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TERCEIRIZAÇÃO
Na CAIXA a terceirização já estende seus tentáculos sobre os meios e os fins

Com a aprovação do PL 4330, será liberada a terceirização para qualquer das atividades que uma empresa realize, seja atividade meio ou fim. Para alguns milhões de trabalhadores, nada disso é novidade, mas será novidade para outros milhões que agora querem estender a realidade precária de salários miseráveis, jornadas extenuantes, atrasos no pagamento e anos sem férias para o conjunto dos trabalhadores.

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Na última semana, com a votação na Câmara dos Deputados do PL 4330, a terceirização saiu de sua invisibilidade habitual e se transformou em pauta nacional. Através de um “jeitinho” dado pelo Tribunal Superior do Trabalho em 1993, a súmula 331 formalizou a terceirização do trabalho, permitindo a contratação de mão de obra terceirizada para atividades meio de uma empresa, como hoje são entendidos os serviços de limpeza e vigilância, por exemplo.

No setor bancário, por exemplo, definir a vigilância como atividade meio já é em sim algo que não condiz com a realidade, porque por lei nenhum estabelecimento bancário pode funcionar sem um número mínimo de vigilantes. Os bancos abrem para funcionar muitas agências com um número insuficiente de bancários, porém, quando é o número de vigilantes que está abaixo do mínimo estabelecido, nenhuma agência pode abrir. Sendo assim, é inegável que se trata de uma atividade que é essencial ao funcionamento bancário. Nessa lógica, mesmo as atividades que são consideradas secundárias, seja limpeza, telefonia, recepção, entre outras, são essenciais para o funcionamento de muitos setores da economia. Se não fossem essenciais não seriam desempenhadas por ninguém.

Com a aprovação do PL 4330, será liberada a terceirização para qualquer das atividades que uma empresa realize, seja atividade meio ou fim. Para alguns milhões de trabalhadores, nada disso é novidade, mas será novidade para outros milhões que agora querem estender a realidade precária de salários miseráveis, jornadas extenuantes, atrasos no pagamento e anos sem férias para o conjunto dos trabalhadores.

No dia de hoje, foi votado um destaque ao PL 4330 que proíbe estatais de usar terceiros para atividades fim. No entanto, na Caixa Econômica, acompanhamos no último período, especialmente a partir do segundo mandato de Lula e do primeiro de Dilma, uma avassaladora expansão do banco por meio dos trabalhadores terceirizados não só dentro das agências, como também nos correspondentes bancários e lotéricos. Para se ter uma ideia, hoje no país são cerca de 4,2 mil agências bancárias e cerca de 20 mil correspondentes bancários e lotéricos que realizam diversos serviços bancários, utilizando inclusive os próprios sistemas da Caixa. Fazendo as contas, a Caixa chega em todo o território nacional hoje com cerca de 80% da rede de atendimento terceirizada.

A burocracia sindical (CUT e CTB majoritariamente), para reeleger Dilma, defendeu que o PT salvou a Caixa da privatização nos tempos do FHC, mas a verdade é que foi sob a própria gestão Dilma que a Caixa começou a ser privatizada veladamente com a sua expansão via terceirização e precarização.

Como se não bastassem todos estes exemplos, a Caixa também terceiriza seus serviços de teleatendimento. Para atender os serviços relativos ao PIS, FGTS, Cartão Cidadão, atendimento ao cliente, cobrança e vendas de produtos e paga pouco mais de um salário mínimo para centenas de trabalhadores, que não têm direito ao piso e ao dissídio da categoria bancária, que não têm estabilidade, direito ao plano de saúde e não recebem PLR. Ainda assim, esses mesmos trabalhadores são cobrados pelos mesmos resultados como os de bancários, também atendem aos mesmos clientes, acessam os sistemas do banco e, além de tudo isso, não são responsabilidades da Caixa.

Para entender melhor como é essa realidade, entrevistamos uma trabalhadora deste serviço de teleatendimento para saber um pouco mais sobre o seu dia a dia:

ED: Em qual setor do atendimento ao cliente da Caixa você trabalha atualmente? Com quais serviços?

A.: Faço o atendimento ao cidadão como FGTS, Bolsa Família, FGTS SMS, FGTS Calamidade, PIS Empresarial, Abono Salarial, ativo, cobrança... De tudo um pouco, pois eles falaram que fomos contratados pra fazer "híbrido".

ED: Como é o seu dia a dia e as condições de trabalho no teleatendimento?

A.: O atendimento em si é tranquilo, o que acontece hoje é que a empresa fala uma coisa na segunda-feira e na sexta-feira faz outra. Eles têm pagado em dia o salário, porém alguns operadores têm faltas descontadas sem que haja realmente uma falta. Eles estão meio que obrigando as pessoas a trabalharem 9 horas por dia com 1 hora de almoço, dando a desculpa de que é pra ter direito a folga no fim de semana. Eles falam que vão fazer na segunda-feira a escala para a gente folgar no final de semana, e quando chega a sexta-feira, todos estão escalados. No sábado, a operação não suporta todos, aí eles dão folgas, mas não sabemos o que eles usam como critério, pois cada um fala uma coisa. Eles pedem pra fazermos mais horas, aí quando pedimos a folga, eles falam que é quando a empresa quiser e não quando precisamos. Na segunda-feira, eles pedem pra que façamos banco ou extra pra folgar no sábado e, quando chega na sexta-feira, eles colocam de folga outras pessoas que nem fizeram nada.

ED: Qual a sua opinião sobre a terceirização?

A.: Eu sou contra a terceirização do trabalho porque com ela não temos nenhuma garantia como a estabilidade e a luta pelos direitos, e qualquer um que desafiar a empresa expondo suas ideias pode ser demitido a qualquer hora. O trabalhador não é valorizado e os salários são reduzidos.

ED: O que você acha que os trabalhadores podem fazer pra enfrentar essa situação da terceirização e precarização do trabalho?

A.: A melhor solução seria se todos lutassem por melhorias, mas já vi que nem todos estão dispostos a lutar. Vejo lá na empresa muitos com medo de perder o emprego e ficar mal visto na empresa.

Entrevista realizada por Thais Oyola, delegada sindical da Agência Sé da Caixa.

 
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