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DEBATES
Sérgio Moro e Lava Jato: a tal saída pela esquerda de Luciana Genro?
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Exigem eleições gerais pra supostamente devolver o poder de decisão pro povo, mas pra punir e investigar está mais do que bom que seja Sérgio Moro, cidadão eleito a juiz por simplesmente ninguém.

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A última nota do Secretariado Nacional do Movimento de Esquerda Socialista, tendência do PSOL encabeçada por Luciana Genro aprofunda duas posições que já vinham se expressando: que Luciana Genro e a direção desta corrente não consideram que um impeachment tornaria pior a situação para os trabalhadores e o povo pobre, e que consideram que a Lava Jato é um marco histórico na luta contra a corrupção. Exigem eleições gerais pra supostamente devolver o poder de decisão pro povo, mas pra punir e investigar está mais do que bom que seja Sérgio Moro, cidadão eleito a juiz por simplesmente ninguém.

A nota começa de forma inacreditável. O Secretariado do MES busca fazer uma diferenciação entre golpe e impeachment, como se um impeachment não significasse uma manobra reacionária por dentro do regime burguês pra sequestrar a decisão de milhões de pessoas, deixando essa decisão na mão de algumas poucas centenas de políticos que decidiriam a saída ou não de um governo. Colocam isso pra deixar claro que caso se tratasse de um golpe militar se posicionariam contrários, mas como é apenas um impeachment então “tudo bem” e apresentam uma proposta: eleições gerais.

Para fundamentar esta posição se apoiam na OAB, no Poder Judiciário e no STF, pra dizer que estes seriam incapazes de aplicar qualquer tipo de golpe contra o governo. Como se OAB, Poder Judiciário e STF fossem organismos neutros, do “Estado Democrático de Direito”, como se não expressassem frações de classe, como se não fossem palco de inúmeros jogos e disputas burguesas que mudam a todo momento a depender dos interesses de cada um. Com estes argumentos tentam fazer parecer que o impeachment seria fruto apenas de um esgotamento e insatisfação do governo Dilma e não de um arquitetado plano da oposição de direita mais reacionária deste país, com apoio do imperialismo, pra levar ao poder um governo que possa implementar ataques e ajustes ainda mais duros do que os que o governo Dilma já está implementando.

Vale lembrar que este Poder Judiciário é parte integral do Estado burguês e das conspirações capitalistas contra os trabalhadores e o povo pobre. Trata-se de uma casta cumulada de privilégios financeiros, que vive como empresários e não é eleita por ninguém, cuja cúpula sobrevive desde os tempos da ditadura militar. É responsável pela quinta maior população carcerária do mundo, povoada de jovens negros que em sua maioria nem foram julgados, ligada a todo o aparato repressivo policial odiado pelas massas que saíram às ruas em junho de 2013, promovendo a impunidade desta corporação envolvida em chacinas contra a população da periferia todos os dias. Mas na lógica do MES, é a grande oportunidade da esquerda “se utilizar deste sistema penal violador” contra os empresários e a elite, fortalecendo esta instituição capitalista e confiando às mãos de Moro, da Polícia Federal e do Judiciário a defesa contra a corrupção de PT, PMDB e PSDB.

O PSOL, que inclusive ficou conhecido pela boca dos setores de direita como “linha auxiliar do PT”, agora leva adiante uma política por via de sua principal figura Luciana Genro que empalma muito mais com os setores de classe média que encheram a Avenida Paulista no dia 13 de março e com os próprios partidos da direita. É interessante notar, inclusive, a divisão que há no próprio PSOL, já que a maioria das figuras do partido tem se posicionado contra o impeachment, mesmo em nota oficial do PSOL, que não contava apenas com a assinatura de Luciana Genro e das figuras do MES e da Insurgência. Quanto à luta contra os ajustes, isso não era de se esperar neste momento, já que durante todos os últimos anos os parlamentares do PSOL foram uma ausência nos processos mais avançados de luta de classes da juventude e dos trabalhadores, se negando a construir com a força do seu partido, militantes e visibilidade uma alternativa independente dos trabalhadores. Ao contrário, o que predominou foi a participação do PSOL na Frente Povo Sem Medo, sem nenhuma exigência ou delimitação com a burocracia sindical que colabora na implementação dos ajustes do governo.

