama, a revista optou por recuar em elevar o tom de intervenção internacional na política do país de forma direta, ainda que queda de Dilma seja a saída que mais estejam apoiando.

A instabilidade política brasileira pode caminhar para vários lados, e nem todos são favoráveis aos imperialistas. Os imperialistas não querem necessariamente o debilitamento da economia brasileira, não querem correr risco de calote na dívida, mas sim pretendem elevar a dependência econômica e a subordinação política brasileira. O desgaste do petismo e da imagem de conciliação de classes está colocado, e a saída à direita, a exemplo de Macri, pode se dar pelas próximas eleições, com uma política de contenção e ataque sistemática aos trabalhadores neste período, com o auxílio bonapartista do judiciário, e com fortalecimento progressivo da instituição policial, garantindo um clima favorável a serviço do imperialismo nas próximas eleições. A própria The Economist, mesmo no artigo mais ofensivo pondera: “A ideia, levada a frente pelo chefe da comissão de impeachment, de que os congressistas deliberarem sobre o destino de Rouseff seria ouvir "as ruas", abriria um precedente preocupante. Democracias representativas não devem ser regidas por protestos”.

Aparentemente a The Economist neste segundo artigo, junto a Obama, resolveram adotar um discurso para acalmar os ânimos, para não insuflar novos atos. Com Dilma ou oposição, aparentemente optam neste momento pela superação desta crise nos marcos institucionais, de forma a melhor a garantir seus acordos, como está sendo com Macri na Argentina, enxergando possibilidade de garantir os interesses burgueses sem necessidade de golpes. A insistência contínua à interrupção do governo Dilma anterior às novas eleições numa queda de braço permanente e prolongada, sem que esta interrupção se efetive de fato, pode gerar instabilidade perigosa. O descontentamento popular agudo, e a tensão permanente contra o governo gera certo temor em relação ao conteúdo que os “protestos” podem tomar, inclusive porque a oposição de direita não está isenta de virar alvo das manifestações.

Se a The Economist junto aos imperialistas tem um receituário pronto: ataque aos trabalhadores como saída à crise, os trabalhadores, por outro lado, que vem batendo recordes de número de greves, devem ter outro: que os capitalistas paguem pela crise! Os trabalhadores que estão ocupando fábricas, os estudantes e professores que estão saindo às ruas no Rio de Janeiro e São Paulo contra a precarização e os cortes na educação, os funcionários públicos que estão fazendo greves, como em Sergipe e Pernambuco apontam o caminho. A saída para os trabalhadores é um grande movimento nacional contra os ajustes, independente da podridão deste governo, pelo não pagamento da dívida pública! Este movimento independente não para defender o governo federal dos ajustes, nem a oposição de direita, mas sim as demandas da população trabalhadora é o único capaz de fato combater esta corrupção, não apenas trocando uma ou outra peça, mudando as “regras do jogo” através de uma assembleia constituinte livre e soberana que institua o fim dos privilégios dos políticos e dos altos cargos públicos, que todo político ganhe igual a uma professora, que os juízes sejam eleitos, e os cargos políticos revogáveis a qualquer momento pela população e não através desta comissão de corruptos do impeachment e deste judiciário ao qual não temos acesso a nem metade dos documentos das operações de investigação, os corruptos devem ser julgados por júri popular, os burgueses devem pagar pela crise, os cortes devem recair sobre os de cima!

 
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