E agora predomina o projeto eleitoral de Luciana Genro e sua candidatura a prefeita de Porto Alegre. A proposta de eleições gerais, nada mais é do que dar uma saída por dentro deste regime que apenas dá uma cara mais de esquerda para o objetivo que a oposição de direita tem e que vem ganhando peso na "opinião pública", com quem não querem se enfrentar. O texto reivindica a proposta de eleições gerais encabeçada por Vladimir Pereira, militante combatente da ditadura militar que hoje tem relações próximos à REDE, de Marina Silva, que talvez por acaso tenha saído em primeiro lugar nas pesquisas pra eleições gerais agora e também por isso defenda esta política. O texto também apoia a posição do senadora Randolfe Rodrigues, também da REDE de Marina Silva, que segundo eles é “mandato revogatório”, mas nas palavras do próprio Randolfe seria as eleições gerais por via da “cassação da chapa Dilma/Temer”, ou seja, uma forma “mais democrática” de retirar o governo pela via do TSE. Randolfe ao propor isso também diz confiar na celeridade do Poder Judiciário. Vale ressaltar também que eleições gerais também é a política do PSTU acrescido da consigna "Fora todos" que empalma bastante com o sentimento da direita.

Com todos estes fundamentos, o MES tranquiliza a todos dizendo que não vai ter golpe. O que vai ter é impeachment. Mas que o verdadeiro golpe é contra a.. Lava-Jato! Luciana Genro não satisfeita em defender as investigações da Lava-Jato como o suprassumo da neutralidade e democracia, agora considera que o que está em curso no Brasil é um golpe contra a Lava-Jato. Pra não sujar tanto as mãos, no texto chega a dizer que é preciso ser “crítico” aos excessos de Sérgio Moro, mas que tudo bem já que agora estes excessos estão sendo cometidos contra a elite. Nem mesmo Vladimir Safatle, que vinha sendo um ponto de apoio às posições de Luciana Genro em relação à Lava Jato conseguiu se manter acrítico aos "excessos" de Sérgio Moro e se pronunciou fortemente contra Moro e a Lava Jato em sua coluna “O suicídio da Lava-Jato”. Será que Luciana Genro e sua corrente, tão preocupados em "não perder votos", teriam coragem de levar suas ideias até o final e dizer que a manifestação do dia 18 foi "a favor do golpe" contra a Lava-Jato?

Ou seja, para Luciana Genro e o MES não há nenhuma vergonha no fato de que este mesmo Sérgio Moro, herói da direita que saiu às ruas no dia 13 de março, seja também o herói desta esquerda de Luciana Genro, já que segundo a nota é ele quem está implementando um marco histórico na luta contra a corrupção. Mais adaptação impossível, e agora agradando bastante a mesma direita que chamava Luciana de "linha auxiliar" do PT.

De nossa parte nos posicionamos firmemente contra o impeachment, pois de forma alguma consideramos que esta ação manteria tudo na “normalidade” como quer fazer acreditar o MES. Ao mesmo tempo não temos um pingo de confiança neste Poder Judiciário burguês, com juízes eleitos por ninguém, cheios de privilégios e com interesses mil por trás. A Operação Lava Jato nada mais é do que corruptos buscando investigar corruptos e por isso não devemos ter nenhuma ilusão nela. Compartilhamos do sentimento de ódio que muitos jovens e trabalhadores tem expressado contra esta direita reacionária, e ao mesmo tempo nos posicionamos fortemente contra todos os ataques deste governo e as manobras pra fortalecer o projeto de um novo governo com Lula à frente que consiga recompor o PT no poder pra seguir atuando contra os trabalhadores. Esta é a única posição independente que é possível ter neste momento, e por isso lutamos por um movimento nacional contra os ajustes e a impunidade dos poderosos que imponha uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, e por isso exigimos que as centrais sindicais rompam sua colaboração com o governo imediatamente pra organizar a luta dos trabalhadores e da juventude. Uma Assembléia Constituinte que possa punir os corruptos, eleger os juízes, decidir os salários dos políticos e impor a revogabilidade de todos os mandatos. Lutando por uma democracia muito mais generosa do que essa, que nada tem a ver com “eleições gerais”, os trabalhadores e a juventude poderão fazer experiência com os próprios limites da democracia e avançar na luta pra um verdadeiro governo operário que rompa com a exploração capitalista e o imperialismo.

 
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